Página  >  Edições  >  N.º 183  >  Os modelos e as boas práticas na iniciação ao e-learning

Os modelos e as boas práticas na iniciação ao e-learning

No início de uma experiência docente em ensino online não haverá espaço para grande criatividade. Será então recomendável seguir o mais rigorosamente possível, sem grande inovação e criatividade o modelo proposto por o modelo pedagógico adoptado (ex. modelo pedagógico da Universidade Aberta) ou as boas práticas desenvolvidas por professores mais experientes. O e-learning "é ainda fluido e em estado de mudança" assim os modelos ou as boas práticas poderão servir de âncora a que o professor se possa agarrar e, de algum modo, fundamentar ou firmar a sua prática.
A inexperiência pode não permitir estar atento aos pontos críticos, a não poder dar respostas flexíveis ou a enfrentar o imprevisto da interacção online. Só o desenvolvimento de sucessivas experiências poderá contribuir para criar uma base de dados (explícita ou implícita) activa de experiências acumuladas que permitam dar respostas mais adequadas às situações imprevistas. Como na escrita, nas artes, no ensino presencial poderemos dizer que será necessário conhecer bem a gramática (regras) para desenvolver uma prática correcta (para isto as normas orientadoras e o conhecimento teórico são boa ferramentas - uma boa cartilha dos princípios básicos e fundamentais). A inovação ou a adequação situações problemáticas, novas e complexas só surgirá depois da incorporação das regras básicas e de experiências acumuladas e reflectidas.
Há, no entanto, alguns instrumentos utilizáveis neste contexto das experiências iniciais do docente online: 1) o bom senso e as experiências anteriores do professor (decorrentes de qualquer situação de ensino a distância ou presencial ? "um excelente e-professor é um excelente professor" Anderson); 2) a confiança e diligência mas também a humildade [oposta à arrogância, o ao procurar nos outros, ou nos contextos, as razões dos nossos fracassos expressa numa diversidade de expressões que conhecemos] para a procura de soluções às situações críticas; 3) o diálogo entre colegas na resolução de problemas, na formação contínua, na investigação, e na troca de informação; 4) sobretudo, parece de singular relevância, ser-se capaz de superação, inovação e perseverança típica dos pioneiros num terreno estranho (Anderson).
Não esqueçamos também que há variáveis a considerar exteriores às disciplinas ou matérias a ensinar: 1) estas são frequentemente da responsabilidade da estrutura e nem sempre estarão bem integradas nos cursos de que fazem parte. Alguns autores referem que as mudanças no ensino exigem uma mudança na cultura institucional (DART ? Columbia University e London School of Economics); 2) não esqueçamos também que estamos em Portugal com uma população adulta com um deficit de utilização das tecnologias, com hábitos de focalização de interesse mais nos resultados da avaliação que no saber, no desenvolvimento de competências [a não ser as de realização dos exames], no trabalho académico.
No ensino presencial as salas, quando a presença não é obrigatória, estão geralmente vazias ou com estudantes pouco participativos e os estudantes de ensino a distância tradicional (2ª geração ou modelo), durante o ano, centram a sua interacção com os professores sobretudo no saber como é o exame, o modelo de exame, as respostas às perguntas do exame.
Não esqueçamos também que, na nossa época, há uma acentuada mudança de valores na sociedade e na cultura mas também nas gerações. Caracterizar essa mudança com alguns tópicos: 1) apetência para uma recompensa imediata de um esforço ? se o curso não responde a necessidades sentidas e não pressentem recompensas imediatas (emprego, saídas profissionais, boas remunerações, etc?) abandona-se, larga-se. Isto acontece em muitas outras situações da vida social actual tornando-se, de certa forma, uma dimensão cultural da nossa época; 2) o entretenimento e o divertimento, sobretudo nos estudantes mais jovens, são mais apelativos que o esforço, o sofrimento, o trabalho, mesmo que estes conduzam a melhores oportunidade ? seu maior interesse está mais orientado para o imediato; 3) o trabalho e o ensino online, baseado nas tecnologias, vão ao encontro dos mais jovens habituados a usá-las sobretudo nos jogos. Desta situação decorrem inúmeras perguntas: A estruturação dos conteúdos aproveita esta sinergia, esta disponibilidade, esta capacidade instalada? O que sabemos e utilizamos como novas formas de estruturação de conteúdos (menos monolíticos ? forma de "os modificar facilmente em resposta à necessidade dos estudantes? a flexibilidade é um custo, a personificação do produto é mais cara que a estandardização (Anderson). 4) as tecnologias respondem a necessidades e a motivações dos jovens e mesmo de adultos nas sociedades actuais ? interesse pela auto-expressão, auto-realização susceptíveis de serem exploradas no e-learning (Peters, Aretio, Shneiderman, Anderson).

José da Silva Ribeiro


  
Ficha do Artigo
Imprimir Abrir como PDF

Edição:

N.º 183
Ano 17, Novembro 2008

Autoria:

José da Silva Ribeiro
Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais. Laboratório de Antropologia Visual. Universidade Aberta
José da Silva Ribeiro
Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais. Laboratório de Antropologia Visual. Universidade Aberta

Partilhar nas redes sociais:

|


Publicidade


Voltar ao Topo