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nº 198/sumário




No momento em que as escolas portuguesas iniciam mais um ano escolar e numa altura em que se vive um ataque generalizado às estruturas nucleares do estado democrático, esta edição traz à discussão pública um conjunto de questões cruciais de política educativa, através do contributo sensível, informado e implicado dos nossos prestigiados colaboradores. Abrangendo temáticas fundamentais como o planeamento e regulação do sistema; a direção e organização das escolas; a gestão e o desenvolvimento curricular; a educação de adultos; as necessidades educativas especiais; a autoridade profissional docente e a investigação científica, os textos que integram a PÁGINA de outono inscrevem-se numa linha de oposição clara à estratégia seguida pela atual equipa ministerial.

Isabel Baptista





As avaliações devem focar-se na melhoria das práticas e das aprendizagens. Os alunos devem ter uma palavra a dizer sobre o seu plano de aprendizagem. Os diretores devem ter mais autonomia e poder de decisão.Estas são algumas das conclusões de um estudo da OCDE sobre as políticas de avaliação educativa em Portugal.

Maria João Leite





Entra-se no bairro, de carro, depois de contornar três rotundas que interligam ruas transformadas em vias rápidas nos descampados entre manchas suburbanas de habitação. Desde que o serviço de transportes deixou de atender o público para atender quem privatiza, o autocarro só tem horário da manhã ou horário da tarde, como as escolas sobrelotadas.

Pascal Paulus





Paulo Santiago

“A afirmação da liderança pedagógica das escolas é uma reforma com bastante impacto noutros países, mas que em Portugal, apesar do progresso que já se fez, ainda está pouco desenvolvida. O que constatámos é que há pouca autonomia e que as lideranças tendem a acentuar a componente administrativa.
Defendemos que são necessários líderes pedagógicos e maior autonomia para essa liderança, porque nas escolas tem de haver capacidade para liderar um projeto pedagógico, para conduzir uma equipa, para fazer feedback da melhoria das práticas, etc.”

Entrevista conduzida por Maria João Leite





A espetacularização da vida cotidiana tem nas escolas um de seus palcos. Especialmente nas escolas brasileiras, estudantes vestem-se para compor uma “persona”, uma imagem para apresentar ao mundo nas passarelas escolares. 

Marisa Vorraber Costa





Veja e Isto É estão entre as revistas semanais de maior circulação no Brasil e são reconhecidas como muito influentes na formação da opinião geral da classe média. Mas quando o assunto é Educação, estas publicações são bastante discretas. Se a medida da importância de uma temática é o tamanho do espaço dedicado a ela, é possível concluir que estas revistas e seu público se importam pouco com a Educação.

Gustavo E. Fischman
Sandra R. Sales

 





Quando pretendemos discutir as questões relacionadas à gestão da educação é preciso concentrar nossa atenção na participação de todos e todas. Quando experimentamos transformar a administração burocrática numa “gestão participativa da educação”, somos convidados a entrar na discussão sobre a complexa construção da democracia nas unidades e nos sistemas escolares e até mesmo na sociedade.

João Baptista Bastos





Se a educação é cada vez mais um mecanismo para atribuição de recompensas a partir do sucesso no exame, a ideia da educação como base para o desenvolvimento de comunidades positivas e mutuamente apoiantes pode ser seriamente afetada.

Roger Dale





Educação em Portugal 2011/2012

Vivemos em Portugal um terramoto cujas dimensões e contornos são ainda difíceis de precisar. Entre a brutalidade dos cortes orçamentais e a sanha demolidora contra o sistema público edificado pela democracia, teme-se a destruição maciça que o projeto neoliberal deste Governo deixará atrás de si.

Fátima Antunes





El Portugal anterior a la I República tuvo la suerte de poder escuchar y leer reflexiones educativas muy razonables, con frecuencia críticas, sobre la desorientación que se cernía sobre la educación del pueblo portugués, sus programas e instituciones. Una de estas voces, tan respetables como queridas y necesarias, fue la proclamada por Adolfo Coelho. Escuchemos sus reflexiones, que nos resultarán muy provechosas hoy como lo fueron para los educadores y lectores españoles de su artículo del año 1903.

José M. Hernández Díaz





Os professores ocupam o primeiro lugar na fileira do desemprego qualificado; um em cada seis desempregados com qualificação superior é professor. O clima de recessão, as políticas educativas e os fatores demográficos têm vindo a agravar esta liderança.

Carlos Cardoso





O MEC arregaçou as mangas como quem vai lavar a loucinha toda e toca a preparar horários-zero, como já tinha feito outro ministério no tempo de outra senhora. Mas enquanto essa fez aquilo com uma perna às costas, este coitado não sabe – sendo de Matemática, fartou-se de lavar roupa na praça da Educação, e agora engana-se nas contas...

José Rafael Tormenta





O alargamento da escolaridade obrigatória é uma oportunidade. Temos de tornar claro que não se trata de uma medida “cirúrgica” ou “lógica”, mas que é um novo conceito sobre o lugar, o impacto e a importância da Educação na nossa sociedade.

David Rodrigues





Para quem tanto fala de exigência, não deixa de ser revelador como o MEC se desobriga da capacitação de crianças e jovens para uma participação cidadã crítica e informada. Para o ministro Nuno Crato a proposta de revisão curricular do Governo é feita “a pensar nos alunos” (à TSF) e visa “centrar mais o currículo nos conhecimentos fundamentais e reforçar a aprendizagem nas disciplinas essenciais”, assentando em “objetivos claros, rigorosos, mensuráveis e avaliáveis”. Uma das medidas propostas foi a “eliminação da disciplina de Formação Cívica (FC) nos 2º e 3º ciclos do Ensino Básico e no 10º ano, mantendo a relevância dos seus conteúdos de modo transversal”: ou seja, a Formação Cívica deixou, agora, de ser um espaço comum a todos os alunos.

Isabel Menezes





A boa estrela de Nuno Crato como ministro construiu-se em torno de duas ideiaschave: a do desprezo pela Pedagogia e a de que seria o Ministério da Educação e Ciência o principal responsável pela perda da autoridade dos professores.
Os resultados estão à vista e é sobre eles que teremos de pensar para tomarmos consciência do paradoxo em que nos atolamos como docentes: gente do século XX a ensinar gente do século XXI com métodos do século XIX.

Ariana Cosme
Rui Trindade





Em silêncio, a atual equipa dirigente do MEC vem concretizando uma política que questiona pilares essenciais da escola pública.

Domingos Fernandes

 





É urgente que os governos aprendam a governar democraticamente e a cumprir as suas obrigações constitucionais para com a educação pública, abstendo-se, por isso mesmo, do papel de pedagogos oficiais, para que não têm competência nem legitimidade.

Licínio C. Lima





Sérgio Niza

“O Ministério da Educação e Ciência é de uma ignorância que faz medo: os avanços e recuos, o desnorte na organização das escolas, nos concursos, nas metas ideologicamente hipermarcadas… E de um revivalismo inquietante – quando nos Estados Unidos se utilizam standards, aqui estabelecem-se metas por objetivos, com taxonomias inspiradas nas de [Benjamin] Bloom, da pedagogia por objetivos, de má memória… Dizem que os professores têm liberdade metodológica, mas contam com os diretores dos agrupamentos disponíveis para uniformizarem o que os professores hão de fazer… Enquanto tivermos uma fresta para respirar liberdade, temos de usá-la na escola. E temos de ousar fazer diferente. Porque o que temos vindo a fazer é muito parecido com o que Nuno Crato quer que se faça agora – podem os professores não gostar, mas é absolutamente verdade. ”

Entrevista conduzida por António Baldaia


  
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Edição N.º 198, série II
Outono 2012


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