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Encontros e fluxos na invenção da docência

O encontro suscita a aproximação entre diferentes modos e diferentes compreensões de docência. Temos na formação docente encontros reais que criam sentidos de docência. Alguns ocorrem pelo fluxo das vidas dos professores, outros são “dobrados” pela formação acadêmica.

Na imagem, o fluxo das águas em queda alude ao feminino e parece mesmo entornar-se com entrega e força nesse encontro. O que é encontro “real” e o que é encontro inventado pelo movimento de dobrar a fotografia para criar um sentido imaginado pela artista pouco pode ser percebido. Mesmo quando o sabemos, importa a sensação e sentidos que em nós os “encontros” com a imagem produzem.
Assim como os fluxos acontecidos-inventados para as águas da imagem – elemento feminino que em muitas culturas representa o mistério e a potência da vida –, temos na formação docente encontros reais, nos percursos vividos pelos professores em suas histórias, que criam sentidos de docência. Alguns desses encontros ocorrem pelo fluxo de suas vidas, outros são “dobrados” pela for mação acadêmica nos currículos e políticas que cotidianamente criam fluxos e são criados pelos tantos fluxos dos rios em formação.
Toda “história real” é uma invenção e uma interpretação simultaneamente. Nela se misturam o desejo de uma realidade e a possibilidade da produção de um discurso que represente “a verdade” sobre essa realidade. Cada personagem de uma história real-inventada está mergulhado em desejos de fazer e dizer suas “verdades” sobre a história e também está olhando-a e contando-a a partir dos valores e crenças com os quais quer e pode conviver. A multiplicidade de desejos e crenças envolvidos na produção de um discurso e de práticas que o antecedem ou sucedem, desnuda a complexidade desses fluxos e seus encontros em contextos e com os personagens que neles estão mergulhados.
O encontro suscita a aproximação entre diferentes modos e diferentes compreensões de docência. Também no encontro, o que é desejo e o que é “real” são permanentes potencialidades. As fronteiras entre esse real-inventado importam tão pouco quanto as fronteiras entre os diferentes momentos e rituais que compõem os espaços-tempos da formação. Neles, as linhas que demarcariam lugares e personagens são esbatidas nos fluxos e passagens entre eles.
As festas também são um ritual presente na cultura escolar que muitas vezes também aparecem nos cursos de formação nas universidades. Produzem outros encontros que modificam fronteiras dos espaços-tempos da formação, e com os quais sentidos, fluxos, dobrados ou não, deslocam papéis, personagens e lugares. As festas podem ser encontros-rituais instituídos nas culturas da formação de professores ou encontros casuais no compartilhar dos percursos, processos e vidas dos sujeitos. E mesmo essa não é uma diferenciação, senão uma simultaneidade, quando pensamos nos enredamentos e deslocamentos que os encontros produzem e quando pensamos as singularidades das práticas docentes a partir dos sentidos que criamos.
Parecem ser os encontros nos contextos e processos da formação os fluxos vividos-inventados na produção de sentidos de escola e docência que se produzem permanentemente pelos entrelaçamentos de linhas. Ambas as imagens, apesar de congeladas pelo momento do flash, não subtraem nossas sensações do movimento das águas e dos risos e sons da festa.
Também os processos e sentidos da formação de professores podem ser lidos/vistos como algo mais que uma representação elementar, estática, do
constituído e dos elementos constituidores de sua forma, uma forma-ação, visto ser processo em movimento. Fluxos que interrompem os sentidos, a segurança e a estabilidade dos conceitos e concepções de escola e docência, entornando-se em inacabamentos e invenções. Em encontros.

Alexandra Garcia


  
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