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Os adolescentes e as redes sociais

O facto de os jovens não se sentirem ‘caídos nas redes’ não quer dizer que não tenham receios na sua utilização. Estes receios, juntamente com o que referem não fazer, ou ter dificuldade em fazer, indicam a necessidade de um trabalho de literacia mediática, para o que a escola é um dos contextos mais propícios.

No dia 5 de fevereiro celebrou-se, pela décima vez, o Dia da Internet Segura, este ano dedicado ao tema Direitos e responsabilidades online e com o slogan “Liga-te com respeito”. A instituição e a comemoração destes dias tornam-se necessárias, neste caso, pela forma como os media estão hoje presentes na sociedade e pelo modo como habitam os quotidianos das pessoas. Digamos que se pretende promover a reflexão e a discussão sobre a relação que estabelecemos com os media, procurando alertar para a importância de um uso crítico, responsável e esclarecido, competências que podem ser desenvolvidas através de um trabalho de educação ou literacia para os media. Uma vertente importante deste tipo de iniciativas pode ser, por exemplo, ouvir as pessoas sobre o modo como percecionam o papel dos media nas suas vidas. A investigação pode ser um bom meio para fazer este levantamento e análise.
Foi precisamente com o objetivo de conhecer os usos que os adolescentes fazem dos meios digitais, em particular da internet e das redes sociais, e de conhecer as suas perceções sobre a importância que esses meios assumem nas suas vidas e nas relações com os outros, que implementámos um estudo que envolveu estudantes do 7º, 8º e 9º anos de escolaridade, com idades compreendidas entre os 13-18 anos. Através de um inquérito online foi possível recolher a opinião de mais de cinco centenas de estudantes de uma escola pública (N=207) e de um colégio privado (N=306) do distrito do Porto.
De um modo geral, os resultados mostram que, com exceção de um aluno, todos os estudantes da amostra têm acesso à internet, sendo a casa o local em que mais acedem e usam este meio, seguindo-se a escola (referida por 178 alunos).
Estes estudantes são também utilizadores assíduos das redes sociais: em 371, apenas 29 referem não as utilizar. O Facebook é a rede preferida, como seria expectável se atendermos aos indicadores nacionais, e até mesmo internacionais. A maioria dos estudantes considera que as redes sociais são, em primeiro lugar, um meio de comunicação entre as pessoas; em segundo, uma forma de entretenimento; em terceiro, um meio de informar e de se informarem. Esta opinião sobre o papel que os jovens atribuem, em geral, às redes sociais está de acordo com as motivações referidas pelos adolescentes para o seu uso: mais de metade referem que usam as redes para conversar com amigos; seguem-se “manter contacto com pessoas que estão longe”, “partilhar pensamentos, comentários, vídeos, fotos” e “fortalecer laços sociais e amizades já existentes” – o uso das redes para não se sentirem excluídos é o menos referido pelos estudantes. Ou seja, de acordo com estes dados, as redes sociais são sobretudo um meio para a relação com os amigos, para estender as conversas da escola até casa, num prolongamento de conversa que parece alimentar as amizades.
Muito mais haveria a dizer sobre estes resultados, cruzando-os com outros, por exemplo, sobre o modo como as redes sociais vieram, ou não, substituir as interações presenciais entre os adolescentes e as possíveis consequências desta mudança de formas de sociabilidade.
Mas avancemos para outro tópico, ligado com as perceções dos adolescentes sobre as suas competências de acesso e uso.
Não deixou de ser surpreendente verificar que um número significativo de adolescentes considera que faz um uso seguro da internet e que, portanto, não necessita de ajuda para uma navegação mais consciente. Os que mencionam ser importante existir algum tipo de apoio apontam a escola como o espaço privilegiado para essa formação, seguindo-se, praticamente com o mesmo número de respostas, o acesso a informação sobre os riscos e as oportunidades destes novos meios.
A par desta informação, os jovens gostavam também de poder contar com sites pensados e dirigidos aos próprios e onde pudessem encontrar algumas orientações. As restantes respostas dirigem-se quase todas para meios normativos e de regulamentação – por exemplo, leis, software de monitorização e filtros.
Curioso foi também verificar que a regulação por parte dos pais é o tópico menos mencionado. Por um lado, esta resposta pode mostrar o pouco interesse que os jovens têm no envolvimento dos pais neste tipo de atividade; por outro, pode indiciar o que se passa em suas casas.
O facto de estes jovens não se sentirem ‘caídos nas redes’ não quer dizer que não sintam receios na sua utilização. Por exemplo, o medo de apanharem vírus e de terem problemas técnicos; o receio de gastar dinheiro indevidamente; o receio de se meterem em problemas e o medo de contactar com estranhos são algumas das apreensões mais apontadas pelos adolescentes quando utilizam a internet.
Estes receios, juntamente com as atividades que os jovens referem não fazer, ou ter dificuldade em fazer, quando usam este meio (por exemplo, criar um site ou blogue ou deixar uma opinião num site ou blogue), indicam bem a necessidade de um trabalho de literacia mediática que ajude os estudantes a explorar e a potenciar as possibilidades criadas pelos meios digitais. E sem dúvida que a escola será um dos contextos mais propícios ao desenvolvimento deste trabalho, porque é ainda a escola que garante a todos os jovens a igualdade de oportunidades, neste caso, a igualdade de acesso à educação para os media.

Sara Pereira


  
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Edição:

Edição N.º 200, série II
Primavera 2013

Autoria:

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