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Agrupamento de Escolas de Matosinhos Espírito de missão

Junta alunos com mais posses com os mais carenciados, mas o maior número é dos que vivem em meios de nível socioeconómico mais baixo. E o volume dos que procuram o Serviço de Apoio Social Escolar (SASE) vai aumentando. A crise causa instabilidade familiar e isso, de uma maneira ou de outra, vai-se refletindo nas escolas. No Agrupamento de Matosinhos há projetos em prática para dar uma resposta diária na luta contra a exclusão e problemas como a indisciplina e o absentismo. E neste combate os recursos TEIP são essenciais.

São quatro as escolas que constituem o Agrupamento de Escolas de Matosinhos, frequentadas por mais de dois mil alunos, do Pré-Escolar ao 9º ano.
Só na sede, EB2/3 de Matosinhos, há cerca de 1500 estudantes, grande parte deles de meios socioeconómicos desfavorecidos, com problemas como a pobreza e a exclusão social. “Aqui há bairros ricos e bairros pobres. As famílias de Matosinhos Sul, a zona rica, também têm cá alunos, pelo menos até ao fim do 2º Ciclo.
Em paralelo, temos um meio socioeconómico muito pobre, temos alunos de bairros carenciados [dos Pescadores, da Biquinha, da Cruz de Pau e até de Aldoar, no Porto]”, começou por explicar à PÁGINA Branca Valente, coordenadora do agrupamento, acrescentando que a maioria dos alunos são carenciados. “Todos os dias temos gente nova a entrar no SASE.”
A crise é um problema “grave” e tem-se sentido nas escolas, “até na alimentação” das crianças. Nas cantinas são servidas centenas de refeições. E a escola vai tentando ajudar de várias formas. “No ano passado começámos um projeto solidário, demos cabazes no Natal e Páscoa e este ano fizemos a mesma coisa. Fizemos recolha de alimentos e inclusivamente fizemos uma quermesse para angariação de fundos e demos senhas de talho. Temos muitas famílias carenciadas”, relata a coordenadora.
À instabilidade e às carências familiares podem juntar-se outros problemas, como a indisciplina, o risco de abandono e o insucesso escolar.

Melhorar no ranking, piorar na disciplina

Numa tentativa de dar resposta às necessidades de apoio em termos de recursos humanos, o agrupamento candidatou-se ao Programa TEIP, que integra desde 2005.
Um dos problemas da escola “é a transição do segundo para o terceiro ciclo”, refere Branca Valente, adiantando que houve necessidade de se constituírem assessorias a Português, Matemática e Inglês. Na área das aprendizagens, por exemplo, a escola tinha já em funcionamento o projeto GIS (Grupo de Intervenção para o Sucesso), através do qual cada professor dava apoio semanal aos alunos, nas horas não letivas. Mas era preciso mais. “O GIS é uma mais-valia grande, que nós mantemos com muita dificuldade.”
Apesar dos alunos com baixo rendimento escolar, das turmas com percursos alternativos – aos quais a escola sempre tentou apresentar uma resposta –, há alunos com notas excelentes que no 3º Ciclo não mudaram para as escolas secundárias locais, Augusto Gomes e João Gonçalves Zarco. A saída de muitos alunos, atraídos pelas escolas secundárias, fazia com que muitos dos que ficavam na EB2/3 de Matosinhos fossem os que tinham pior aproveitamento. “Nós ficávamos com os alunos mais fracos. E também foi isso que nos fez investir mais nas assessorias”, afirmou a coordenadora. Ainda assim, no 9º ano, existe agora uma turma cuja média “deve rondar o 5”. “Nós também conseguimos ficar com bons alunos e este ano vamos subir no ranking das escolas”, frisou. Mas, por outro lado, “vamos piorar na disciplina”.

Trabalho que dá frutos

O agrupamento tem vários projetos em funcionamento, para fazer frente a problemas como a indisciplina e o absentismo, por exemplo. No 1º Ciclo, está a ser feito um projeto de intervenção com as famílias, através da assistente social, e nos recreios há animação, “porque uma das coisas que queremos é que aprendam a brincar para diminuir a indisciplina”.
Para combater este problema, o agrupamento conta também com a Academia Radical. Lá, os alunos podem praticar vários desportos radicais, como surf ou BTT, mas apenas se apresentarem resultados. Funciona como um estímulo e a gestão é feita em parceria com o diretor de turma e a Equipa de Mediação Integrada (EMI) – um recurso TEIP composto por educadoras sociais. “A prática destas alternativas radicais está condicionada aos comportamentos e à apresentação de resultados. É assim que funciona. E eles gostam, de uma forma geral.” Este é um projeto que decorre em paralelo com o Desporto Escolar, que tem várias modalidades, como o futebol ou o badminton.
Entre outros apoios, a escola tem um Gabinete do Aluno, para onde este vai quando o professor dá ordem de saída da sala de aula. Mas para os casos mais graves, a EMI criou uma espécie de “gabinete da indisciplina”. Este ano, a escola já registou algumas situações de violência em que a PSP foi chamada a intervir, situações causadas por conflitos relacionados com namoros, por exemplo, e já se teme que haja alguns problemas relacionados com a droga.
Um outro problema detetado prende-se com a dicção e dificuldades na fala. Apesar de ainda não ter conseguido avançar com a contratação, o agrupamento vai dispor de terapia da fala. “Claro que se nota mais no Pré-Escolar e no 1º Ciclo, e é aí que temos de atalhar, é aí que o problema tem de ser trabalhado.”
As respostas necessárias no combate aos problemas nas escolas são dadas com projetos e com ações, através dos recursos do agrupamento e dos recursos provenientes do Programa TEIP. E o trabalho tem dado resultados. “Na experiência de anos anteriores, a resposta tem sido francamente positiva. Nós fazemos uma avaliação final e, de uma forma geral, os alunos intervencionados têm uma taxa de sucesso grande. O trabalho dos técnicos surte efeito, não há dúvida”, considera a coordenadora, adiantando que este apoio é uma mais-valia. “Por isso é que fazemos candidaturas em cima de candidaturas.”

TEIP é mais-valia

O Agrupamento de Escolas de Matosinhos mantém uma relação de proximidade com as instituições locais.
A começar por aquelas que acolhem alguns dos seus alunos: Obra do Padre Grilo, Colégio Nossa Senhora da Conceição, Lar Santa Cruz e Casa Abrigo da Cruz Vermelha Portuguesa.
Há partilha de experiências, de iniciativas, e participação. Por exemplo, alguns professores vão às festas dos alunos nas instituições e os educadores das crianças e jovens institucionalizados marcam presença nas iniciativas do agrupamento.
Outras instituições com que o agrupamento se relaciona são a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens, a PSP (através do programa Escola Segura) e a Junta de Freguesia. São relações “importantes”, até porque, havendo envolvimento, a comunidade pode mais facilmente reconhecer valor e importância à escola. Impressões que podem contrariar a imagem menos boa que pode ser causada por episódios, alguns deles que acontecem na rua, em espaço público. A missão de combate ao insucesso e à exclusão social está a ser cumprida.
“O agrupamento tem esse espírito de missão, de combate. Tem feito tudo o que pode”, sublinha a coordenadora. A integração no Programa TEIP decorreu com normalidade e depois de entendida a dinâmica de trabalho tudo funciona normalmente. Há muita partilha e participação. Os técnicos estão presentes nos conselhos de turma e nos conselhos de equipa, tal como nas reuniões de avaliação, por exemplo.
Os recursos que chegam do Programa TEIP são uma mais-valia para o agrupamento. “A escola sabe que precisa cada vez mais de recorrer a profissionais com mais valências que não apenas o professor. Nós precisamos de recursos humanos”, até porque há, por exemplo, diretores de turma que “extrapolam as suas funções”. Mesmo os técnicos que atuam no agrupamento “desdobram-se” no trabalho. “Eu acho que não sobrevivíamos sem os recursos que o TEIP nos dá”, concluiu Branca Valente.
Agrupamento FernandoTávora - Prevenir para não ter de remediar São cinco as escolas, com cerca de 1100 alunos, que compõem o Agrupamento Fernando Távora, em Fermentões, na periferia de Guimarães. Em 2008, foram detetados sinais que poderiam levar à diminuição da taxa de sucesso escolar, a problemas de indisciplina e ao abandono escolar, pelo que a direção candidatou-se, como medida de prevenção, ao Programa TEIP. Esses recursos, o envolvimento com a comunidade e a capacidade de trabalho já adquirida são as grandes ferramentas usadas no caminho para o sucesso escolar.

Maria João Leite


  
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Edição:

Edição N.º 200, série II
Primavera 2013

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