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O cosmonauta Gagarine

Quem já teve ocasião de olhar para as imagens filmadas de Yuri Gagarine devolvido ao planeta Terra após a sua inaugural aventura espacial, terá certamente notado a sua aparência dificilmente descritível. Uma expressão imensamente tranquila. Quiçá um pouco espantado. Mas sim, com sinais de ter sido profundamente tocado pelo que tinha acabado de viver no seu voo de cerca de duas horas – mais precisamente 108 minutos. É realmente uma aparência impressionante!
Nesse momento, Gagarine não parecia o mesmo homem de sempre, com um sorriso permanente na face. Afável, se bem que determinado. Todas as imagens anteriores e posteriores o mostram; todas as descrições de quem o conhecia o corroboram: Yuri Gagarine estava a viver o que de novo tinha presenciado, o que tinha sentido, aquilo por que nenhum ser humano alguma vez passara. E sozinho no espaço imenso. Regressava como que transformado num extraterrestre!
Meia dúzia de anos mais tarde, num texto dedicado ao cinquentenário da Revolução de Outubro, Yuri Gagarine escreveu: “Poderei alguma vez esquecer o Sol, fonte da vida do nosso planeta, exuberante, de um branco azulado, completamente diferente da sua imagem observável na Terra? Os que o viram tal como ele é são ainda pouco numerosos.
De qualquer modo, estou certo que muitos o verão, dezenas, centenas de terrestres, homens de todas as profissões e cidadãos de todos os países. Procurando decifrar os mistérios do Universo, eles sonharão com o bem dos homens”.
Ainda Gagarine, sobre aquele que é consideralo ‘o pai’ da cosmonáuitica soviética: “Konstantin Tsiolkovski, sábio dotado de um poder de previsão extraordinário, disse que os homens acabariam por conquistar todo o espaço à volta do Sol. Apercebo-me que esta obra exigirá o esforço de numerosas gerações, um esforço que irá sendo desenvolvido em consonância com o ritmo do progresso científico e técnico. Se os homens progressistas unirem os seus esforços, estou convencido que a humanidade construirá os primeiros degraus que conduzirão ao espaço, talvez a Marte. Esta domesticação do Cosmos, realizada num clima de amizade, trará vantagens infinitas também do ponto de vista puramente terrestre, por exemplo, em matéria de controlo do clima”.
Significativas estas palavras. Nelas se contêm o espírito e a vontade com que Gagarine embarcou na aventura espacial. É um grande exemplo nos dias que correm. Dias, cujo o espírito dominante se encontra nos antípodas do sonhar com o bem dos homens e em que a humanidade aprenderá a estar no Cosmos como na sua própria casa (a domus da domesticação), apoiada num “clima de amizade”.
Interessante, também, a indicação do papel que a empresa espacial deveria ter em matéria de controlo do clima – o mesmo objetivo que se grita hoje aos quatro ventos sob o termo de sustentabilidade! Yuri a pensar mais nos avanços do conhecimento científico a favor da melhoria da vida na Terra do que obcecado pela “mania” dos satélites espiões...
2012. Estando a ficar para trás o 50º aniversário do voo inicial de Gagarine, podemos fazer uma avaliação positiva do impacto da empresa espacial em que a humanidade então embarcou. É certo que ela tem decorrido com altos e baixos, mas está bem implantada. E é também já a força crescente da contribuição que a China está a trazer que acrescenta esperança quanto à realização do futuro antevisto por Yuri Gagarine.
Termino com o voto de que as nossas memórias gravem para sempre a façanha de Yuri. Mas que também conservem o legado do seu pensamento – que nunca se apaguem dos nossos corações a sua façanha e o seu pensamento!

Francisco Silva


  
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