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Pedagogia da catástrofe

Na formação dos cidadãos, a Escola cultiva os valores da solidariedade e da cooperação, cristalizados em expressões populares como há sempre lugar para mais um ou a união faz a força.
Não obstante, a vida prática, como a tragédia que se abateu sobre a ilha da Madeira no dia 20 de Fevereiro, tem um poder pedagógico tremendo, no sentido em que as circunstâncias de emergência impelem, até instintivamente, para a prática da solidariedade e da cooperação. Paradoxalmente, a mesma condição humana que permite actos excepcionais em momentos de tragédia, não permite ao ser humano respostas excepcionais nos outros dias “normais”.
Quando estamos absorvidos pelas tarefas de sobrevivência na vida quotidiana, tratando do nosso canto, prevalece mais o individualismo e a competição. Quando está em causa a vida, a sobrevivência e a dignidade humanas, as pessoas unem-se, convergem e, com naturalidade, alargam o conceito de parentesco de sangue. Falam os valores morais e civilizacionais mais nobres. Afinal, estamos juntos no mesmo barco, atingidos todos pela mesma condição de fragilidade. A onda de solidariedade nacional relativamente aos habitantes da Madeira tem sido notável.
Veja-se o que aconteceu ao nível dos governos. Num ápice, o residente do Governo Regional e o primeiro-ministro relativizaram e ultrapassaram os diferendos políticos que os têm oposto. Há males que vêm por bem.
Por um lado, deve tirar-se o chapéu ao líder madeirense por sanar diferendos e mudar de direcção, tendo em vista o essencial, o interesse dos seus concidadãos: “este país pode enterrar uma série de machados que não têm importância nenhuma e em que andamos a gastar uma série de energias”, afirmou. Por outro lado, é de salientar o elevado sentido de Estado, a solidariedade e cooperação manifestadas pelo primeiro-ministro aos madeirenses, através de actos e no imediato – “não é momento para haver recriminações nem disputas”, declarou. Esperemos que o poder pedagógico da catástrofe na Madeira conduza à correcção de alguma gestão do território, de forma a minimizar, no futuro, os danos humanos e materiais provocados por condições climatéricas extraordinárias.

Nélio de Sousa

Escola Básica/Secundária da Calheta


  
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Edição:

Edição N.º 188, série II
Primavera 2010

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