Página  >  Edições  >  Edição N.º 200, série II  >  Literacia Mediática

Literacia Mediática

Se os mais novos possuem conhecimento tecnológico, os educadores possuem conhecimento prático. Se os mais novos conhecem as suas práticas em acelerada mutação, os educadores podem (re)situá-las através de perguntas imutáveis.

As tecnologias possibilitam uma série de novos gestos e potencialidades. Aceleram o conhecimento. Deste modo, os mais novos são frequentemente aqueles que entram em contacto com emergentes ambientes tecnológicos e virtuais. Evocamos aqui a noção de conhecimento prático proposta por Rauner. Questiona o autor que as “vertiginosas mudanças do processo de trabalho” – causadas pelas exigências do mercado, mas também pelas plataformas informáticas em constante mutação, acrescentamos nós – desvalorizam de forma irremediável o conhecimento prático.
Apropriamo-nos, assim, do conceito de Rauner, tecido a propósito da formação profissional de adultos, para o transpor – e de alguma forma atraiçoar – para a área da educação, para um uso saudável das novas tecnologias. Trata-se de assinalar o paradoxo educativo tantas vezes presente nesta área. Se os mais novos possuem um conhecimento tecnológico, e principalmente um conhecimento da apropriação juvenil dessas tecnologias, o educador possui um conhecimento prático – no sentido de as contextualizar numa arte de existir (Politzer). De outra forma, ainda, se os mais novos conhecem as suas práticas em acelerada mutação, os educadores podem (re)situá-las através de perguntas imutáveis: o que é a amizade?; o que pretendo de uma relação afetiva?
É este o paradoxo que pretendemos sublinhar. Se as práticas mudam com celeridade, se os suportes tecnológicos que as enquadram continuamente se transfiguram, também existe muito que permanece. As tarefas desenvolvimentais que a psicologia do desenvolvimento assinala para a adolescência, por exemplo, a relação com o grupo de pares, as questões amorosas, o problema do corpo, enfim, a construção de uma identidade, continuam a possuir a máxima premência.
Assim, as tecnologias não devem desviar a atenção para estas problemáticas fundamentais. Depois, existe também a obrigação da atualização científica. Neste campo, multiplicam-se os escritos sobre as consequências de certas práticas – e é aqui que é fundamental acumular conhecimento: o uso excessivo de redes sociais correlaciona-se com depressão?; a inclusão da televisão nas rotinas para adormecer os mais novos tem efeitos contraproducentes?; o “excesso de ecrãs” está na origem de uma nova epidemia de défice de atenção e hiperatividade? Trata-se, no fundo, de uma área emergente da Educação para a Saúde, da Educação em geral, e também para a clínica, pois impõe-se no tratamento dos casos disfuncionais que surgem e surgirão. Se os mais novos possuem conhecimento tecnológico, os educadores possuem conhecimento prático. Se os mais novos conhecem as suas práticas em acelerada mutação, os educadores podem (re)situá-las através de perguntas imutáveis.

Rui Tinoco


  
Ficha do Artigo
Imprimir Abrir como PDF

Edição:

Edição N.º 200, série II
Primavera 2013

Autoria:

Partilhar nas redes sociais:

|


Publicidade


Voltar ao Topo