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A professora

A minha professora é o máximo, tio. Não é nada parecida com a do ano passado. É mesmo fixe!... Não é que seja muito boazinha, nem pensar! Fica mesmo zangada se não fazemos o que combinámos, ou se fazemos batota, ou se não temos cuidado com as nossas coisas, ou se nos esquecemos dos livros ou dos cadernos. Mas é muito fixe, mesmo. Nunca se zanga quando não nos saem bem os trabalhos, à primeira. E se estamos a protestar uns com os outros, ela é sempre muito justa e ajuda-nos a resolver os nossos problemas. É mesmo fixe…
Sabes que ela está sempre a ter ideias de coisas giras para fazermos e quase sempre são coisas que dão muito trabalho? É verdade, fartamo-nos de aprender coisas, de aprender a ler e escrever, e ao mesmo tempo aprendemos a fazer coisas importantes, como os crescidos costumam fazer.
Mas o que é mais engraçado é que a minha professora não se importa nada que a gente a ensine. Sim, coisas que ela não sabe. Por exemplo, há uns tempos começámos a fazer uma horta. Eu e o Chico até vamos lá aos sábados, para regar e tudo… Mas devias ver como era ela a trabalhar na horta. Não percebe nada de nada, temos de lhe explicar tudo. Algumas coisas que ela faz, até parecem de um filme cómico…
Queres ver um exemplo? Há tempos estávamos a plantar cebolinho e ela andava connosco a espetar cada pé. A certa altura, não saía do sítio, sempre a pegar no mesmo pé. Ficámos todos atrás dela, muito calados, mas cheios de vontade de rir. É que ela pegava no pé de cebolinho e endireitava-o com muito cuidado, mas ele tombava outra vez e ela voltava a tentar, sempre, sempre... E só quando lhe perguntámos o que estava a fazer é que ela disse que estava à espera que ele ficasse direito! Só depois é que lhe dissemos que tinha de esperar algum tempo, um dia, para ele ficar direito, e ela riu-se muito, riu-se dela…
Rimos todos, também, e ela ficou muito divertida. Os meus colegas da outra sala nem queriam acreditar. Imaginas uma professora que se ri das tolices dela própria?
Outra coisa foi a limpar a horta. Sabes que ela quase nunca acertava nas plantas que eram para tirar?! Estava sempre a perguntar-nos o que era para arrancar. Um dia, ia arrancando uma alface porque era muito alta (tínhamo-la deixado crescer, por causa da semente), e ela não sabia que era uma alface. Tivemos que gritar: “Não! Isso não é para tirar, deixe ficar”. E ela lá deixou.
E com as cenouras? Quando começaram a nascer ela pensava que era erva ruim e queria tirá-las todas… E as couves tronchudas, que no início ela pensava que eram alfaces? Quando lhe explicávamos alguma coisa, ficava muito admirada, mas também muito contente: dizia que estava a aprender muito connosco, dizia-nos mesmo, e era a sério.
A horta tem sido o máximo, porque nós sabíamos muitas coisas daquilo que a professora não sabia, mas também aprendemos muitas coisas, coisas que tinham a ver com a agricultura, cuidados que precisamos de ter com os produtos que usamos, alimentos que vieram de outros países, e isso. Por exemplo, sabias que há muitos anos aqui nem havia batatas? Que vieram das Américas e aqui o que se comia eram castanhas? E o mesmo com o milho, também não havia, e por isso nem se podia comer broa, nem nada.
A minha professora ensina-nos muitas coisas. E para podermos saber ainda mais, às vezes, traz-nos fotografias e livros, e assim nós queremos ler mais e mais…
Mas agora parece que vai ter que ir embora. Já disseram isso. A nossa sala e as outras todas vão ficar com mais meninos, e parece que por isso algumas professoras vão ter que sair. E não é que uma delas vai ser a minha?!
Já viste o que está para nos acontecer, tio? É que a minha professora é mesmo fenomenal!

Angelina Carvalho


  
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Edição:

Edição N.º 200, série II
Primavera 2013

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