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A infância noutras cinematografias que não a hollywoodiana

Em artigo anterior falamos sobre o modo como a infância é representada no cinema dominante. Contudo, outras cinematografias procuram caminhos novos, mais reflexivos no trato da infância.
Esses filmes se afastam completamente da tendência hollywoodiana. Nem efeitos especiais, nem vitrines sedutoras, nas quais tudo é atraente e abracadabramente maravilhoso. Nada de crianças que voam sobre bicicletas à claridade da lua, nem de garotos sorridentes que cantam a “velha” comédia musical hollywoodiana. Ao contrário, ocorre quer uma nostalgia idealista das coisas, quer um realismo mais brutal ou uma combinação de ambos. Em suma, uma certa contenção, combinando moderação e respeito pelo olhar de cada espectador. Uma certa exigência que talvez se esteja perdendo nos últimos anos, em benefício de filmes cada vez mais consensuais.
Se analisarmos a história do cinema, mais especificamente a relativa aos filmes da infância, é fácil constatar que estamos perante um gênero francês por excelência. Existe em França uma forte tradição de diretores de infância e adolescência: François Truffaut, Louis Malle, Jacques Doillon, Claude Miller, Yves Robert, fizeram pelo menos três filmes sobre a infância e são considerados especialistas no gênero. Seus filmes são um marco na história cinematográfica. Outros diretores, como Maurice Pialat, Jean-Claude Brisseau e Nicolas Philibert produziram obras bastante significativas sobre o universo infantil.
Mas a França não é o único país que privilegia a infância nos seus filmes. Irão (sobretudo Abbas Kiarostami e Majid Majidi), Espanha (Carlos Saura e José Luís Cuerda), República Checa, Eslováquia, Itália (principalmente Luigi Comencini), China, Grécia, Japão (Takeshi Kitano, Shinji Aoyama, Kore-Eda Hirokazu), Rússia e alguns outros países produzem filmes virados para esta temática. O mesmo se pode dizer da província do Quebeque, no Canadá, que tem produzido um número significativo de filmes sobre a infância.
Vejamos o caso surpreendente do cinema de infância iraniano, que, em última análise, apresenta uma proposta bastante inovadora contra a banalidade cinematográfica. No cinema iraniano sobre a infância, estamos confrontados com um cinema amplamente autobiográfico, através de escolhas assumidas por cineastas que retratam precisamente o fascínio da temática da infância. Tal fascínio determina igualmente um ascetismo estético, que exclui qualquer recurso simplista ou patético. Certas cenas são realmente fulgurantes e procuram um sentimento de estranheza sem nenhum artifício.
A construção desses filmes opera sobre um variado leque de sensações, através de uma acumulação de pequenas histórias reveladoras da energia e da vontade de descoberta próprias da infância. As referências destes cineastas são frequentemente próximas de Fellini e de Truffaut e, portanto, acabam nos remetendo à descoberta de projetos espantosamente originais.

José Miguel Lopes


  
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