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Nº 188/SUMÁRIO




editoral

No seguimento do desafio enunciado no último número de 2009 e relativo à reflexão sobre “Educação e Res-publica” enquanto tema de fundo das edições de 2010 – ano em que Portugal celebra o centenário da sua I República –, a PÁGINA quis ir ao encontro de alguém que, a esse respeito, pudesse servir de fonte de inspiração e motivação. De um modo que podemos dizer “natural”, a escolha recaiu, desde logo e sem hesitações, num dos mais ilustres pedagogos da nossa contemporaneidade e reconhecido especialista nas áreas da História e da Filosofia da Educação, com assinatura marcante no campo da organização do sistema educativo, das políticas públicas e da profissionalidade docente – Rogério Fernandes.

Isabel Baptista





“O nacionalismo no período republicano tem uma característica diferente da que veio a ter com o fascismo: a ideia de que a universidade e a escola, em geral, devem colocar-se ao serviço dos grandes problemas nacionais e tomar essas questões como eixo da actividade de investigação e de ensino, isto é, de que se deve pesquisar e ensinar em ordem a achar resposta para os problemas do país. É sobretudo o republicanismo positivista que inspira esta concepção. Mas a questão da educação popular ultrapassa o republicanismo. Fora do ensino oficial, por exemplo, aparecem as universidades livres e populares, muitas vezes de teor anarquista”.

Entrevista conduzida por Ricardo Jorge Costa





Em textos anteriores, tive oportunidade afirmar que a escola pública portuguesa nunca mais seria a mesma após a investida legislativa protagonizada pelo XVII Governo Constitucional. E essa afirmação estava respaldada empiricamente no amplo movimento desencadeado pelos professores e que culminou nas duas maiores manifestações ocorridas após 1974. Por outro lado, todos os dias me chegavam notícias acerca do clima que se vinha “institucionalizando” no interior das escolas, em que uma das mais distintivas características era o medo – sentimento que há muito estava arredado das fronteiras da Escola. Como é evidente para todos, a razão para o clima de permanente tensão, conflitualidade e medo generalizados devia-se à tentativa de institucionalização de um sistema de avaliação do desempenho profissional, legitimado pelo Governo – e secundado pela maioria dos analistas e comentadores de serviço na Comunicação Social – através de uma argumentação eminentemente meritocrática. De acordo com esta perspectiva, tratava-se de colocar “ordem” num sistema injusto, que não premiava os melhores e permitia que todos atingissem, por inércia, o topo da carreira, independentemente das respectivas performances.

Manuel António F. Silva





 

Dá-se um salto ali a Madrid, em low
coast, entra-se no Centro Nacional
Rainha Sofia e fica-se integralmente a
oscilar – entre os pés que se afundam no
chão para tentarem segurar-se e a cabeça
que esvoaça e voluteia para além das
nuvens – só por se olhar para a Guernica
de Picasso. E o que é que se vê? Pessoas,
animais, edifícios, um braço sozinho
ainda com um candeeiro aceso na mão,
um cavalo que espelha os horrores da
morte e da dor nos seus pêlos eriçados,
uns braços que bradam aos céus a sua
passividade, destruição. A emoção avassala-
nos como se cada momento tivesse
sido colado, aposto ou sobreposto a três
dimensões, para irromper por nós dentro
e se entranhar de forma intemporal, fora
de qualquer espaço.

Dá-se um salto ali a Madrid, em lowcoast, entra-se no Centro Nacional Rainha Sofia e fica-se integralmente a oscilar – entre os pés que se afundam no chão para tentarem segurar-se e a cabeça que esvoaça e voluteia para além das nuvens – só por se olhar para a Guernica de Picasso. E o que é que se vê? Pessoas, animais, edifícios, um braço sozinho ainda com um candeeiro aceso na mão, um cavalo que espelha os horrores da morte e da dor nos seus pêlos eriçados, uns braços que bradam aos céus a sua passividade, destruição. A emoção avassala-nos como se cada momento tivesse sido colado, aposto ou sobreposto a três dimensões, para irromper por nós dentro e se entranhar de forma intemporal, fora de qualquer espaço.

 

José Rafael Tormenta





Reinventar a Escola passa por transformá-la num espaço potenciador de inteligência e de humanidade, promovendo a participação de todos na construção de produtos culturais, partilhando-os, e a afirmação de cada um como pessoa portadora e construtora de saberes.

Ariana Cosme
Rui Trindade





Em Janeiro, a UNESCO publicou um relatório sobre a avaliação global do programa “Educação Para Todos”. Trata-se de uma avaliação intercalar do objectivo que tinha sido apontado para que, em 2015, todas as crianças do mundo tivessem acesso à educação primária. Os resultados são decepcionantes.

David Rodrigues





Em dois anos, através da CIF, o Governo retirou apoios da Educação Especial a mais de 20.000 alunos. Os docentes dos quadros de agrupamento apenas respondem a metade das necessidades, para além de faltarem psicólogos, auxiliares e terapeutas, entre outros profissionais. É o “quadro negro” pintado pela Fenprof, que convocou uma conferência de imprensa para divulgar os resultados de um inquérito que realizou à escala continental.

António Baldaia





Há mais de vinte anos que ouvira esta pergunta pela boca de colegas que descreviam o seu início de carreira, na altura ensinando com habilitação suficiente. A Rita, ela própria professora contratada com habilitação suficiente, no ano de 1985, terminou, entretanto, o curso ‘via ensino’, ficando, portanto, profissionalizada. Como ingressara no ensino privado quando ainda era estudante, aí ficou. Tanto mais que a casa dos pais era ali perto. Ascendeu quase ao topo da carreira do ensino privado, com vencimento calculado no âmbito do respectivo contrato colectivo de trabalho.

Ana Vieira





O primeiro parágrafo do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova reza assim: “Na hierarquia dos problemas nacionais, nenhum sobreleva em importância e gravidade ao da educação. Nem mesmo os de caráter econômico lhe podem disputar a primazia nos planos de reconstrução nacional”. Decorria o ano de 1932. Entre os signatários estava Anísio Teixeira.

José Pacheco





Em 2003, o Pestalozzianum Research Institute for the History of Educatione o Institute of Educationda Universidade de Zurique organizaram uma conferência em que se relacionou o pragmatismo, a educação e a democracia. A ideia era contribuir para que o pensamento sobre educação fosse mais consistente com a discussão internacional nos domínios das humanidades e das ciências sociais.

Domingos Fernandes





Desconheço avanços recentes – se os houve – nas negociações entre Ministério da Educação e sindicatos sobre a prova de ingresso na carreira docente. Sobre o assunto, mantenho como referência o artigo 22.º do Estatuto da Carreira Docente e os decretos regulamentares n.º 3/2008, de 21 de Janeiro, e nº 27/2009, de 6 de Outubro.

Carlos Cardoso





Uma outra mentalidade política urge, subordinada a três aspectos: necessidade de um novo olhar para a organização social e para as políticas de família; assunção do princípio de que a prioridade primeira da Escola é estar ao serviço do Homem e não ao serviço do Poder; a reinvenção do sistema tem de varrer a centralização que mata a identidade de cada estabelecimento de ensino.

André Escórcio





A missão pedagógica dos professores reveste-se de grande complexidade humana, dada a responsabilidade antropológica que lhe é inerente. Trata-se, afinal, de trabalhar com pessoas e numa perspectiva de promover a sua personalidade e humanidade.

Evangelina Bonifácio





É sábio aquele professor de meninos, de jovens ou de adultos que, a coberto ou à margem das prescrições curriculares, não se contenta com a reprodução dos costumes e induz os alunos a pensar que não é suficiente interpretar o mundo; é preciso transformá-lo.

Leonel Cosme





HELENA ARAÚJO

"A questão da igualdade de género deu origem, de facto, a fortes controvérsias, marcadas pela conflitualidade e pela ambiguidade. E embora a República tenha dado por vezes a ideia de que as mulheres teriam um papel forte a desempenhar, fica a ideia de uma certa visão utilitária: as mulheres como as grandes educadoras dos filhos da República."

Entrevista conduzida por Ricardo Jorge Costa





dia internacional da mulher

Muito se avançou neste século no que respeita às conquistas emancipatórias da Mulher, mas sabemos todos que, quer a Oriente quer a Ocidente, quer a Norte quer a Sul, a opressão da Mulher na vida profissional e na vida privada é uma realidade porque é uma consequência da sua exploração na sociedade, tal como o é a exploração dos homens.

Hermínia Bacelar





Responsabilizar apenas as mulheres por uma gravidez constitui, hoje, um acto de medievalismo, sobretudo vindo de pessoas com formação científica, a quem já não se admite que considerem que a concepção é da exclusiva acção do útero feminino. Já lá vai o tempo, em séculos passados, em que se pensava que a mulher engravidava sozinha. Sabemos que o país em geral tem baixos níveis de literacia e que os comportamentos e atitudes que constituem o quotidiano de um português e de uma portuguesa nem sempre se pautam pela interiorização de dados relativos às informações veiculadas em matéria de saúde, quer seja reprodutiva, quer não, ou de bem-estar, quer noutras dimensões da vida social.

Maria José Magalhães





Quando se fala em conhecimento e, em particular, em conhecimento científico, nunca é demais destacar o papel da persistência na procura, da insistência no esforço e da humildade na avaliação do resultado do nosso trabalho! Construir conhecimento, crescer cientificamente, preparar um futuro mais sustentado e desenvolvido, obriga a um constante investimento na aprendizagem, na investigação e na confirmação das conclusões. Como se descobre? Como se conhece? Sem falhas? Sem hesitações? Sem passos atrás?...

Ana Brito Jorge





Nos últimos meses, temos assistido a uma intensa discussão pública a propósito do casamento entre pessoas do mesmo sexo, dando origem às mais diversas expressões de acordo e desacordo: debates, abaixo-assinados, crónicas de opinião, cartas-abertas, manifestações...

Isabel Menezes





Do Desenvolvimento-Desigualdade-Destruição ambiental ao Amor-Biodiversidade (como diversidade da vida, também humana) Conflito/Cooperação/Comunidade/Cidadania.

Mariana Salgado Peres





Tratemos hoje de um tema que, sem dar ares de adivinho, parece manter alguma actualidade: qual o melhor treinador para o futebol (ou o basquetebol, ou o andebol, ou o voleibol, etc.) de um país, o treinador nacional ou o estrangeiro?

Manuel Sérgio





ALBERTO AMARAL

“A criação de um sistema de acreditação comum, que permita a qualquer instituição ser acreditada pelas diversas agências registadas na EQAR – apesar de esta proposta da Comissão ainda não ter sido aceite pelos ministros –, conduzirá à existência de agências com critérios de exigência extremamente altos, que acreditarão universidades como Oxford, Cambridge ou Munique, e de agências que acreditarão universidades regionais e universidades locais. Desta forma, tender-se-á ao estabelecimento de um certo sistema de ranking.”

Entrevista conduzida por Ricardo Jorge Costa





Recordando Ortega y Gasset, 100 años después

El 12 de marzo de 1910, en la Sociedad “El Sitio” de Bilbao, un histórico foro del liberalismo vasco, por el que han pasado como oradores algunas de las figuras más relevantes de la vida pública española de los últimos 130 años, José Ortega y Gasset (1883-1955) nos legaba uno de los lemas más emblemáticos de cuantos han acompañado los avatares de la Pedagogía Social desde los inicios del siglo XX hasta la actualidad: La Pedagogía Social como programa político. Y, con él, la inequívoca necesidad de vincular la educación al quehacer político y moral que los ciudadanos han de adquirir consigo mismos y con la sociedad que los acoge.

José Antonio Caride Gómez





Hace años que desde los diferentes informes mundiales elaborados sobre la cultura se enfatizó la necesidad de entender el desarrollo no como crecimiento económico, sino como un proceso que aumenta la libertad efectiva de sus beneficiarios para llevar adelante cualquier actividad a la que atribuyen valor (UNESCO, 1997).

Xavier Úcar





São muitos os exemplos de utilização da Escola com o intuito de fortalecer o sentido de pátria ou unidade de uma nação. Algumas disciplinas, nessas horas direcionadas para isso, ganham força, como a História, o ensino de uma língua e a Geografia.

Roberto Marques





Este discurso de Colin Powell numa Conferência Nacional de Política Externa para líderes de organizações não governamentais (ONG) tornou-se um exemplo muito citado da crescente preocupação de muita gente da comunidade internacional do desenvolvimento acerca da cada vez maior militarização do sector. Quer dizer, as agendas das organizações humanitárias e do desenvolvimento estão a ser apoderadas pelos poderosos interesses militares do ocidente.

Mario Novelli





Por que se deve fazer o que é certo? E, o que é o certo? Ao realçar estas indagações, Kant lançou-se na busca por um fundamento racional para as questões ético-morais. A formulação que ele apresenta como resposta não é nada desprezível: uma regra de conduta moral certa é aquela que, sendo adotada universalmente por todos, torna o mundo mais feliz.

Ivonaldo Neres Leite





Conforme vamos refletindo e também conhecendo e nos apropriando do pensamento de diversos analistas da contemporaneidade – Bauman, Jameson, Harvey, Bocock, Sennet e muitos outros –, vamos fortalecendo o entendimento de que o consumo se transformou em dominante cultural, em eixo organizador da sociedade.

Paula Deporte de Andrade
Marisa Vorraber Costa





república dos leitores

É, hoje, comum ouvirmos falar de cidadania global, dando a entender que todos somos cidadãos do mundo e que esta questão ultrapassa, há muito, o estatuto legal da pertença a um Estado, com o consequente conjunto de direitos e deveres de cidadania.

Maria Rosa Afonso





Inegável que se torna hoje a estreita ligação entre os processos educacionais e os processos sociais de reprodução mais abrangentes, isto é, reconhecida a condição de concorrência e simultânea complementaridade do campo escolar e do campo económico “comprometidos ambos com circuitos de trocas cada vez mais eficazes simbolicamente” (Bour dieu), a reestruturação capitalista, imposta a ferro e fogo nalguns países e a golpes de mercado noutros, vem produzindo um modelo de acumulação que já não precisa de massas trabalhadoras qualificadas, mas de uma pequena elite de especialistas e de uma massa de trabalhadores flexíveis, descartáveis e intercambiáveis com o espectro do desemprego como espada de Dâmocles. A escola inclusiva deixa, então, de ser funcional para o actual modelo económico. Como consequência desta disfuncionalidade, sobreveio uma crise de sentido que atravessa todo o dispositivo escolar (Maldonado).

Rosa Soares Nunes





A literatura em estado cru está de volta. É possível que durante as últimas décadas estivéssemos convencidos do contrário. Uma certa crueza literária não deve, no entanto, confundir-se com as escritas de grau zero. A neutralidade na escrita, na qual Roland Barthes viu uma busca de “inocência” imune à linguagem literária, propriamente dita, define-se pela ausência ideal do estilo, da forma, do refúgio. É sóbria como uma equação, às vezes acre. Mas sempre supôs uma problemática da linguagem e do social, uma responsabilidade motivada, sobretudo, pela ordem do pensamento e não tanto por convenções de cunho literário, de que a metáfora é um entre outros exemplos.

Paulo Nogueira





reportagem

Desde este ano lectivo, a organização e gestão das bibliotecas escolares estão a cargo de professores bibliotecários “a tempo inteiro”, aos quais compete desenvolver estratégias que garantam a sua rentabilização ao serviço das escolas, dos processos formativos e das aprendizagens dos alunos. A propósito desta “nova” funcionalidade docente, a PÁGINA foi ao encontro do professor Pedro Moura, que trabalha em duas bibliotecas no concelho de Mafra, e cruzou-se com um poeta que vive intensamente os desafios da promoção da leitura e do livro junto de crianças e jovens.

José Paulo Oliveira





Uma das estratégias fundamentais de empowerment para aumentar o controlo da população sobre a sua saúde, a sua aptidão para procurar informação e a sua competência para assumir essa responsabilidade, é a promoção da literacia em saúde. Como literacia em saúde referimo-nos à competência para tomar decisões relacionadas com a saúde nos mais diferentes contextos do quotidiano, seja em casa, no local de trabalho, na comunidade, no sistema de saúde, no comércio ou na esfera política.

Nuno Pereira de Sousa





Usando uma plataforma comunicacional, uma adolescente conhece um rapaz de quem se agrada. Pouco importa o contexto internauta em que tal sucedeu, como o Messenger, uma sala de chat, o HI5, o Second Life, o Twitter ou uma outra rede social. Sabemos bem que as fronteiras são fluidas e que um contacto num qualquer dos suportes referidos pode ser desenvolvido num outro. Por exemplo, um avatar do Second Life tem a sua própria página, enquanto personagem fictícia, no Facebook…

Rui Tinoco





Um dia, tendo terminado uma palestra no Instituto da Defesa Nacional, saía eu da sala com um enorme livro referente a estratégia. Um general interpelou-me comentando: “Isso é uma arma de arremesso!” Aquilo era um livro, mas também podia (com restrições) ser uma arma! Dependia da idade da pessoa que eu atingisse com o livro.

Carlos Mota





As pesquisas que venho fazendo com imagens de escola vêm assumindo importância crescente pelo que despertam de interrogações e ideias, diálogos e narrativas possíveis sobre os cotidianos expressos nas imagens de escolas com as quais entro em contato. Elas mobilizam as minhas possibilidades de compreensão/invenção de objetos que deem conta das tantas formas possíveis de dialogar com aquilo que se vê/lê. Percebo, no material observado, inúmeras pistas a respeito dos cotidianos escolares vividos, questionados ou obedecidos, transformados por tantos e tantas alunos(as), professores(as), autoridades, inspetores, tecendo compreensões possíveis daquilo que as narrativas imagéticas me dizem.

Inês Barbosa de Oliveira





A Drosophila melanogaster, ou mosca do vinagre, é um insecto com aproximadamente 3 milímetros de comprimento, pode ser visto próximo de fruta em fermentação – o que faz com que também seja conhecido como mosca da fruta – e é usado como modelo biológico, para pesquisa, há quase um século.

Visionarium





LAURO MOREIRA

"A lusofonia, muito mais do que um espaço, é um espírito que emerge de 500 anos de um convívio cuja matriz é Portugal, um convívio que acabou formando um património linguístico, cultural, histórico, e que teve um dia para começar, mas não tem para acabar. A lusofonia, portanto, é algo em construção, um fenómeno in fieri, algo que está ocorrendo."

Entrevista conduzida por António Baldaia





Alain Resnais, nascido na Bretanha em 1922, foi sempre apaixonado pela animação e pela BD, tanto que vários dos seus filmes têm influência notória destas artes. Estudou arte dramática durante dois anos, mas a chegada da II Guerra Mundial interrompeu-lhe os estudos. Só no final do conflito passou a dedicar-se ao cinema, começando com curtas-metragens dedicadas às artes plásticas. A sua primeira foi Van Gogh (1948), seguindo-se Gaugin e Guernica (1950). Fez ainda Les Statues Meurent Aussi (1953), sobre a arte africana e a sua apropriação pelo colonialismo – proibido em França durante vários anos –, e Toute la Mémoire du Monde, um percurso poético pelo labirinto da Biblioteca Nacional de França.

Paulo Teixeira de Sousa





Pintor de méritos consolidados e reconhecidos, Emerenciano é também cultor da palavra escrita. Em poesia, dá expressão àquela parte do seu mundo emocional, partilhada pela pintura, de que esta todavia não se reclama em níveis de mobilização excessivos. Mesmo existindo um compromisso entre palavra e cor, verso e traço, semiótica do texto e fulguração visual do signo, o artista reserva à poesia o canteiro do espírito onde ajardina a matéria sensível excedentária do rasgo pictórico. Matéria depois ordenada e encaminhada para as páginas dos livros através dos quais vai acumulando reputação de escritor.

Júlio Conrado





É um instante, um assomo de urgente vontade, uma comoção doce fora de qualquer realidade, misteriosa, breve, num relance em que dissolve o espanto e a ansiedade derramada pela vida sempre que nos perguntamos a lógica de renunciar, quando se pressente ser possível essa inatingível felicidade, e no momento desiludido de um amor impossível, perdido na vertigem e na loucura de uma falsa liberdade, sentimos no peito, surpresos e sem jeito, que houve um tempo em que podendo-nos enamorar não houve senão um vento que em sonhos nos deu uma ilusão de amar. Em segredo, sempre em segredo, que à face deste mundo, e do desatino de um amargo destino, se escondem os beijos, as carícias, as confissões e as promessas, os delírios em que o prazer se agarra, como se o degredo da alegria e da mais verdadeira fantasia seja maior que o nosso próprio desejo, quando de súbito se incendeia, para morrer sem razão antes mesmo que possamos ateá-lo no olhar esquivo e suplicante de uma alma gémea.

Luís Vendeirinho





Na formação dos cidadãos, a Escola cultiva os valores da solidariedade e da cooperação, cristalizados em expressões populares como há sempre lugar para mais um ou a união faz a força.

Nélio de Sousa





Quando eu era pequena, nunca ouvia falar de infância. Se um mistério havia, era o daqueles meninos que passavam às vezes por nós e que pareciam ter sempre de comer, usavam sapatos e roupas que os cobriam todos e não apareciam cá fora. a não ser quando já nós andávamos, há muitas horas, na lide no campo. Havia coisas de que não se falava. Elas falavam por nós.

Angelina Carvalho


  
A Página impressa
Edição N.º 188, série II
Primavera 2010

Brevemente disponível online.



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