“A Primeira Noite” consegue ser ao mesmo tempo cómico e trágico, numa escala edipiana. Como todas as boas comédias, termina num casamento.
Era o summer of love, o primeiro. A juventude fazia-se ouvir na política, revelando o abismo criado entre ela e geração dos seus pais. O filme que assumiu isto foi “The Graduate”, de Mike Nichols, estreado em Dezembro de 1967, faz cinquenta anos. Dustin Hoffman interpreta Benjamin Braddock, um jovem desiludido de vinte e poucos anos que regressa a casa depois de ter terminado a Universidade, e Ann Bancroft é Mrs. Robinson, uma mulher mais velha que o seduz. Meio século depois, este drama inter-genaracional continua tão fresco e sedutor como quando estreou. Continua a ser “The Graduate”, tão atraente e emocionalmente inquietante como um affair com a/o melhor amiga/o dos nossos pais deve ser. Se “The Graduate” fosse apenas um grito de coração de juventude, ter-se-ia tornado tão fora de moda como o papel de parede do quarto de Bradock. O que torna especial este filme é a empatia que mostra pela geração mais velha, personificada por Mrs. Robinson, mesmo no meio de uma sátira tão mordaz. A discussão que fez correr rios de tinta sobre a diferença de idades entre Brigitte Macron e o seu marido [Emmanuel Macron, Presidente da República de França] demonstrou que ainda não saímos do nosso interesse devasso por mulheres mais velhas. Mrs. Robinson consegue ser ao mesmo tempo atraente e repugnante, predadora e digna de pena e, apesar da sua mania das ilustrações de animais, muito mais complexa do que todas as pornograficadas sucessoras. Nenhum filme que abra com “hello darkness, my old friend” – Sound of Silence, de Paul Simon e Art Garfunkel – pode vir a ser uma comédia, mas “The Graduate” consegue ser ao mesmo tempo cómico e trágico, numa escala edipiana. Como todas as boas comédias, termina num casamento. E, contudo, a ambiguidade continua para lá do happy end, num plano do casal fugitivo, sentados lado a lado no banco traseiro de um autocarro, com uma mistura de vitória e de dúvida estampada nas faces. Talvez o que sentimos sobre “The Graduate” reflicta o patamar a que chegamos da nossa vida. Para os mais velhos, lembra-nos que já fomos jovens. Para os novos, é um aviso de que também vão envelhecer. Se há filme que junte gerações em guerra é este, com um misto de melancolia e auto-comiseração.
Paulo Teixeira de Sousa
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