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nº 197/sumário




Editorial

Este é um momento particularmente feliz e significativo, o momento em que anunciamos a saída a público de mais uma edição da PÁGINA. Correspondendo ao culminar de uma dinâmica de trabalho amplamente partilhada, este é o momento de encontro com os leitores, o momento de pôr à prova a verdade de um compromisso editorial subordinado a ideais de democracia, liberdade, participação e solidariedade. Neste sentido, é com reforçada alegria que apresentamos esta edição de verão, a segunda do ano em que comemoramos o nosso vigésimo aniversário.

Isabel Baptista





Parece ser cada vez mais verdade que seria tanto melhor que as escolas trabalhassem organizadas em projetos, com grupos de alunos e de professores (e não em turmas organizadas em disciplinas estanques) seguindo um leque de conteúdos a abordar ao longo de um ciclo. Mas o século XXI, afinal, nunca mais chega…

José Rafael Tormenta





O que se trata aqui é de denunciar a condenação dos indivíduos a serem apenas isso – entidades socialmente descontextualizados. Não é a liberdade de escolha que está em discussão, mas o quadro político em que ela se institui como instrumento de governação da educação.

António M. Magalhães





A revisão da estrutura curricular do sistema educativo, que o XIX Governo recentemente fez publicar (26.03.2012), não pode deixar de ser objeto de algumas considerações críticas em função dos modos, princípios e medidas que nela encontraram consagração.

Manuel Matos





Os sistemas de educação neoliberais, com a sua ficção de liberdade de escolha e corrupção do bem público, têm causado profundas brechas e ruturas. A evidência de desigualdades sociais crescentes rodeia-nos por toda a parte.

Susan L. Robertson





Não há vida sem tensões, seja na escola, seja no amor, nas relações entre pares, entre crianças, adolescentes, jovens, adultos, idosos, géneros, gerações, etc. Provavelmente, deveríamos mudar um pouco, não só o nosso vocabulário, mas também, e principalmente, as nossas representações sobre a natureza das tensões. Elas fazem parte da normalidade da vida.

Ana Vieira





O combate da equidade é uma urgência, não pode nem deve ser atropelado por uma condição de crise socioeconómica. Pelo contrário, a promoção da equidade é um passo para sair da crise.

David Rodrigues





Esta é uma pergunta que muitas vezes me fazem. Como tudo em Educação, não há respostas fáceis. Mas eu acho que há respostas possíveis, potencialmente úteis, que deviam ser mais debatidas em Portugal.

Jaime Carvalho e Silva





No que você está pensando? Assume que naquele momento teve muita vontade de falar do que pensava, no Facebook e na sala de aula. Pena que fosse impossível!

Raquel Goulart Barreto





“A novidade é qualquer coisa que nos põe o cérebro em alerta” – Alexandre Castro Caldas (Universidade Católica) em intervenção na conferência de valorização do PALV realizada em Lisboa (30 de novembro), intitulada Mobilidade, fator de aprendizagem.

Betina Astride





O conceito de indisciplina, geralmente, é estabelecido com relação ao conceito de disciplina. De origem latina, a palavra disciplina apresenta a mesma raiz da palavra discípulo (discipulus), que significa “aquele que aprende”. Liga-se, ainda, ao verbo latino discere, “aprender”. Nesse sentido, a palavra disciplina encontra-se etimologicamente relacionada à ideia de instrução, ensino, educação e aprendizado.

Luciano Campos Silva





O desporto de alta competição, como o futebol, é um dos aspetos da estratégia imperial do neoliberalismo. Também nele, é evidente uma ideologia e um modelo de sociedade. A propósito, poderíamos escutar o sociólogo brasileiro, Emir Sader, em «A vingança da História»

Manuel Sérgio
Gustavo Pires





tubo de ensaio: vegetativa de plantas

Desde sempre o Homem, utilizando os mecanismos naturais de multiplicação vegetativa das plantas, reproduziu espécies vegetais de grande interesse agrícola.
Contudo, ao longo do século XX, devido ao exponencial aumento da população humana e consequente aumento das necessidades alimentares, a agricultura deixou de ser fruto apenas de um conhecimento empírico para se transformar numa “ciência” que constantemente procura inovar e dar resposta a estas necessidades.
Nos últimos anos, tem-se verificado, também, uma crescente procura de espécies vegetais para uso ornamental, pelo que os estudos relativos às técnicas de propagação deste tipo de organismos têm sofrido um enorme desenvolvimento, transformando por completo o ramo da floricultura.

Departamento de Conteúdos Científicos do Visionarium





Quem já teve ocasião de olhar para as imagens filmadas de Yuri Gagarine devolvido ao planeta Terra após a sua inaugural aventura espacial, terá certamente notado a sua aparência dificilmente descritível. Uma expressão imensamente tranquila. Quiçá um pouco espantado. Mas sim, com sinais de ter sido profundamente tocado pelo que tinha acabado de viver no seu voo de cerca de duas horas – mais precisamente 108 minutos. É realmente uma aparência impressionante!

Francisco Silva





Os elementos constituintes das raves englobam um universo cujo maior objetivo é “festejar” o que há de mais fascinante nos tempos pós-modernos: a movimentação, as novas tecnologias, as cores e os sons vibrantes, a união coletiva de eus solitários em êxtase.

Sandro Bortolazzo





Nunca um cantor tão legitimamente se apropriou dos versos de um poeta para tão singularmente definir o caminho percorrido ao longo da sua vida: esta foi sempre a atitude de Adriano Correia de Oliveira em tempos de resistência, antes e depois do Abril tão desejado e do qual foi o mais corajoso capitão das canções. Das nossas canções. Das canções da liberdade desejada.

Mário Correia





“Abolir as ideias gerais é a mais louca de todas as ideias gerais”. Não me lembro de quem disse esta frase, mas é útil. Todos temos “ideias gerais”, ao contrário dos animais superiores, segundo Charles Van Doren, em «Breve História do Saber». De facto, um esquilo sabe que ali existe a toca de outro esquilo; uma zebra sabe que os leões bebem naquele rio – por isso evita-o. Mas os humanos enunciam: “os seres nascem, crescem, reproduzem-se, envelhecem e morrem”. Isto é uma ideia geral a que nenhum macaco chegará, por mais próximo de nós que possa estar (como o bonobo, por exemplo).

Carlos Mota





Diz-nos o mais elementar manual de ciências sociais que o capital é qualquer bem – fixo, circulante, técnico ou financeiro – que, por meios variados e conjugado com outros fatores, é suscetível de produzir novos bens e de aumentar a riqueza.

Leonel Cosme





El nuevo paradigma es el de la autoconstrucción personal y comunitaria. Una autoconstrucción que se va urdiendo a través de las elecciones que las personas vamos haciendo a todo lo largo de nuestra vida. Es en la decisión y en la elección donde el sujeto, individual o colectivo, se hace más sujeto.

Xavier Úcar





Em artigo anterior falamos sobre o modo como a infância é representada no cinema dominante. Contudo, outras cinematografias procuram caminhos novos, mais reflexivos no trato da infância. Esses filmes se afastam completamente da tendência hollywoodiana.

José Miguel Lopes





Um dos grandes monumentalistas do cinema, o mestre grego Theo Angelopoulos, para parar corações, era capaz de inundar cidades, mover montanhas e orquestrar metrópoles.

Paulo Teixeira de Sousa





Creio que todos os leitores impenitentes, quando atingem uma certa idade (ponhamos, por exemplo, a linha divisória dos 60 anos), perdem alguma daquela vontade de ler coisas novas que os caracterizou até aí, para preferirem reler obras dos seus autores prediletos, se bem que nunca se eximam, de vez em quando, a incursões mais aventurosas.

Salvato Teles de Menezes





O Prémio Vida Literária 2012, da Associação Portuguesa de Escritores, foi atribuído ao poeta João Rui de Sousa – talvez a recompensa que mais justamente distinguiu nos últimos tempos uma personalidade com obra marcante na área da produção lírica.

Júlio Conrado





Diário de uma leitura de Valter Hugo Mãe

«A história do homem calado» conta o percurso de uma comunidade no seio da qual vive um homem em tudo diferente. Conta-nos da facilidade com que se estranha e desconfia da diferença e de como é possível mudar atitudes ultrapassando as barreiras do desconhecido e da aparência. É uma preciosidade com 32 páginas e infinitas possibilidades de trabalho, brincadeira e aprendizagem. É um dos cinco livros que Valter Hugo Mãe escreveu para crianças e traz ilustrações do autor, em colagens coloridas de figuras originais e estranhamente agradáveis aos sentidos, que parecem dançar visual e simbolicamente com o texto.

Raquel Patriarca

 





Valter Hugo Mãe

“As mães são indivíduos capazes de um afeto mais incondicional e acho que a maternidade é a experiência mais absoluta da humanidade. Por isso acho que as mães são o ser humano escolhido; os pais, ou os homens, são a parte desfavorecida da humanidade, porque temos direito a uma experiência humana muito menos intensa, muito menos absoluta. A palavra Mãe no nome de um homem significa que um ser humano perfeito teria de ser completo ao ponto de englobar tudo, e isso é uma utopia. Mas a literatura, que é feita de ficção e é feita de permissividade, é um modo de eventualmente nos completarmos.”

Entrevista conduzida por Maria João Leite





O polo de Chaves da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) foi palco do XXVI Encontro Galego-Português de Educadores pela Paz. Subordinado ao tema Educação Intergeracional na Construção da Paz, o encontro juntou educadores e especialistas dos dois lados da fronteira.

No próximo ano, o encontro terá lugar na Galiza.

Américo Peres
Paula Flores





A ideia da existência de um outro naturalmente inferior talvez seja um dos pontos mais intrínsecos da lógica moderna-colonial e favoreça todo o processo de dominação. Sem que nos demos conta, vamos alocando pessoas em diferentes categorias, destinando-lhes lugares e saberes. Sabemos por elas e o que elas podem saber.

Paula Vargens





“Cabe perguntar aos incomodados: qual a tipologia permitida longe dos guetos? Quem pode ser socialmente representável na cultura homossexual e quem não pode? Quem pode existir?” – são perguntas de Marcos Uzel, jornalista e mestrando em Cultura, pela Universidade Federal da Bahia, em texto que escreveu sobre a questionável imobilidade dos gêneros. Estão aqui para interrogar a todos nós.

António Pinheiro





Ao mesmo tempo que, por cá, continuamos a assistir à destruição acelerada e radical das estruturas e investimentos realizados nos últimos anos na educação e formação de adultos, recentemente, tive oportunidade de participar em duas iniciativas, promovidas pela Secretaria de Educação de Suzano (Brasil), que traduzem uma forte aposta na educação e na cultura enquanto direitos humanos básicos a serem assegurados através da criação e disponibilização públicas das necessárias condições humanas e financeiras.

Teresa Medina





Exploro aqui, em traços largos, a noção de experiência a partir de uma obra de Matthew Crawford, para ensaiar brevemente o seu cruzamento com os espaços de educação formal e não exclusivamente com aqueles dirigidos a um público adulto; o sentido do “resgate” é aqui duplo, quer repondo os saberes experienciais na rota do conhecimento, quer reconhecendo a experiência como apropriação e perceção singular que transcende uma noção de idade.

Henrique Vaz





BRAGA, CAPITAL EUROPEIA DA JUVENTUDE’ 2012

Incentivar a participação ativa dos jovens na sociedade, dotá-los de ferramentas para enfrentarem o mercado de trabalho e o futuro e abordar questões como o multiculturalismo e o património, são as grandes metas a que se propõe Braga’2012. A cidade portuguesa foi escolhida para Capital Europeia da Juventude, evento através do qual pode mostrar desenvolvimentos culturais, sociais, políticos e económicos relacionados com a juventude e servir de exemplo a outras cidades europeias. O caminho vai a meio, mas o balanço é positivo.

Maria João Leite





Quando fui dar aulas para aquela escola, fiquei um pouco assustada com a disciplina que, além das que normalmente lecionava, me disseram que ia dar: CMA, Cidadania e Mundo Actual. Com esta expressão elaborada, pensei que era uma coisa complexa e especial – era uma disciplina de um CEF, com um conteúdo mais simples do que o nome.
Tratava-se de uma escola numa zona semirrural, com algumas características de dormitório próximo da grande cidade. A maioria dos alunos que frequentavam aquele Curso de Educação e Formação fazia-o para cumprir a escolaridade, mais em resultado da pressão social do que por acreditar nos reais benefícios, individuais ou coletivos, da Escola. Por isso, tínhamos ali uma turma complicada, a maioria rapazes, com os olhares atravessados por um imenso descrédito, um enorme aborrecimento e um grande inconformismo.
Nem todas as atividades funcionavam com eles, e manter um clima de trabalho relativamente aceitável não era fácil. Tratava-se do típico grupo de adolescentes em que o “lá fora” invade permanentemente o espaço-aula, dando-lhe ínfima importância. Mas o “lá fora” não era para ser partilhado; era assunto só deles.

Angelina Carvalho





Crianças, tarefa difícil de analisar. Pensamos saber tudo sobre elas e tratamo-las como melhor nos parece, ou reparamos nada saber e mimamos um ser que toma vantagem da dor dos pais, que vivem arrependidos desse nada saber. Arrependimento refletido nas suas caras e nos presentes oferecidos, na simpatia usada para matar a dor da falta de apreço pelo seu comportamento. Quando nada se sabe sobre criar filhos, a dor bate nos progenitores.

Raúl Iturra





Diretora Executiva do Comité Português para a UNICEF

Ao dedicar o seu relatório anual sobre a situação mundial da infância à crescente urbanização da população mundial, a Unicef pretende chamar a atenção para as consequências que esta realidade está a ter para centenas de milhões de crianças que, em cidades de pequena ou grande dimensão, vivem em condições precárias, excluídas do acesso a bens e serviços básicos e expostas a toda uma série de perigos, que vão desde a violência e exploração a doenças e até à morte. Atualmente, mais de 50% da população mundial vive em zonas urbanas, e as crianças nascidas nas cidades já representam 60% do aumento da população urbana. O aumento da urbanização é inevitável e, dentro de poucos anos, a maioria das crianças irá crescer não nos meios rurais, mas em cidades.

Maria João Leite





Em 35 países economicamente desenvolvidos há 30 milhões de crianças a viver na pobreza. E apenas na União Europeia, Noruega e Islândia, cerca de 13 milhões não têm acesso a elementos básicos necessários para o seu desenvolvimento. São as principais conclusões do Report Card 10. Medir a Pobreza Infantil, apresentado em maio pelo Gabinete de Investigação da Unicef.

Maria João Leite





Nuno Crato foi coerente com um projeto de educação escolar onde se identifica de forma abusiva a informação com o saber; onde se continua a afirmar que competências e conteúdos são dimensões mutuamente exclusivas, quando são as competências que conferem pertinência cultural e formativa aos conteúdos.

Ariana Cosme
Rui Trindade





Viriato Soromenho-Marques

“Os únicos ‘milagres’ são políticos, mas não acontecem por acaso. Eu acredito que a política transforma em visível a força de vontade que emana do coração das pessoas. Ou seja, a política deve ser a visibilização da ética, da boa vontade, da vontade moral. Porque só ética retórica não chega a parte nenhuma. Aquilo que faz a transição de uma ética, de uma vontade forte, para as instituições políticas, para as boas leis, é cada um de nós perceber que chegámos a um ponto em que temos de entrar diretamente na ação; não podemos pagar a alguém para fazer isso por nós, temos de meter as mãos no barro, porque há gente que as vai sujar na lama.”

Entrevista conduzida por António Baldaia





A existência individual não é integralmente socializável. “Compreende regiões essencialmente secretas, íntimas, imediatas e não mediatizáveis, que escapam a qualquer possibilidade de apropriação comum. Não há socialização possível da ternura, do amor, da criação e do prazer (ou do êxtase) estéticos, do sofrimento, do luto, da angústia”.

Almerindo Janela Afonso





Em pleno século XXI, ainda são muitas as escolas onde se “dá aula”, na ignorância de que a aula é algo obsoleto e de que há muitos outros modos de ensinar e de aprender.

José Pacheco


  
A Página impressa
Edição N.º 197, série II
Verão 2012


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