Nos últimos anos, devido à ação dos “media”, aumentou consideravelmente a preocupação pela convivialidade na escola e, de uma maneira especial, por alguns comportamentos antissociais que ocorrem entre os atores educativos.
A questão do conflito e da violência nas organizações escolares é, incontestavelmente, uma das preocupações crescentes, tanto para os professores como para a sociedade civil. Em nosso entender, os intervenientes no campo da Educação estão cada vez mais conscientes das disfunções de convivência nas organizações escolares e a questão não se centraliza no que fazer para enfrentar episódios de conflito e violência, mas em como atuar para construir uma Escola sinónima de espaço de aprendizagem e de convivência democrática. É importante reconhecer que a Escola, enquanto organização social, partilha de um conjunto de características que implicam tensões e conflitos. Assim, cabe reafirmar a importância de normas consensuais, do necessário equilíbrio entre o que é curricular e a aprendizagem de competências para a vida e das infraestruturas escolares adequadas ao convívio sem sobrelotações. Por outro lado, a Escola não se pode compreender sem referência à sociedade onde está inserida. Por esse motivo, muitos dos conflitos que se produzem refletem aspetos exógenos à mesma. Entre esses, encontramos um conjunto de flagelos sociais em expansão, nomeadamente, desemprego, precariedade, pobreza, a marginalidade, que constituem fatores que condicionam o clima social latente na sociedade, cujos reflexos na Escola dificultam a existência de um bom clima de convivência. É condição crucial a (re)valorização da função docente perante os alunos e a sociedade. Não pretendemos discutir aqui se tal fator constitui ou tem constituído objetivo da política educativa dos diferentes governos. Importa, como pais, construir nos nossos filhos uma imagem positiva dos professores e, enquanto professores, ter capacidade crítica para repensar as nossas práticas face às mudanças sociais. A Família tem de participar na vida escolar dos filhos para quebrar o ‘ciclo das desculpas’. Acresce que fomentar uma educação para a paz no âmbito familiar subentende a transmissão de valores coerentes com a convivência escolar. A gestão construtiva do conflito passará por uma comunicação mais eficaz entre todos para se procurar compreender os reais motivos que estão na sua origem.
Negociação cooperativa. A mediação escolar consubstancia-se como um processo de comunicação e de encontro interpessoal, pois assenta em princípios, técnicas e saberes ao nível da comunicação e da negociação cooperativa entre as partes em conflito. A mediação estabelece-se como uma via para a construção da paz, destacando que paz não significa inexistência de conflitos. Em consonância como o Manifesto de 2000 da UNESCO [Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura], a transformação de uma cultura de violência numa cultura de paz implica fomentar princípios e atitudes onde se inscrevem mecanismos de gestão construtiva de conflitos, o diálogo e a edificação de consensos. A Escola encontra na mediação de conflitos um método de ensino/aprendizagem de transformação positiva do conflito, possibilitando realizar as suas funções de formação e socialização e atuar preventivamente de modo a melhorar as relações humanas na comunidade escolar. Paralelamente, a mediação difunde a noção que a promoção de um clima harmonioso advém da implicação de todos os agentes educativos como fator de prevenção dos conflitos desnecessários e da violência escolar. Em Portugal, existem exemplos bem-sucedidos de mediação escolar. Temos, porém, um extenso caminho a percorrer no aumento desses programas e no reconhecimento das vantagens da mediação por parte dos intervenientes no campo da Educação, comparativamente ao modelo impositivo como forma de resolução de conflitos, vigente ainda em algumas escolas.
Ana Paula Monteiro e Margarida Simões
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