Theo Angelopoulos [1935-2012]
Ao Miguel e ao Fernando
Um dos grandes monumentalistas do cinema, o mestre grego Theo Angelopoulos, para parar corações, era capaz de inundar cidades, mover montanhas e orquestrar metrópoles. Morto, atropelado por um motociclista no passeio, quando saía de casa, Angelopoulos era um dos realizadores europeus mais prestigiados, ombreando com Oliveira, Tarkovsky, Godard, Janksó... Depois da escola de arte e a aprendizagem com Jean Rouch, Angelopoulos começou como jornalista e crítico de cinema. Quando o jornal de esquerda onde escrevia foi fechado pelos “coronéis” após o golpe de 1967, começou a fazer filmes. Reconstrução (1970), o seu primeiro filme, era assumidamente político, mas foi com Os Actores Ambulantes que começou a marcar o seu estilo ambicioso e rigoroso, levando quase quatro horas para mostrar o ambiente grego desde 1939 até 1952 com o trabalho de uma trupe de artistas percorrendo o país sob várias regimes opressivos. Foi neste filme que usou o testemunho na primeira pessoa, dito diretamente para a câmara por personagens cercadas por militares. Este filme, talvez o mais complexo filme político de sempre, abriu-lhe as portas dos festivais em todo o mundo e forjou o caminho subversivo que se seguiu. Apesar disso, foi apenas em 1988, com Paisagem na Neblina que a força de Angelopoulos se tornou evidente para o público. Esta epifania é, para a generalidade da crítica, o melhor filme europeu da década de 80. Quem o viu vai lembrá-lo para sempre. Nada disto correspondia ao que se esperava de um grego; a sua visão do país refletia a desolação da política e o trauma dos países vizinhos. Nos anos 90, Angelopoulos tornou-se uma presença normal nas cerimónias de entrega de prémios de Cannes com a sua “trilogia da fronteira”: O Passo Suspenso da Cegonha (1991), O Olhar de Ulisses (1995) e Eternidade e um Dia (1998), que ganhou a Palma de Ouro. Cada filme segue um peregrino que vai envelhecendo (Marcello Mastroianni, Harvey Keitel e Bruno Ganz, respetivamente) procurando sonhos perdidos no pesadelo dos Balcãs. A trilogia é não só visualmente poderosa, mas também um estudo do stress das sociedades modernas. Alguns segmentos individuais como o casamento no meio do rio, no Passo... e a estátua de Lenine a deslizar no rio, em Ulisses, são verdadeiras obras-primas, não só visual como simbolicamente. O filme em que estava a trabalhar, O Outro Mar, sobre a dívida grega, vai ficar tragicamente como mais um dos conhecidos desconhecidos que gostaríamos de conhecer.
Paulo Teixeira de Sousa
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