"O filósofo é o fazedor do ambiente vivenciável em comunidade, por isso, ele é também o poeta e o vero político." João Barcellos [in "O Intelectual", art., Rio de Janeiro . Brasil, 2007.]
O que hoje se denomina "universo lusófono" é, na verdade, um continente linguístico que tem "a Língua Portuguesa como base entre uma Cultura diferenciada de nações colonizadas entre os séculos XVI e XVIII pelo Império luso e católico, uma vez que um não existiria sem o outro", na observação da Profª Mariana d`Almeida y Piñon [in Conversa na Web, Grupo Granja; São Paulo. Br., 2006]. Cada uma dessas nações é uma Cultura regional, e, pela mistura luso-afro-americana ("brasileira" é um posicionamento posterior), um painel multi-racial que faz da Língua Portuguesa um meio vivo de comunicação, independentemente da sua matriz. Com tal realidade intercontinental e até com conversações ortográficas comercialmente situadas ? raramente a Cultura é chamada ao cenário institucional das ditas "políticas culturais" ?, o que é o Portugal literário e filosófico, levando-se em conta a obra lítero-filosófica do Prof. Manuel Reis? A) Desde os cânticos e as danças do período pagão até ao surgimento da Língua, a Nação portuguesa teve uma ascensão que o poeta J. C. Macedo dizia, em 1982 [in "Ser Minho-Galaico: Português", art., Guimarães-Portugal], ser "um tempo luso-galego de implemento cultural fundamentado no teatro vicentino e na poética (não a épica) do cancioneiro quatrocentista". B) Elementos germânicos, árabes e latinos, deram outras cores ao falar luso-galego, uma vez que "Portugal é uma Nação originalmente miscigenada por culturas de povos nómadas, como os celtas" [idem], e foi esse "ambiente nómada que encheu a alma e levou Portugal além-mar e a proporcionar um colonialismo de miscigenação, principalmente no Brasil", como afirma João Barcellos [in "A Língua lusa e o Colonialismo", pal., Paraty-RJ, Brasil, 2001]. C) Com essas "circunstâncias lingüístico-culturais de interacção social regionalizada", a pinçar aqui uma afirmação do Prof. Carlos Firmino [in "O falar universal do português", pal., 2007; Campinas-SP, Brasil], é que se forjou a Literatura e a Filosofia dos portugueses. A "universalidade" tão badalada dos portugueses não é tão larga como a publicidade institucional da política cultural do Poder quer fazer crer, nem Camões é dela um exemplo, embora em Gil Vicente possamos buscar elementos ibéricos, mas raramente universais. Regional, a Cultura portuguesa limitou-se, e limita-se na maioria dos casos ainda hoje, a um ambiente político e palaciano (o favor das instituições monárquicas e republicanas) que lhe impede a amplidão universal, apesar do Nobel José Saramago e de ensaístas e filósofos como Eduardo Lourenço, figuras carismáticas, entre outras, do situacionismo institucional-editorial. Vamos encontrar a verdadeira universalidade, literária e filosófica, em intelectuais como Manuel Reis, autores rejeitados pelo institucionalismo editorial, académico e político, porque não servem os interesses histórico-sociais e mercantis do Poder, ao qual, por exemplo, Camões serviu e serve muito bem na sua mensagem de Pátria esquecida em si mesma: mensagem que também serviu a um Eça cosmopolita e mais a um Torga nacional, mas não a Ferreira de Castro nem a Aquilino Ribeiro, entre raros exemplos. A leitura dos actos lítero-filosóficos de Manuel Reis, com particular incidência no estudo teológico sobre a Igreja-Estado e o Jesuanismo socrático e libertário, através de obras publicadas em Portugal e no Brasil, por grupos paralelos à política editorial vigente, mostra-nos que "existe um Portugal cultural que segue às margens do caudaloso rio que é o Portugal anti-cultural e mercantil" [J. C. Macedo, ibidem]. O que sustenta esse Portugal perdido em si mesmo e anti-cultural?... Os parâmetros educacionais da Universidade portuguesa, porque normativa segundo princípios medievais para a formação e manutenção da Elite, do Poder, e não para a formatação da Nação como um Todo social em harmonia com os códigos das comunidades ? e, assim, o que impera é o institucionalismo académico obscurantista, dogmaticamente obsceno, muitas vezes mascarado de progressista, democrático. A prática intelectual de escritores e filósofos como o Prof. Reis é uma ruptura objectiva com esse ambiente anti-comunitário, anti-Nação. Por isso, só tem espaço nas acções paralelas de Cultura social e ideologicamente assumida no quotidiano, até por que o Prof. Reis expõe-se também como um dos principais pensadores-críticos das teologias do/de Poder condomínio através da apresentação de uma solução socrática: o Jesuanismo libertário. Carismático mas não dogmático, filósofo autêntico, o português Manuel Reis alimenta a nossa Consciência humana contra o Objecto que, desde sempre, o Poder, civil e religioso, quer que sejamos; Poder este que nos cerca social e culturalmente através do Consumismo bárbaro, fazedor de Dinheiro, Dinheiro e mais Dinheiro... daí, a Guerra, a Fome. Por isso, ele é a Liberdade em movimento, sadia, anárquica o suficiente para gerar ? e aqui, sim ? uma Cultura portuguesa própria e universalista. O poeta J. C. Macedo, seu companheiro de acções sócio-culturais, políticas e cineclubistas, afirmou o seguinte: "O professor Reis é uma Lição amorosa de Liberdade, porque a sua Filosofia repassa o Saber necessário para abrir caminhos no Portugal profundo e físico, mas também no Portugal que está e percorre o Mundo, além de que essa Lição de humanismo crítico cabe em qualquer Língua ou Cultura. Ele é uma referência cultural e teológica, talvez o melhor defensor vivo da tese do Jesuanismo autêntico, libertador" [Buenos Aires, Argentina ? 2005]. Ou seja: o Prof. Reis é ele-mesmo nas leituras que nos proporciona. "É o profundo Portugal dos regionalismos naturalmente embasados na Nação e, ao mesmo tempo, o universalista observador do ser português no ambiente global(izado) pelo Capitalismo desumano e bélico", como escreveu a Profª Maria Vidal [Guatemala, 2007]. No entanto, é na defesa do Jesus homem, político e mítico-místico, que ele melhor atinge a nossa alma que busca libertar-se. É, aqui, o filósofo luso-socrático que pensa o Mundo reconstruindo-o à luz do Todo humano para nos humanizar, dizermos do Amor, porque a Liberdade só existe com Amor. Falar de Manuel Reis é estabelecer o Diálogo que ele próprio exemplifica em seus actos intelectuais. As suas obras literárias têm eco na Pessoa Consciente, não implicam na sedução comercial, renovam a Ética que é estar para aprendermos a ser Humanidade, como João Barcellos gosta de defini-lo. Para sabermos o que é o Portugal cultural de hoje é preciso aprender a ler Manuel Reis, estabelecer em nós uma linha de comunicação que alcance Sócrates e Jesus, e entre eles Reis e Nós!
Rosemary O`Connor
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