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Relações raciais, identidade étnica e o espaço tempo escolar

Criança negra no cotidiano escolar

"A defesa da igualdade silencia e nega as diferenças"
(Candau 2006, p.489)

Para a maioria das crianças afro-descendentes, pobres e moradoras de periferias, o processo de escolarização, de uma forma geral, tem contribuído e representado uma forte desqualificação de seus saberes, valores, linguagens e suas vivências culturais e religiosas.
No contexto escolar, essas crianças são desafiadas a aprender outra lógica, outra variante lingüística, outra religião, que se identifiquem com o seu contexto sociocultural. Com isso, essas crianças acabam sendo tratadas como diferentes do modelo da escola, sendo que essas diferenças não são consideradas como culturais, mas, ainda assim, muitas vezes são vivenciadas pelas crianças como fatores de discriminação, contribuindo para a exclusão e a desigualdade social que nega as diferenças e opera sobre o processo da homogeneização.
As crianças afro-descendentes são as mais atingidas pelo sistema da homogeneização cultural, que tenta apagar as suas diferenças sociais, culturais, econômicas e religiosas, em nome de um paradigma onde a cultura ocidental eurocêntrica, pautada por um conhecimento cientifico e hegemônico, desqualifica os saberes, as falas e a vida dessas crianças no contexto escolar.
Neste sentido, vivemos numa sociedade pautada no paradigma da igualdade, que nega as diferenças e com isso acaba ajudando para a desqualificação e opressão das crianças afro-descendentes no cotidiano escolar e na sociedade.
Falar sobre as questões raciais no espaço tempo do cotidiano escolar é falar sobre diferenças, preconceito, discriminação, racismo, etnia, raça etc., presentes no cotidiano escolar e na nossa sociedade em geral, muitas vezes mascarados, tornando imprescindível o reconhecimento do direito dos negros de serem protagonistas de sua própria história e da história da sociedade.
Que sejam respeitadas a sua história, cultura, religião e a valorização do patrimônio histórico-cultural afro-brasileiro para que possam se ver e ser reconhecidos como sujeitos portadores de uma cultura, e se identificar como tal. Sendo assim, proporcionando o resgate da sua memória/história, rompendo o silenciamento e garantido o acesso e permanência para atuar como cidadãos de direitos e iguais para o pleno desenvolvimento de todos e todas as crianças afro-descendentes.
Trago para o texto uma prática vivenciada por mim com uma turma de 1ª série, em uma escola pública no Rio de Janeiro, ao trabalhar com a turma, o livro de literatura infantil "Menina bonita do laço de fita" de Ana Maria Machado (2005). Ao iniciarmos a leitura, logo começaram, também, os burburinhos, as conversas e as perguntas. Uma aluna logo falou: "ela não é bonita". Ao pedir para a turma, depois de terminada a leitura, escrever ou desenhar algo sobre o livro, um aluno fez o desenho com uma escrita colocando o seu pensamento:
? Existia um rato que queria ser igual à garota, pretinho feito a graxa ².
Reconhecer os diferentes sujeitos socioculturais envolve no reconhecimento e na importância política, econômica e social da história do negro africano e brasileiro para que não haja um massacre da identidade do povo negro. Um outro ponto importante que deve ser discutido é o desconhecimento dos professores quanto a questão racial.

Referências Bibliográficas:
CANDAU, Vera. Diferença(s) e Educação: Aproximações a Partir da Perspectiva Intercultural. Endipe, 2002.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 174
Ano 17, Janeiro 2008

Autoria:

Sara Moutinho da Silva
Professora e leitora de a Página da Educação
Sara Moutinho da Silva
Professora e leitora de a Página da Educação

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