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Salazarismo e fascismo(s)

Tem-se discutido, nos últimos tempos, se o Salazarismo (ou “regime de Salazar-Caetano”, como disse Rómulo de Carvalho) foi ou não Fascismo. Pela classificação tradicional, foi.

O Fascismo é uma ditadura de partido único, sem eleições ou com farsas eleitorais, na qual o cidadão é médico, operário ou agricultor, mas não é agente político, porque a política é muito ‘difícil’ de entender e fica reservada aos membros do tal partido único. No Fascismo, há medo da polícia e das autoridades em geral, há manias imperialistas e racismo, há desprezo pela ordem internacional, há até a noção de que a guerra pode ser um fim glorioso para a Nação. No Fascismo, a mulher tem o seu lugar na cozinha, com as crianças ou na igreja, como definiu o Nazismo – um fascismo radical. Era a trilogia Kuche, Kinder, Kirche. A Democracia burguesa, parece hoje cada vez mais evidente, terá sido o maior avanço que a humanidade conseguiu. Isto não é retornar a Fukuyama, nem isso interessa. Interessa pensar na ‘refascização’ do mundo, com a aliança do grande capital ao Partido Comunista Chinês. O dito comunismo revelou-se extremamente eficaz a industrializar rapidamente uma sociedade. Tal sucedeu no Estalinismo e sucede agora na China. Enquanto Fascismo e Comunismo parecem ser diferentes, dado que nesses regimes os fins justificam os meios, produzem-se aberrações. Não se pode construir uma sociedade nova com campos de trabalhos forçados na Sibéria: os meios, de tão horríveis, geram um resultado igualmente mau. A Democracia tem o princípio na razão humana, na ausência de violência para a alternância do poder, na possibilidade de pensar de forma crítica, de dizer não. Quando nos batem à porta às cinco da manhã, não pensamos na PIDE, que já acabou. Na Rússia de hoje, também não há KGB de madrugada.
O fascismo de Salazar não foi igual ao de Mussolini, Hitler, Franco, Perón ou Pinochet. Os modelos sociais humanos não são clones uns dos outros. Os regimes que seguiram o ‘Comunismo’ também não foram todos iguais, como réplicas. O que interessa são as características fundamentais, o resto são ‘variações em dó maior’.
Hoje, o ‘comunismo’ chinês é o maior amigo do capital mundial, porque é fiel a si mesmo. Na China há mais do que um partido? Discute-se ou não? Tem-se medo ou não? Há greves?
O sistema educativo tem algo a ver com estas questões. Em primeiro lugar, devemos educar para a inovação e não para o conformismo.
Quantos de nós não passaram já pela ‘curiosa’ sensação de perceber que qualquer crítica que façam no local de trabalho é vista com ‘perigosa’?
Sem espírito crítico, capacidade de perguntar, não haveria ciência – o caso da maçã e de Newton é uma ilustração excelente. Os professores ao serviço de um pensamento totalitário ‘ensinam’ aos seus alunos o que pensar. Os professores com espírito democrático devem tentar ensinar os seus alunos a pensar. Assim como é ridículo dizer que Salazar foi como Hitler (porque não foi), também é ridículo e falso querer fazer dele um democrata zelador do Povo (sempre em seu nome). O totalitarismo estava nos seus objetivos.
O regime totalitário quer decidir tudo, da composição populacional a pormenores como se as mulheres podem usar calças e, em caso afirmativo, quais. Há muitas variantes de totalitarismo – como os regimes islâmicos radicais – e há o perigo de um regresso do Fascismo pela ‘relocalização’ de fábricas, emprego e riqueza nesse paraíso chamado República Popular da China.

Carlos Mota


  
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Edição:

Edição N.º 200, série II
Primavera 2013

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