A PÁGINA é um espaço de partilha e de reflexão sobre Educação e outros temas que fazem parte do quotidiano. É um ponto de encontro para educadores; um projeto que nasceu no seio deles, mas que tem abertura suficiente para chegar para lá do mundo académico e profissional. Já foi jornal, agora é revista e é para ser saboreada. Está de parabéns! Faz 25 anos!
Dezembro de 1991. É lançado o número zero do jornal A Página da Educação, uma publicação mensal, que custava 150 escudos. “Uma Página certa”, apresentava-se assim. E após o arranque, dedicado à saída de Roberto Carneiro e à entrada de Diamantino Durão no Ministério da Educação, segue-se o primeiro número – em janeiro seguinte – focado na Reforma Educativa.
José Paulo Serralheiro, diretor do jornal – que entretanto passou a revista – até ao final de 2009 (altura do seu falecimento), escrevia numa nota do editorial, onde homenageava Francisco Goya, que esse número, o primeiro, abordava “temas e problemas que não fogem, nem nas temáticas propostas, nem nas formas de tratar, à incerteza e à tensão que caracterizam o tempo que vivemos, também no campo da Educação”. E assim foi, sempre.
A PÁGINA, jornal e revista, foi em si uma inovação no panorama da imprensa escrita. Um lugar onde a Educação tem espaço próprio, mas sempre aberto a outras áreas, como a Cultura e a Sociedade, com mais ou menos destaque. É que se a periodicidade tem sido diferente ao longo dos tempos – começou por ser mensal, depois trimestral, respeitando as estações do ano, e atualmente semestral –, também é diferente a forma de o pensar e construir. Como é natural, uma vez que são 25 anos de páginas escritas.
O primeiro número em formato de revista (no 185) saiu no verão de 2009. “Está nas vossas mãos, façam chegar as vossas críticas”, escreveu José Paulo Serralheiro, que ainda deixou o número seguinte preparado. “A melhor homenagem que lhe podemos prestar, e porventura aquela que mais lhe agradaria, é garantir-lhe que este projeto não morrerá, que a este segundo número da revista, que veio substituir o velhinho jornal, outros se seguirão, muitos mais, no objetivo de conseguir que A Página da Educação continue a ser uma referência de qualidade no mundo educativo”, lê-se no editorial do no 186, assinado por Abel Macedo, então coordenador do Sindicato dos Professores do Norte (SPN), acionista maioritário da proprietária da publicação (ProfEdições, Lda.) E assim foi!
Da educação, para a educação
Isabel Baptista (diretora), Ana Brito Jorge (diretora-adjunta) e António Baldaia (editor) assumiram a direção da revista a partir do no 187 – inverno 2009. Uma edição que traduzia “o desejo coletivo de continuar a pugnar por um projeto editorial único, um projeto nascido no interior da profissão docente e, como tal, assumindo-se ‘da educação e para a educação’, numa subordinação livre a valores de cidadania, justiça e solidariedade”, como referia Isabel Baptista no editorial da revista, cuja capa era precisamente dedicada aos 18 anos da publicação.
“Vinte e cinco anos de uma revista como esta é algo que faz história em si mesmo; é uma publicação destinada à Educação e que tem a originalidade de ter sido criada por uma comunidade de professores, neste caso o SPN. Isto tem impacto ao nível de toda a área da Educação, tanto no plano nacional como internacional. Em 25 anos, ultrapassou diferentes etapas, num trajeto que está muito ligado ao caminho da própria democracia portuguesa, com tudo o que houve de pontos altos, mas de outros também de algumas dificuldades”, refere Isabel Baptista, para esta edição.
A diretora da revista lembra que, pelo caráter da publicação, pela dinâmica de produção e pela rede “muito prestigiada” de colaboradores (portugueses e estrangeiros), a PÁGINA foi sendo aceite, “e mais do que aceite, apropriada em muitos casos, pela própria comunidade, quer académica, quer profissional, quer mesmo ao nível sindical”. É, assim, uma publicação com qualidade reconhecida, feita para “ficar com os leitores, para ser saboreada”. É também uma aposta ganha por parte do SPN, dos professores que a assinam e da equipa que a dirige, bem como do Conselho Editorial, que é composto por “nomes de referência” no âmbito académico e profissional, todos dirigentes sindicais.
“A PÁGINA é conhecida, reconhecida e estimada em todas as universidades, em todos os contextos académicos, nas escolas e junto dos professores. A originalidade editorial é que não se confunde com uma publicação sindical – o sindicato continua a ter o seu periódico de informação e propaganda sindical… Este é o ponto de encontro entre experiências, entre conhecimentos, entre investigadores, profissionais, etc., sobretudo das áreas que abarca, como a Educação num sentido muito lato; a revista aborda a educação escolar, mas também a pedagogia social, as questões fundamentais do desenvolvimento humano e social, as artes, a cultura... Quer dizer, é um projeto com muito recorte cívico”, sublinha Isabel Baptista.
Respeito pelos ideais de Abril
Três professores (dois no ativo), os três dirigentes sindicais, uma nova equipa que agarra um projeto já com 18 anos, um projeto bastante pessoal. Uma equipa que passa a atuar para além da sua profissão, com esforço de intervenção e de projeto, e de forma gratuita. Era preciso dar continuidade, mas também inovar, acompanhar a “vida lá fora”, o que rodeia os professores. De acordo com Ana Brito Jorge, a nova equipa teve grandes desafios pela frente, “embora pudesse pensar-se que, estando já construído o projeto e com um percurso tão grande e tão rico, estava tudo feito; que era só rolar ou deixar rolar”. Mas não.
“Houve a preocupação de manter, de dar continuidade, mas também de acompanhar a realidade, a vida lá fora, o mundo, e de conquistar o gosto e o apego dos professores e de uma comunidade circundante que dessem força a este projeto, que fossem capazes de se envolver”, refere a diretora-adjunta, cuja proposta para integrar a equipa surgiu na altura da sua aposentação – o que, a título pessoal, se revelou “muito interessante”, na medida em que o seu contributo pôde, e pode, ser feito com a perspetiva de quem está de fora, “nunca deixando de estar dentro”.
Para Ana Brito Jorge, “a preocupação foi sempre nunca afunilar, nunca esquecer que todos os professores e professoras não vivem apenas a sua atividade dentro da sala de aula, tão pouco dentro da sua escola; estão ligados ao mundo, precisam de estar ligados ao mundo cá fora”. Esse alargamento estende-se também no campo editorial, uma vez que “se conseguiu – e isso pessoalmente também me agrada muito – abranger alguns campos científicos não muito habituais neste tipo de publicação, com entrevistas ligadas à Ciência e Investigação Científica, à Medicina, à Saúde, à Biologia, à Cultura, etc.”
A visão da nova direção passa por dar mais espaço às mulheres e a todas as vozes que de alguma forma podem contribuir para melhorar a Educação e a sociedade. Há respeito pelos ideais de Abril, que são “uma referência”, uma espécie de guias. “Infelizmente, ao longo da história mais recente, houve momentos em que quase os sentíamos ameaçados. E nós aqui sentíamos obrigação de reacender a necessidade da luta por eles, de fazer reacender essas chamas pela democracia, pelos direitos, pela igualdade dos direitos, pelos direitos da mulher... Essa preocupação tem sido permanente, não só em cada mês de março. Há agora mais mulheres a serem entrevistadas, a darem o seu testemunho. Os direitos de Abril, que são os de todos os meses, são uma referência, são um belo guia, porque a partir deles há todo um mundo, e é nesse mundo que nós trabalhamos e que nos agrada ver crescer e desenvolver-se este projeto”, sublinha Ana Brito Jorge.
Um projeto independente
A PÁGINA foi criada para ser um ponto de encontro entre professores, um espaço de partilha, de análise e de reflexão sobre Educação. “Surge muito da necessidade de proporcionar aos professores e, por maioria de razão, aos sócios do SPN, um conjunto de informação que lhes permitisse intervir na escola de uma forma mais sustentada, e não apenas reivindicativa. A PÁGINA seria uma publicação onde é possível acolher pensamento e reflexão, que inclusivamente pode chegar a ir contra os interesses do sindicato, sem que as pessoas estejam constrangidas por causa disso”, explica António Baldaia, editor da revista, que trabalhou como jornalista ainda no formato jornal. A PÁGINA é assim “claramente independente”; uma independência declarada no estatuto editorial, com “total garantia de autonomia e de liberdade para produzir”, tendo como linhas orientadoras a Declaração dos Direitos Humanos, a Declaração dos Direitos da Criança, a Constituição e a Lei de Imprensa.
Liberdade, pluralidade e abertura caracterizam a revista, que tem uma tónica associada: “olhar os professores como intelectuais”, realça Isabel Baptista. “Até em função das diferentes políticas educativas que tivemos nestes 25 anos, é recorrente a tentação de olhar os professores como funcionários, técnicos, especialistas, executores. E aqui há, de facto, uma linha, que é esta, de encarar os professores como intelectuais críticos e reflexivos e, sobretudo, de olhar a profissão como uma construção solidária, coletiva e forçosamente alinhada com os interesses sociais. À liberdade e à pluralidade associamos o valor responsabilidade.”
Os conteúdos são produzidos tendo em conta um tema delineado pela direção editorial, perspetivando a própria profissão e os desafios da Educação, numa vocação mais ampla e sem uma agenda noticiosa, e com a participação de uma vasta rede de colaboradores. Mas além do conteúdo, há uma forte preocupação estética e espaço para a fotografia e o design, cujos responsáveis são Ana Alvim e Adriano Rangel.
“Em termos de projeto editorial, foi sempre assumida como muito importante a questão da fotografia e do design. Aliás, muitos leitores não o saberão, mas a PÁGINA já ganhou um prémio de design [Grande Prémio PAPIES, 2005]”, recorda António Baldaia. Para o editor, há diferenças notórias quando se aposta, também, no projeto gráfico, passando a ser um objeto que pode ser guardado e usufruído, “pela natureza do material, da qualidade gráfica e da portabilidade”. Tem uma imagem “confiável”, de algo que permanece no tempo.
Para o editor, a PÁGINA “é um produto consolidado”, uma “marca de referência” em alguns círculos. Ainda assim, “é uma luta permanente”, não só no que toca à edição em si, mas também porque “obriga a uma dedicação muito grande”. Empenho de quem tem outros afazeres profissionais, mas que tem um carinho especial por este projeto. “Empenhamo-nos nisto com dedicação, com paixão, com esforço e com vontade de fazer mais”, frisa António Baldaia.
“Cada edição é um desafio e de cada vez que a PÁGINA sai para os leitores é para nós um motivo de celebração. A razão de estarmos aqui também passa por este entusiasmo, por este gosto de estarmos a trabalhar juntos e de acreditarmos neste projeto”, conclui Isabel Baptista.
Desafios para o futuro
Cumpridos 25 anos, é quase obrigatório fazer uma espécie de balanço e pensar no que se pode fazer daqui para a frente. Há três grandes desafios no horizonte, que, no fundo, são um “reforço de preocupações que já temos”, explica Isabel Baptista. O primeiro prende-se com uma maior participação dos professores e das escolas, com testemunhos e experiências. “O que é que está a acontecer nas escolas? Há tanta experiência pedagógica relevante e inspiradora e nós quisemos sempre que isto fosse um espaço de partilha também a esse nível. Temo-lo conseguido. A PÁGINA tem já divulgado muitas experiências interessantes ao nível das escolas, mas ainda não é suficiente, gostávamos de ter mais”, afirma a diretora da revista, revelando que um segundo desafio se prende com o trabalho de edição online: “Acho que é de incentivar a nossa página digital, também como um espaço de participação e de diálogo com os colaboradores e com os leitores.”
A revista tem agregada uma coleção de livros – Coleção aPágina – com a chancela da ProfEdições, onde os colaboradores têm a possibilidade de juntar os textos publicados na revista e trabalhá-los em obra própria. O terceiro desafio relaciona-se com a continuidade deste projeto, que conta já com seis edições. “Há a possibilidade de os textos publicados serem convertidos em publicações autónomas, já com as devidas referências bibliográficas. Esta é uma coleção com arbitragem científica, assegurada quer pelo Conselho Editorial quer por elementos da nossa bolsa de colaboradores”, refere Isabel Baptista, lembrando ainda a importância das parcerias que a revista mantém, por exemplo, com a Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação ou a revista brasileira Presença Pedagógica.
“Um projeto editorial destes é muito relevante nos tempos que correm. É um projeto que permite assegurar alguma esperança no futuro da sociedade e da democracia e um futuro para a Educação, alinhada com os valores de Abril. Se não acreditássemos no futuro da PÁGINA, sobretudo pela forma como pode fazer diferença na construção mais partilhada desse futuro, acho que já não estaríamos aqui a festejar os 25 anos e com o ânimo com que estamos a pensar o próximo ano”, referiu Isabel Baptista, sublinhando que em 2017 – o ano do aniversário – “vamos tentar estar mais perto dos leitores e dos colaboradores”, através da organização de eventos que permitam que “o encontro neste espaço de escrita se prolongue também em encontros presenciais”.
Maria João Leite (texto)
Ana Alvim (fotografia)
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