Se os mais novos possuem conhecimento tecnológico, os educadores possuem conhecimento prático. Se os mais novos conhecem as suas práticas em acelerada mutação, os educadores podem (re)situá-las através de perguntas imutáveis.
As tecnologias possibilitam uma série de novos gestos e potencialidades. Aceleram o conhecimento. Deste modo, os mais novos são frequentemente aqueles que entram em contacto com emergentes ambientes tecnológicos e virtuais. Evocamos aqui a noção de conhecimento prático proposta por Rauner. Questiona o autor que as “vertiginosas mudanças do processo de trabalho” – causadas pelas exigências do mercado, mas também pelas plataformas informáticas em constante mutação, acrescentamos nós – desvalorizam de forma irremediável o conhecimento prático. Apropriamo-nos, assim, do conceito de Rauner, tecido a propósito da formação profissional de adultos, para o transpor – e de alguma forma atraiçoar – para a área da educação, para um uso saudável das novas tecnologias. Trata-se de assinalar o paradoxo educativo tantas vezes presente nesta área. Se os mais novos possuem um conhecimento tecnológico, e principalmente um conhecimento da apropriação juvenil dessas tecnologias, o educador possui um conhecimento prático – no sentido de as contextualizar numa arte de existir (Politzer). De outra forma, ainda, se os mais novos conhecem as suas práticas em acelerada mutação, os educadores podem (re)situá-las através de perguntas imutáveis: o que é a amizade?; o que pretendo de uma relação afetiva? É este o paradoxo que pretendemos sublinhar. Se as práticas mudam com celeridade, se os suportes tecnológicos que as enquadram continuamente se transfiguram, também existe muito que permanece. As tarefas desenvolvimentais que a psicologia do desenvolvimento assinala para a adolescência, por exemplo, a relação com o grupo de pares, as questões amorosas, o problema do corpo, enfim, a construção de uma identidade, continuam a possuir a máxima premência. Assim, as tecnologias não devem desviar a atenção para estas problemáticas fundamentais. Depois, existe também a obrigação da atualização científica. Neste campo, multiplicam-se os escritos sobre as consequências de certas práticas – e é aqui que é fundamental acumular conhecimento: o uso excessivo de redes sociais correlaciona-se com depressão?; a inclusão da televisão nas rotinas para adormecer os mais novos tem efeitos contraproducentes?; o “excesso de ecrãs” está na origem de uma nova epidemia de défice de atenção e hiperatividade? Trata-se, no fundo, de uma área emergente da Educação para a Saúde, da Educação em geral, e também para a clínica, pois impõe-se no tratamento dos casos disfuncionais que surgem e surgirão. Se os mais novos possuem conhecimento tecnológico, os educadores possuem conhecimento prático. Se os mais novos conhecem as suas práticas em acelerada mutação, os educadores podem (re)situá-las através de perguntas imutáveis.
Rui Tinoco
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