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A receita da Guerra sem Fim

A promessa do presidente norte-americano George W. Bush de pôr termo à tirania no planeta levanta algumas interrogações ao Mundo livre. O desígnio é grande e nobre, mas o Mundo não encomendou este sermão ao presidente dos Estados Unidos, nem este tem legitimidade para falar em nome do Mundo. George W. Bush será ? assim se julga ? o presidente de todos os norte-americanos, mesmo dos que votaram Kerry, mas não o presidente da humanidade.
George W. Bush nunca utilizou, no discurso de posse do seu segundo mandato, a palavra ?terrorismo? (tantas e tantas vezes utilizada no passado) nem nomeou directamente o dia 11 de Setembro, data substituída pela expressão eufemística ?dia de fogo?.  Bush elegeu para um discurso repleto de referências às três religiões monoteístas ? (Cristianismo. Islamismo e Judaismo)  as palavras ?tirania? e ?liberdade?. Palavras rigorosamente escolhidas.
Para Washington, a China, a Rússia, o Paquistão, o Egipto (entre outros) são países governados com maior ou menor tirania. Como o Irão, país que os Estados Unidos já avisaram poder estar na mira das Forças Armadas norte-americanas. Significarão os excessos retóricos de George W. Bush um aviso prévio para uma nova cruzada?
Tentando pôr água na fervura, alguns assessores do Governo norte-americano apressaram-se a dizer que as palavras do presidente não devem ser interpretadas à letra. Outros foram mais longe e chegaram a sublinhar que o discurso está elaborado de forma a não comprometer George W. Bush.
Mas há também, entre os americanos (e não apenas entre aqueles militantes que se manifestaram contra a política de Bush no dia de posse do presidente) quem fale numa perigosa alteração da política externa norte-americana no sentido de legitimar  qualquer intervenção dos EUA no exterior.
Pat Buchaman, conselheiro de Reagan, já advertiu, publicamente, contra esta ?receita para uma Guerra sem fim? e o editorialista do Wall Street Journal, Peggy Noonan, reconhecido fã incondicional do presidente, já se demarcou dizendo que ?a função (de Bush) subiu-lhe à cabeça?.
Não é preciso aguardar pelas eleições do Iraque (que terão já ocorrido quando os leitores estiverem a ler este texto) para se saber que elas jamais poderão ser realmente livres, quer tenham uma participação significativa, como pretendem os americanos, ou insignificante como quer a resistência. Não há liberdade num país ocupado.


  
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Edição:

N.º 142
Ano 14, Fevereiro 2005

Autoria:

João Rita
Jornalista, Porto
João Rita
Jornalista, Porto

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