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A Burguesia e a Educação Física

... o advento da Educação Física partiu do pressuposto que a ginástica faria o homem mais forte e mais saudável e tais características possuíam suma importância: servir a pátria, eugenização da raça e assepsia social.

Para compreender o homem é preciso entender a história. A Educação Física não é diferente. A construção do homem dá-se a partir do meio em que vive onde este sofre influências sociais, factor determinante na sua formação.
Pergunta-se o que a Educação Física tem a ver com a formação do homem? Na Europa, a partir do século XIX, a ginástica que, com sua expressão da cultura, se constrói das relações quotidianas, divertimentos e festas populares, possui em seu interior princípios de ordem e disciplina que podem ser aproveitados. Vendo esta possibilidade, a sociedade burguesa se apropria da ginástica para impor o ?bem-estar? da população, criando o Movimento Ginástico Europeu. Com isso, transformou a ginástica popular numa prática cheia de preceitos e normas de bem viver. Este facto deu-se por a classe burguesa entender que era necessário manter a sua hegemonia, visto que a população urbana crescente era um perigo para os objectivos do capital. Desta forma era preciso ?obter? um novo homem.
Como se pôde observar, a sociedade burguesa traça o perfil do homem e nesta perspectiva começa a surgir a Educação Física, entendida neste primeiro momento como ginástica. Nesse contexto, a mesma possui um fundamental papel na (re)construção deste homem, visto como ser biológico. É com esta visão anátomo-fisiológica que o ideal burguês irá formar o cidadão daquele século. Contudo, nesse primeiro momento, é preciso entender as concepções que nortearam a Educação Física. A contento dos ideais burgueses, era preciso ter o homem forte, apto para produzir e gerar capital, visto que nessa época a industrialização estava em seu período crescente e o interesse primeiro era produzir.
Com isso, a sociedade burguesa utilizando-se de uma educação diferenciada, insere a Educação Física para o ensino do proletariado. A partir daí fomenta-se que o trabalhador precisa de desempenhar as suas funções com
vigor físico. Portanto, tornou-se a escolarização primária base para utilização do exercício físico no conteúdo escolar, não esquecendo que esta preocupação tinha motivos económicos de uma sociedade capitalista. Então, a Educação Física assume um papel social de higienização. Com o idealismo de que o exercício físico produz saúde, neste contexto ela começa a veicular a necessidade pura e exclusivamente de ?cuidar do corpo?, sendo que este corpo é visto de forma dicotómica. Com esta visão dual do homem a Educação Física aparece para propor uma construção de sociedade ?saudável?.
Mais uma vez, ficam claras as intenções da sociedade ocidental da época sobre o prisma de obter saúde através do desenvolvimento físico: convém à burguesia enaltecer o indivíduo abstracto para neutralizá-lo de acções críticas evidenciando a natureza do homem biológico, tornando-o um alienado social. Para CHAUÍ ( 1997 ) os homens não se reconhecem como produtores das instituições socio-políticas e oscilam entre duas atitudes: ou aceitam passivamente tudo o que existe, por ser tido como natural, divino ou racional, ou se rebelam individualmente, julgando que, por sua própria vontade e inteligência, podem mais que a realidade que os condiciona. No que tange à formação do homem da respectiva sociedade burguesa, o próprio homem dominado caracterizava-se como sendo passivo nas atitudes. Para ter tal caracterização existe formação do senso comum da sociedade.
Como foi salientado, o advento da Educação Física partiu do pressuposto que a ginástica faria o homem mais forte e mais saudável e tais características possuíam suma importância: servir a pátria, eugenização da raça e assepsia social. Será que ainda hoje é permitido ver o sujeito apenas como um indivíduo biológico? Qual seria o papel da educação física ao reproduzir os movimentos humanos como algo acéfalo da realidade? Ou vislumbrar uma cultura corporal de movimento que proponha ao sujeito uma reflexão da sociedade que este está inserido? Reflectamos em que sociedade queremos viver!


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 153
Ano 15, Fevereiro 2006

Autoria:

Kleber Silva Rocha
Professor no Brasil ? CEPMN, Mestrando na FPCE-UP / ESE- IPLeiria
Kleber Silva Rocha
Professor no Brasil ? CEPMN, Mestrando na FPCE-UP / ESE- IPLeiria

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