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Guimarães’2012: Coração da Cultura Europeia

Guimarães continua de coração aberto aos curiosos que a visitam pela sua história, cultura e tradição, convidando-os a descobrirem o espaço público e a assistirem aos numerosos eventos que vão decorrer até ao final do ano. É a terceira vez que uma cidade portuguesa é designada Capital Europeia da Cultura, e na Cidade-Berço a cultura manifesta-se das mais variadas formas.

 

Em Guimarães cruzam-se várias artes, do cinema à dança, da música às artes plásticas, da literatura ao teatro, promovendo a diversidade cultural da Europa. E o caminho já vai bem para lá de meio. Pelas ruas do centro histórico, que também é Património Mundial, vive-se cultura e tropeça-se em visitantes que querem fazer parte do evento.

Uma agenda cultural intensa, produtos artísticos diversos, espaços requalificados, estruturas pensadas para o futuro, envolvimento da população… Estes são alguns dos ingredientes para uma capital que se quer europeia e cultural. Porque é preciso também pensar a cidade e aproveitar o momento para uma regeneração social, urbana e económica, valorizando o património e todo o potencial existente.

“A designação de Capital Europeia da Cultura constitui uma oportunidade singular que convoca o interesse de muitas cidades. Tendo em conta a dimensão da cidade, a atribuição do título assume-se como reconhecimento do seu potencial. O legado de Guimarães’2012 não só destaca a posição da cidade no mapa de exposições e espetáculos, como contempla um conjunto de estruturas e material de produção cultural. É também importante destacar o envolvimento da população e dos agentes locais na programação. Contam-se mais de oito mil vimaranenses não profissionais envolvidos na programação”, afirmou à PÁGINA Carlos Martins, diretor executivo de Guimarães’2012.

Foi um trabalho longo, com apostas ganhas e com algumas vicissitudes e dificuldades pelo caminho. Na viragem dos seis meses, em junho, a organização fazia um balanço positivo, considerando que 2012 é um ano em grande para a cidade e para o país. “Os resultados de seis meses de Capital Europeia da Cultura são o reflexo da capacidade de resposta e de trabalho de toda a equipa. Neste período, Guimarães já acolheu mais de 950 eventos, entre concertos, espetáculos de diversas disciplinas, exposições, exibições de filmes, conferências, mostras, workshops e ações de serviço educativo. Existe um conjunto de ações consumadas e em desenvolvimento que enriquecem a cidade não só durante 2012. Acreditamos que a cidade e o país podem esperar repercussões muito positivas em 2013 e daí em diante”, refere o mesmo responsável.

 

Marcas para o futuro

O programa não conta só com eventos que se fruem, mas que permanecem apenas na memória. É importante deixar marcas para o futuro e lançar sementes. Nesta perspetiva, Guimarães’2012 tem três eixos estruturais: Paisagem Criativa, Intercâmbio Criativo e Cidades Inovadoras, correspondendo cada um a diferentes áreas de intervenção (Território, Economia e Inovação, Colaboração Internacional), com objetivos estratégicos que passam, por exemplo, por animar e reutilizar espaços, convidar locais e visitantes a redescobrirem a cidade, incentivar o debate sobre ela e fazer de Guimarães uma cidade mediadora da criatividade e da inovação, através de reflexões, plataformas, conferências e workshops.

Estão também em curso vários projetos, que promovem o empreendedorismo e o talento, como o Laboratório de Empreendedorismo (programa de geração de talentos que estimula a criação de negócios criativos), o On/Off – Laboratório de Criatividade Urbana (plataforma de encontro para projetos criativos com espaços de trabalho e mostras de projetos artísticos), o Laboratório de Criação Digital (espaço dedicado à criatividade, experimentação e colaboração multidisciplinar nas artes digitais e multimédia) e o Laboratório de Moda (programa de promoção do talento regional).

Há, ainda, o Serviço Educativo, com uma programação artística multidisciplinar, acessível a públicos mais jovens e que promove o contacto desse público com várias práticas artísticas através de oficinas, visitas guiadas, laboratórios ou conversas. Os projetos são variados, mas todos têm a mesma meta – fazer com que Guimarães seja uma referência também no futuro.

“Guimarães’2012 está a qualificar o espaço de criação cultural do lado da oferta e a criar condições para uma valorização deste destino, ou seja, atua também do lado da procura. Sem prejuízo de que os resultados deste tipo de intervenções demorem uma geração a produzir efeitos. Cremos que a imagem da cidade e a sua posição na rede das cidades-referência no plano artístico cultural será substancialmente melhorada. Além disso, um importante conjunto de estruturas de produção artística e de design ficará disponível para o futuro: laboratório de criação digital, centro de audiovisual, plataforma das artes, teatro estúdio, etc.”, explica Carlos Martins.

 

Forte impacto turístico

Ser Capital Europeia da Cultura atrai visitantes. Milhares. Muitos. E é preciso estar preparado e ter condições para os receber. O número de visitas aos museus aumentou, tal como o número de dormidas na cidade e o número de pessoas que viajam no teleférico. A maioria dos visitantes é de nacionalidade portuguesa, mas há muito estrangeiros. O impacto turístico tem sido considerável.

“Os estudos de caracterização de públicos demonstram que 50 por cento dos participantes nos eventos é de fora de Guimarães e 25 por cento de fora do país, destacando-se o público espanhol, seguido do francês, belga, brasileiro e alemão. Os estudos confirmam, também, que metade dos visitantes pernoita na cidade e, em média, participa em três atividades. Os números favorecem a expectativa”, revela Carlos Martins.

Muitos eventos já correram palcos, ruas e outros espaços vimaranenses: exposições, oficinas, exibição de filmes, peças de teatro, espetáculos de dança, concertos com nomes como Ute Lemper, Pat Matheny, Russian Red, JP Simões ou a Orquestra Metropolitana de Lisboa, entre muitos outros. Uma variedade grande de expressões artísticas, a servir todos os gostos.

Mas até ao final do ano haverá muito mais na Cidade-Berço. O diretor executivo de Guimarães’2012 referiu à PÁGINA alguns dos eventos mais relevantes que vão acontecer: “No seguimento das mudanças de ciclo anteriores, a companhia La Fura dels Baus vai regressar em 22 de dezembro para o Espectáculo de Não Encerramento, que conta com um forte envolvimento da comunidade, assinalando o desenvolvimento de todo o ano de Capital Europeia da Cultura e o seu legado. Também até ao final do ano, prosseguirá a exibição de filmes encomendados, realçando-se a produção local de 30 novos filmes – entre as estreias, destaca-se uma obra de Manoel de Oliveira, filmada em envolvimento com a cidade. Já em setembro, arrancou a Contextile, uma trienal internacional de arte têxtil contemporânea, que sublinha a tradição têxtil da região. Em outubro, Michelangelo Pistoletto apresenta Terzo Paradiso, um projeto desenvolvido propositadamente para a Capital Europeia da Cultura. Novembro será marcado pelo culminar do projeto Smaller Cities, que apostou na criação de uma rede de cidades de pequena e média dimensões e que terá como evento final o Cidade Campus. E a nível musical, é de sublinhar que o Guimarães Jazz (8 a 17 de novembro) se associou à programação”, conclui Carlos Martins.

Maria João Leite

 

VALORIZAR E PROMOVER A CULTURA

A União Europeia criou a Capital Europeia da Cultura com o intuito de valorizar a diversidade e a riqueza das culturas europeias, apostando no desenvolvimento cultural, social e económico sustentável das cidades escolhidas. Ao longo de um ano, as localidades eleitas acolhem eventos, quebram barreiras e mostram-se ao mundo, aproximando culturas e cidadãos. A iniciativa foi lançada em Atenas, a 13 de junho de 1985, então sob a designação de Cidade Europeia da Cultura, que permaneceu até 1999. Lisboa foi a primeira cidade portuguesa distinguida com o estatuto (1994), seguindo-se o Porto, em 2001. Guimarães é Capital Europeia da Cultura a par com Maribor (Eslovénia).

 

DEPOIS DA CULTURA, O DESPORTO

Em 2013, Guimarães vai ser Cidade Europeia do Desporto, sendo esta a primeira vez que uma cidade portuguesa recebe o estatuto atribuído pela Associação Europeia de Capitais de Desporto (ACES). A Cidade-Berço regista 300 espaços e instalações com aptidão desportiva, 100 clubes desportivos organizados e 8.000 atletas federados, em 42 modalidades diferentes. A candidatura vimaranense foi apresentada em novembro de 2011 e tem como principais metas realizar um grande evento desportivo por semana (num total de 52), estabelecer parcerias com as principais universidades do Norte do país para a elaboração de estudos sobre a realidade desportiva local, integrar toda a atividade no Plano Nacional da Ética no Desporto, através de um memorando de cooperação com a Secretaria de Estado do Desporto e Juventude, e formar dirigentes e agentes desportivos locais.


  
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