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Greenspan: crise revelou falha na ideologia capitalista

O ex-presidente da Reserva Federal Americana (Fed), Alan Greenspan, afirmou em 23 de Outubro que a crise financeira a que estamos a assistir revelou uma "lacuna" na ideologia capitalista na qual sempre acreditou.
"Sim, constatei uma falha. Não sei até que ponto é significativa ou duradoura, mas deixou-me bastante desconcertado", admitiu Greenspan durante uma audiência no Congresso.
Greenspan, acusado de ter permitido o crescimento da bolha imobiliária cuja explosão provocou a crise financeira, foi confrontado com as suas próprias declarações pelo presidente do Comité de Controle de Acção Governamental da Câmara dos Representantes, o democrata Henry Waxman.
"Tenho uma ideologia. A minha opinião é a de que os mercados livres e competitivos são, de longe, a melhor maneira de organizar a economia. Testámos a regulação, nenhuma funcionou de verdade", havia declarado Greenspan antes da crise, segundo Waxman.
O ex-presidente do Fed disse nesta audiência ao Congresso que o mercado de crédito vive "um tsunami que se vê uma vez em cada século".
Dirigindo-se aos membros do Comité encarregado da reforma governamental, Greenspan sublinhou que, na actual situação, "os bancos centrais e os governos se vêem obrigados a adoptar medidas sem precedentes" e que os Estados Unidos dificilmente "evitarão um aumento das demissões e do desemprego".
Greenspan sobreviveu no Fed a quatro presidentes, duas recessões, uma década de crescimento, além da grande bolha da internet; bateu o recorde de permanência no cargo, tendo sido considerado o salvador da economia mundial ao reagir rapidamente ao "crash" da bolsa de Outubro de 1987 e à crise financeira asiática. Também dirigiu uma série de baixas impressionantes das taxas de juro depois dos atentados de 11 de Setembro de 2001.
Consciente do peso e do efeito das suas palavras, os seus discursos, que ele costumava escrever enquanto tomava banho, eram sempre muito prudentes, às vezes até enigmáticos. Mesmo o seu comentário mais famoso, "a exuberância irracional" dos mercados em Dezembro de 1996, foi cuidadosamente cercado por uma reflexão sobre a explosão da bolha financeira... no Japão.
Filho de um operador da bolsa e de uma vendedora, Alan Greenspan nasceu no dia 6 de Março de 1926 em Nova York, três anos antes do "Crash" da bolsa de 1929.
Foi criado num pequeno apartamento na cidade, onde se dedicava, desde pequeno, a resolver problemas complicados de matemática. Depois do segundo grau, frequentou a escola de música e trabalhou como clarinetista e saxofonista de jazz numa orquestra.
"Eu era óptimo como amador, mas um profissional mediano. Compreendi rapidamente os meus limites no campo da música e deixei a orquestra para cursar a universidade de Nova York", disse.
Estudou economia e fundou em 1954 uma empresa de consultoria que funcionou até 1987. Entrou na política em 1968 como conselheiro económico da campanha presidencial de Richard Nixon. Depois, fez parte da equipe de economistas do presidente Gérald Ford.
Em 1987, foi nomeado à frente do Fed pelo presidente ultraconservador Ronald Reagan, substituindo Paul Volcker. Agora, este «músico» conservador vê o chão fugir-lhe debaixo dos pés. Já sabe que a partitura neoliberal estava errada, ainda não sabe onde.

José Paulo Serralheiro


  
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Edição:

N.º 183
Ano 17, Novembro 2008

Autoria:

José Paulo Serralheiro
Professor e Jornalista. Director do Jornal a Página da Educação.
José Paulo Serralheiro
Professor e Jornalista. Director do Jornal a Página da Educação.

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