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Nº 200/SUMÁRIO




Editorial

Esta é a edição número 200 da PÁGINA, uma edição de primavera produzida sob o signo da utopia e numa altura em que a vida nacional é atravessada por sucessivas marés de indignação. Ora, conforme lembrava Stéphane Hessel, o autor de “Indignai-vos!”, recentemente falecido, não existe indignação consistente sem trabalho de idealização antropológica e sem disponibilidade de compromisso. Mais do que a referência a narrativas sobre outros mundos possíveis, o que nos interessa aqui sublinhar é justamente o papel da “função utópica” enquanto procura perseverante das razões que nos fazem caminhar, mas caminhar sabendo para onde desejamos ir.

Isabel Baptista





O recente falecimento do músico indiano Ravi Shankar deixa-nos um legado intemporal. Graças à sua imensa obra, temos acessível um valioso manancial de música, mas também uma filosofia de vida.

Franklin Pereira





Os sinos e as campainhas acompanham o Homem desde tempos imemoriais, tendo estado sempre presentes nos momentos mais importantes da sua vida. Produzindo determinados sons, com diferentes usos e funções, são indissociáveis dos ciclos vitais, não raro, assumindo funções rituais e usos mágicos.

Mário Correia





Há muitas zonas de Portugal cuja beleza tem de ser reconhecida. Mas para mim, que sou um pobre de deus que fica meses a fio a ansiar pelas primeiras chuvas, o triângulo Viana do Castelo, Ponte de Lima, Valença é inigualável.

Salvato Teles de Menezes





Tentei estabelecer diferenças e afinidades entre estes três livros, todos datados. Dois dos anos setenta, um dos anos noventa. Nos três se procura saber como nos posicionamos – nós, portugueses – enquanto hóspedes mais ou menos tolerados “sob céus estranhos” 

Júlio Conrado





As estreias simultâneas de “The Master” (Paul Thomas Anderson), “Lincoln” (Steven Spielberg), “Django Unchained” (Quentin Tarantino) e “Zero Dark Thirty” (Kathryn Bigelow) trouxeram Hollywood novamente para primeiro plano. A época dos Oscars garante a colheita de filmes mais sérios do que Hollywood nos tem habituado. O nível do cinema de entretenimento é de tal maneira baixo que os filmes que entram na competição (os adultos, como dizem os americanos) são muito raros. Para chegar a “Lincoln”, Spielberg teve de fazer “Indiana Jones 4” e “War Horse”, Anderson teve de produzir ele próprio, Bigelow de comer o pão que o diabo amassou antes do sucesso surpresa de “Hurt Locker”, e Tarantino não tem a respeitabilidade nos States que tem na Europa. Mas os filmes aí estão, e é com coragem que enfrentam a história do seu país, de modo edificante, mas complexo (Spielberg), onírico, mas seco (Anderson), divertido, mas brutal (Tarantino), jornalístico, mas problemático (Bigelow).

Paulo Teixeira de Sousa





São 50 anos de histórias, de obras, de lutas. 50 anos a manter na cidade do Porto um espaço de liberdade, de partilha de ideias e de conhecimentos, e a levar essa criatividade ao resto do país e ao mundo. Em abril de 1963, um grupo de cidadãos que atuavam em várias vertentes da sociedade – artistas plásticos, escultores, advogados, arquitetos, engenheiros, entre outros – decidiu criar um ponto de encontro onde todos se pudessem expressar de várias formas e em liberdade. Assim nasceu esta Árvore, de raízes bem presas e com troncos tão frondosos que parece que nunca vão deixar de crescer...

Maria João Leite

 





Estão confirmadas cerca de 50 competições desportivas, em 38 modalidades diferentes. Vão ser 90 dias de atividade, com mais de 26 mil atletas participantes.

Maria João Leite





Os nossos queridos governantes, a fim de mostrarem serviço, continuam a legislar peças antipedagógicas, intimidatórias e da mais profunda inutilidade. Os símbolos olímpicos protegem-se pela educação e pela cultura, e não pela repressão.

Gustavo Pires





Desde sempre o Homem manifestou enorme fascínio pelo sangue. No entanto, o primeiro responsável pela interpretação do seu significado foi o médico austríaco Karl Landsteiner (1868/1943), distinguido com o Nobel da Fisiologia/Medicina de 1930 pela classificação dos grupos sanguíneos.

Departamento de Conteúdos Científicos do Visionarium





Há ideias que impregnam toda a discussão minimamente séria sobre o tempo em que vivemos. Não porque estejam inerentemente subjacentes aos verdadeiros problemas da sociedade contemporânea, mas porque têm um poder algo hipnótico, e sobretudo porque reduzem os problemas a um conjunto de causas que, sob a ótica dos que detêm o poder, são mais consentâneas com os seus interesses económicos, convicções religiosas e conveniências políticas.

Orfeu Bertolami





As escolas estariam a proteger a saúde de crianças e jovens e a contribuir para um menor custo com a saúde, se ensinassem os alunos a escolher merendas saudáveis e a prepará-las.

Débora Cláudio





Se os mais novos possuem conhecimento tecnológico, os educadores possuem conhecimento prático. Se os mais novos conhecem as suas práticas em acelerada mutação, os educadores podem (re)situá-las através de perguntas imutáveis.

Rui Tinoco

 





O facto de os jovens não se sentirem ‘caídos nas redes’ não quer dizer que não tenham receios na sua utilização. Estes receios, juntamente com o que referem não fazer, ou ter dificuldade em fazer, indicam a necessidade de um trabalho de literacia mediática, para o que a escola é um dos contextos mais propícios.

Sara Pereira





Esta constitui uma das principais tarefas que temos de concretizar ao longo dos próximos anos, de modo a que os Finantial Times venham a ser, apenas, uma má recordação e não um pesadelo.

Manuel António Silva





“Este é um tempo confuso, tão desconcertante e que tanto assusta e magoa de manhã à noite. Fomos enganados… e tudo por culpa de Cristo, da angelical boa fé de Cristo. Como escreveu Miguel Bauçã: Finalmente, provou-se, os camelos conseguem passar pelo estreito fundo de uma agulha. Venceram o desafio que lhes lançou Cristo, com uma surpreendente facilidade. Cristo não teve em conta a grande perícia dos camelos”.

André Escórcio





Tem-se discutido, nos últimos tempos, se o Salazarismo (ou “regime de Salazar-Caetano”, como disse Rómulo de Carvalho) foi ou não Fascismo. Pela classificação tradicional, foi.

Carlos Mota





Olhando e ouvindo hoje o que dizem e fazem os nossos “pregadores” dos púlpitos da política e das tribunas do poder, não será imperioso questionar onde o passado se termina e o futuro começa?

Leonel Cosme

 





Ya es hora de comenzar a valorar lo que perdemos, en los des-encuentros y en los afectos, en la vida en común y en sus convivencias: un hacer cívico al que la educación no puede ni debe renunciar. Menos aún cuando no dejan de invitarnos a la mansedumbre y a la resignación. Digamos no!

José A. Caride Gómez

 





Da melancolia ao esboço de bases para um outro modo de existir quotidiano, alternativo às alternativas já consagradas. Inquietação do pensamento e ação no contratempo.

Ivonaldo Leite





Este tema tem raízes muito profundas, mormente no terreno ético, e envolve valores, concepções de vida, de responsabilidade, de reciprocidade, de consciência social, entre muitos outros.

Rosa Hessel Silveira





A noção de “decrescimento” coloca radicalmente em causa o conceito de “desenvolvimento”, que deixou de ser solução e passou a constituir um problema. Tornaram-se evidentes alguns dos seus efeitos perversos, quer em termos das desigualdades sociais, quer em termos dos danos causados ao ambiente. 

Rui Canário





O tempo corre tão célere e tão preenchido de surpresas que já não consigo saber nem quando, nem como, nem quem falou da (seria necessidade?) de refundação do Estado social. Depois disso, mas nem sempre a propósito disso, tem-se assistido a um desfiar de opiniões, análises e prognósticos que chamam a atenção para conceções e visões sobre práticas tão díspares que, em permanência, permitem fazer passar da refundação à re(a)fundação.

Fernanda Rodrigues





Stéphane Hessel nasceu em Berlim, em 20 de outubro de 1917, no seio de uma família judia convertida ao luteranismo. Em 1925 foram viver para França, tendo obtido a nacionalidade francesa em 1937. Aquando da ocupação nazi, juntou-se à Resistência francesa. Detido em 1944, torturado e enviado para um campo de concentração, conseguiu evadir-se no dia em que completou 27 anos.

Stéphane Hessel





Talvez os palhaços tenham o que fazer nas escolas, pois não basta reformular ou criar novos currículos, precisamos trabalhá-los como diferentes práticas/teorias/práticas.

Carina d’ Ávila






A minha professora é o máximo, tio. Não é nada parecida com a do ano passado. É mesmo fixe!... Não é que seja muito boazinha, nem pensar! Fica mesmo zangada se não fazemos o que combinámos, ou se fazemos batota, ou se não temos cuidado com as nossas coisas, ou se nos esquecemos dos livros ou dos cadernos. Mas é muito fixe, mesmo. Nunca se zanga quando não nos saem bem os trabalhos, à primeira. E se estamos a protestar uns com os outros, ela é sempre muito justa e ajuda-nos a resolver os nossos problemas. É mesmo fixe…

Angelina Carvalho





A jovem que atende os clientes está de férias. O novo dono da microempresa continua mais algum tempo acordado, atendendo os primeiros fregueses. Com o olho treinado de padeiro que avalia a quantidade de sal e fermento necessários para produzir o pão que vende, ainda morno, de madrugada, todos os dias, escrutinou-me. Depois, desejou-me “bom serviço”, já eu estava a dar meia volta para sair, e não o mais comum “bom trabalho”.

Pascal Paulus





Alheias aos trágicos efeitos das suas práticas, as escolas ‘normais’ vão entupindo a memória dos alunos com informações que eles não relacionam com o mundo real. Vão preparando projetos para os alunos, quando deveriam construir projetos com os alunos.

José Pacheco





Cada escola, pública ou privada, é um caso. Há que analisar e que estar disposto a trabalhar de variadíssimas formas. O tempo dos professores que só debitavam matéria em cima de um estrado já acabou. Há que estar abertos à mudança, ao diálogo, à experimentação em conjunto, mas também à análise e à crítica construtiva, ou seja, à avaliação

José Rafael Tormenta

 





Por la mediación de Giner, el republicano portugués va a conocer y a generar un círculo amplio de contactos com figuras de la pedagogía española. Este cupo de pensadores, pedagogos, educadores, de espíritu racionalista y tolerante, se erige en un exponente brillante y cualificado de una concepción republicana de la educación.

José M. Hernández Díaz






São cinco as escolas, com cerca de 1100 alunos, que compõem o Agrupamento Fernando Távora, em Fermentões, na periferia de Guimarães. Em 2008, foram detetados sinais que poderiam levar à diminuição da taxa de sucesso escolar, a problemas de indisciplina e ao abandono escolar, pelo que a direção candidatou-se, como medida de prevenção, ao Programa TEIP. Esses recursos, o envolvimento com a comunidade e a capacidade de trabalho já adquirida são as grandes ferramentas usadas no caminho para o sucesso escolar.

Maria João Leite
Ariana Cosme
Rui Trindade





Junta alunos com mais posses com os mais carenciados, mas o maior número é dos que vivem em meios de nível socioeconómico mais baixo. E o volume dos que procuram o Serviço de Apoio Social Escolar (SASE) vai aumentando. A crise causa instabilidade familiar e isso, de uma maneira ou de outra, vai-se refletindo nas escolas. No Agrupamento de Matosinhos há projetos em prática para dar uma resposta diária na luta contra a exclusão e problemas como a indisciplina e o absentismo. E neste combate os recursos TEIP são essenciais.

Maria João Leite





Os Territórios Educativos de Intervenção Prioritária (TEIP) foram criados pelo Despacho nº 147-B/ME/96, do Ministério da Educação, liderado por Marçal Grilo, no governo socialista de António Guterres. Na base do programa está a promoção da igualdade de acesso e de sucesso educativo de todos os alunos, em especial das crianças e jovens em situações de risco de exclusão social e escolar. Um pouco por todo o mundo, assistia-se à transformação das fórmulas educativas, através de um processo de territorialização, favorecendo as crianças de meios socioeconómicos carenciados. Nos anos 60, países como a Austrália, os Estados Unidos da América, a Inglaterra e os Países Baixos avançaram com programas de educação compensatória; nos anos 80, em França, foram criadas as Zones d’Education Prioritaires; em Portugal, desde a década de 80 começaram também a ser postas em prática algumas medidas, como o PIPSE (Programa Interministerial de Promoção do Sucesso Educativo), as Escolas de Intervenção Prioritária ou o Programa Educação para Todos (PEPT).

Maria João Leite





Como é que num momento de crise económica alimentada pelo fracasso do neoliberalismo a solução é mais neoliberalismo?! Mas é assim! No setor universitário, a privatização de serviços não académicos é o novo mantra. 

Mario Novelli





Um teste ao rumor generalizado de que as escolas privadas beneficiam os seus alunos na atribuição de notas confirma a situação e dá-lhe uma expressão quantitativa, configurando uma injustiça tanto mais grave quanto continuada ao longo de anos.

Tiago Neves
Maria João Pereira
Gil Nata





Muitos aprenderam muito mais do que se poderia prever, ganharam outra consciência de si e dos conhecimentos de que eram portadores, ganharam gosto e vontade de novas aprendizagens e, alguns, candidataram-se e entraram no Ensino Superior.

Teresa Medina





Criação de exames suplementares pode significar, implicitamente, o reforço e a valorização de uma pedagogia que não parte do aluno nem tem, muitas vezes, a intenção de a ele chegar.

David Rodrigues





Independentemente das restrições orçamentais, o cumprimento da escolaridade obrigatória pode constituir uma efetiva oportunidade de melhoria do sistema educativo e formativo ou ser mais uma oportunidade perdida ou adiada.

Domingos Fernandes





Em Portugal não há educação a mais. Há, sim, desenvolvimento a menos. A procura do equilíbrio desejável entre estas variáveis exigiria a continuação e o aprofundamento do percurso já feito pela Escola Pública. Mas, ao contrário, os factos indiciam a possibilidade de recuos significativos nesse caminho.

Carlos Cardoso





Uma escola que define a qualidade do seu ensino por uma visão enciclopédica de um conhecimento cuja utilidade se esgota nos testes serve, afinal, para quê?

Ariana Cosme 
Rui Trindade

 





La escuela goza de muy poca autonomía. Lo cual parece indicar que se gobierna desde una doble desconfianza. Los profesionales que trabajan en ella no lo saben hacer, por lo que es necesario mandárselo. Y, además, esos profesionales no lo quieren hacer y hay que obligarles a que lo hagan. Hay que proteger a los más débiles, a los más desfavorecidos, porque no hay calidad sin equidad. En otras palabras: hay que salvar la escuela pública, que es la causa de la justicia de un país.

Miguel A. Santos Guerra





FÁTIMA VIEIRA

“A utopia é sempre rutura com o presente. Nós costumamos falar em discurso ideológico, que é o discurso dominante, e discurso subversivo, que é o discurso utópico. A utopia tenta sempre transformar e, ao transformar, tenta sempre romper com o presente. E é importante que se mantenha sempre esta ideia de rutura com o presente, porque a partir do momento em que a utopia se transforma em ideologia, deixa de ser utópica. Daí o interesse, até, em que as utopias não sejam verdadeiramente concretizadas, na medida em que sejam constantemente reformuladas. Porque a partir do momento em que a utopia é realizada, torna-se estática. E a utopia é exatamente ao contrário.”

Entrevista conduzida por António Baldaia


  
A Página impressa
Edição N.º 200, série II
Primavera 2013


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