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Telefone móvel: para quê?

Parece desnecessária a indagação: para que serve um telefone? Substantivamente, nem há razão para ela. E o adjetivo (móvel ou celular) parece apenas acrescentar a possibilidade de uso deste artefato tecnológico em diferentes espaços. É o telefone com a mobilidade necessária para que as pessoas possam ser contatadas (quase) em qualquer tempo e lugar.
Assim, a acessibilidade pode ser assumida como a principal característica definidora do telefone móvel. A acessibilidade, tanto do ponto de vista comunicacional quanto do econômico, sugere que o telefone móvel seja o meio de comunicação mais democrático do momento. No Brasil, por exemplo, desde 2007, há mais de cem milhões de assinantes de serviços pré-pagos e pós-pagos. Há, também, um espanto quase inescapável quando alguém declara não ter um telefone móvel. Como é que alguém pode viver sem ele? Que pessoas inacessíveis são estas? Há cerca de uma década, não apenas linhas e aparelhos eram caros, como também era o possuidor de ambos que arcava com os altos custos das ligações feitas ou recebidas. Portar um aparelho representava algum status, por vezes indevidamente tomado como ícone de poder, já que os poderosos de fato não costumam atender telefone. Com o passar do tempo, o mercado foi sendo ampliado pela abolição das linhas e pelas alternativas de aparelhos e planos.
Como ilustração, quero registrar uma cena marcante que testemunhei ao final de 2007, mesmo sem entrar na discussão do que pode haver por trás dela. Começo de noite em que haveria coleta de lixo na minha rua, pessoas revirando os sacos embalados dispostos junto à calçada, o mal-estar de sempre desta vez com um tempero inusitado: um catador de lixo interrompeu o que fazia porque tocou o telefone que trazia na cintura!
À minha frente, uma mulher contava à amiga que o novo aparelho da filha permitia monitorá-la em qualquer ponto da cidade. Logo atrás, um adolescente parecia vir digitando uma longa mensagem de texto (um "torpedo"), a julgar pelos sinais sonoros emitidos pelas teclas. O porteiro procurava disfarçar, mas não tirava os olhos do joguinho do seu telefone novo. Pessoas muito diferentes e um "mesmo" aparelhinho (quase) onipresente!
No jornal, ofertas de aparelhos como sugestões de presentes de Natal. A variedade era tanta que, didaticamente, havia uma legenda com as especificações de cada um: toques polifônicos, infravermelho, Bluetooth, câmera digital, MP3 player, rádio FM, vídeo (gravação e reprodução), fones de ouvido, sincronização com PC, viva voz integrado, cartão de memória, GPRS etc.. Na internet, neste começo de 2008, muitas notícias envolvendo estes aparelhos. Na abertura do CES (Consumer Electronics Show), feita por Bill Gates, foram a estrela, com recursos como busca por voz e reconhecimento de imagens. Uma empresa brasileira anunciou a criação de um programa que, instalado no telefone, calcula qual a dose de insulina de que diabéticos necessitam a cada momento do dia. O grupo terrorista Al-Qaeda, através da as-Sahab, seu braço midiático, lançou vídeos para download em telefones celulares, desde que tenham a tecnologia Bluetooth e grande capacidade de armazenamento. Claro que os telefones móveis continuam servindo para falar e a invadir o espaço auditivo dos outros, nas mais variadas situações sociais. Permanecem questões a encaminhar quando eles também invadem as escolas e as salas de aula. Mas, por toda a gama de possibilidades sugerida acima, está na hora de fazer com que eles "invadam" os currículos, para a discussão do quê e do como os alunos aprendem com eles, quer em termos de novas formas de sociabilidade, quer das informações que eles fazem circular.

Raquel Goulart Barreto


  
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Edição:

N.º 175
Ano 17, Fevereiro 2008

Autoria:

Raquel Goulart Barreto
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, UERJ
Raquel Goulart Barreto
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, UERJ

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