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Prémio Correntes d’Escritas 2014 é um suplemento de ânimo para quem enfrenta o desemprego

"Uma Mentira Mil Vezes Repetida (Quetzal, 2011) valeu a Manuel Jorge Marmelo o prémio literário Correntes d’Escritas/Casino da Póvoa 2014, no valor de 20 mil euros. Para o júri, o livro confirma a “maturidade” do autor, que também o considera a sua obra “mais madura”. O jornalista e escritor portuense, de 42 anos, é autor de mais de uma dezena de obras e na gaveta tem já um livro pronto para publicar e outro a terminar.

 

Que importância atribui ao reconhecimento do Correntes d’Escritas?

O reconhecimento é sempre importante para alguém cujo trabalho se destina a um público. Neste caso, o prémio acabou por ter várias implicações simpáticas. Houve um cheque (que dá sempre jeito), os leitores sentiram a curiosidade de conhecer um livro em que muito poucos tinham reparado, a minha editora passou a acreditar um bocadinho mais em mim e, ainda mais importante, eu recebi um suplemento de ânimo muito importante numa altura em que estava desempregado há quase ano e meio.

Considera “Uma Mentira Mil Vezes Repetida” a “mais madura” das suas criações. O que mais pode dizer sobre ela aos visitantes da PÁGINA?

Trata-se de um romance sobre a própria literatura, que aborda a literatura enquanto construção ou edifício feito de tijolos que são mentiras, mas que, no fim, podem constituir uma espécie de verdade para quem lê. É um livro sobre um romance falso que vai sendo inventado por um utente dos transportes públicos, o qual conta aos outros utentes as histórias falsas de uma inexistente obra-prima da literatura mundial. Deste modo, as histórias vão saindo umas de dentro das outras, como sucede com as bonecas russas. Mas é também um livro sobre as mentiras que nos contam os políticos, sobre a xenofobia e as desigualdades sociais.

Já tem novos projetos literários?

Sim. Tenho um romance terminado e outro muito perto de estar pronto. Talvez o prémio permita publicar algum deles ainda este semestre.

Quando o recebeu, recordou Manuel António Pina. É uma das suas referências?

Referi o Manuel António Pina porque ele fez a primeira apresentação do livro, há cerca de dois anos, na Biblioteca Municipal Florbela Espanca, em Matosinhos. Para além disso, o Manuel António Pina é não só uma referência literária como uma referência social e humana. Uma vez disse algo como “será que aquele que éramos com 20 anos se envergonha daquele que somos hoje?”. Esse critério é uma coisa que tento ter sempre presente para não perder o rumo na vida.

Com muitos anos de experiência profissional e tantas obras já publicadas, como concilia a objetividade do jornalista com o romantismo do escritor?

Agora, estando desempregado, não preciso de conciliar nada. Mas durante anos tive, sim, esse problema. Antes de mais, fiz questão de assinar os livros como Manuel Jorge Marmelo, para distinguir o escritor/ficcionista, nem que fosse formalmente, do Jorge Marmelo, que era jornalista e que tinha de ser objetivo no desempenho da profissão. Para além disso, o jornalista trabalhava durante o dia e o ficcionista, quando lhe apetecia, só entrava ao serviço durante a noite, depois de cozinhar e lavar louça.

Maria João Leite/A Página da Educação

[foto de Manuel Roberto]


  
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