Página  >  Opinião  >  Happiness must be earned...

Happiness must be earned...

Para o Jan, neto do Adriano

Em 1920, enquanto a Europa se refaz dificilmente da guerra, os Estados Unidos da América preparam-se – foi por isso que entraram nela – para se tornarem os banqueiros do velho continente: Wall Street suplanta a bolsa de Paris, começa a rivalizar com a City de Londres e passa a apoiar os primeiros trusts cinematográficos. Entre estes começam a destacar-se a First National, a Paramount, a Metro, a Universal e a Fox.
Durante estes anos, ocupada a lamber as suas feridas, a França vai perdendo rapidamente a supremacia cinematográfica. Na Califórnia, nos subúrdios de Los Angeles, emerge um nome que vai passar a ser conhecido em todo o mundo: Hollywood. Esta vilória, onde surgem diariamente novos estúdios de rodagem, está a um passo de destronar Nova Iorque como centro da produção cinematográfica.
Adolph Zukor, da Famous Players-Lasky e da Paramount, contrata em 1914 uma “boneca pequenina de olhos azuis e cachos louros” – Mary Pickford. Ela vai encarnar, brevemente, para todo o país, a imagem ideal da star, a America ´s sweetheart.
William Hodkinson, um dos fundadores da Paramount despedido por Zukor, torna-se em 1915 presidente da Triangle, uma nova produtora/distribuidora. Os lados do triângulo são os três melhores realizadores americanos: Thomas Ince, Mack Senett e David Wark Grifith. Como directores artísticos, levam rapidamente a empresa “ao apogeu da arte de filmar americana”.
Os grandes trusts batem-se já por conquistar os actores mais talentosos. Nesta corrida vertiginosa, a Triangle vai fazer prospecção nos meios teatrais. Uma das maiores descobertas, em 1915, é um actor da Broadway, Douglas Fairbanks. Com 30 anos, originário do Colorado, tinha começado a sua carreira em Chicago (1912) e em 1915 já estava na Broadway, onde tinha dado nas vistas. No cinema, pela mão de Griffith, triunfa quase mediatamente com filmes como «The Lamb» e, sobretudo, «Manhattan Madness», dirigido por John Emmerson, que o faz entrar para a mitologia cinematográfica americana. Temerário e engraçado, deslumbra com as suas proezas atléticas. Encarnando o eterno salvador, arranca a heroína dos braços do melodrama e leva os filmes para as margens da comédia.

Estreia de Raoul Walsh. Em «O Ladrão de Bagdad», Fairbanks é Ahmed e vive livre e despreocupado em Bagdad, até que se apaixona pela filha do califa. Para a conquistar, tem de rivalizar com os príncipes da Pérsia, da Índia e com o mais terrível de todos, o príncipe mongol. O Ladrão vai ter de afrontar mil perigos antes de, no final, fugir com a bem-amada num tapete voador.
Escrito pelo próprio Douglas Faibanks, em colaboração com o dramaturgo inglês Edward Knoblock, este argumento feérico começa com um prólogo que se tornou célebre: Happiness must be earned... pode figurar à cabeça das produções de Hollywood dos anos 20 do século passado. É o primeiro filme do realizador Raoul Walsh.
Filho e neto de nacionalistas irlandeses, Walsh começou como assistente de realização de Griffith na Triangle Fine Arts. Em 1914, o mesmo Griffith tinha-o enviado para o México, para seguir o revolucionário Pancho Villa no campo de batalha. Rodou aí as cenas ao vivo de «The Life of General Villa», em que faz o papel do jovem Villa nas sequências rodadas em estúdio, já dirigidas por Griffith. Em «Birth of a Nation» vai mesmo encarnar o papel do assassino de Lincoln. Realizador muito prolífico, Raoul Walsh especializar-se-á em westerns famosos como «High Sierra» (1941), «They Died With Their Boots On» (1941), «Colorado Territory» ( 1949) ou «Saskatchwean» (1954). Dirigiu várias stars como Marlene Dietrich, James Cagney, Clarck Gable, R. G. Robinson, Rita Hayworth e, especialmente, Errol Flynn em «Gentleman Jim» e «Burma» – este último considerado um dos melhores filmes de guerra de sempre.

Amaze the whole earth. Fairbanks faz construir os cenários de «O Ladrão de Bagdad» nos mesmos estúdios onde tinha sido rodado o seu filme anterior, «Robin Hood». Estes são idealizados pelo arquitecto decorador da Famous Players, William Cameron Menzies, que se inspira na escola expressionista alemã e em Max Reinhardt e vai utilizar todos os truques e astúcias possíveis para evocar uma Bagdad feérica.
Os efeitos especiais, excepcionais, conhecidos como efeitos Schuftan, que Georges Sadoul descreve na sua «Histoire Générale du Cinéma» como “maquetes colocadas em frente dos dispositivos e conectadas com conjuntos reais por um efeito óptico”, reforçam os truques e vão dar consistência a uma “arquitectura toda minaretes, cúpulas e outros telhados fantasistas”. Hampton Del Ruth, supervisor dos efeitos especiais, oferece-nos sequências inolvidáveis de Ahamed voando num cavalo alado e num lendário tapete voador, a lutar com monstros das profundezas, aranhas e ratos gigantes carecas.
Entretanto, Fairbanks entrega-se a uma preparação rigorosíssima: pratica atletismo (corrida, salto e lançamento) sob orientação de um treinador e chega mesmo a ter lições de dança, o que lhe permite exibir uma agilidade que nos espanta naqueles saltos graciosos. O objectivo era “amaze the whole earth”. E não é que conseguiu?!

Paulo Teixeira de Sousa


  
Ficha do Artigo
Imprimir Abrir como PDF

Partilhar nas redes sociais:

|


Publicidade


Voltar ao Topo