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Formação de adultos seniores: o caso da UniOlisipo

Face à complexidade das sociedades pós-modernas, ao acentuado envelhecimento das populações nessas sociedades e à diversidade de estatutos – cultural e social – dos seniores, as motivações dos que procuram formações são cada vez mais diferenciadas e, em função disso, os conceitos de educação de adultos têm vindo a ser ajustados às novas realidades.

A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) consagra o conceito de educação de adultos enquanto “conjunto de processos de aprendizagem, formal ou não formal, através dos quais os adultos desenvolvem as suas capacidades, enriquecem os seus conhecimentos e melhoram as suas qualificações técnicas ou profissionais ou as reorientam de modo a satisfazerem as suas próprias necessidades e as da sociedade”.
Trata-se de uma definição ampla e aberta a modos muito diversos de responder às necessidades formativas específicas da população adulta em função dos seus interesses e condições sociais e culturais. Os conceitos, embora com o padrão de referência definido pela UNESCO, são por isso diferenciados, como diferenciados são os modos de os realizar.
Este texto trata de um modo particular de responder às motivações de uma população específica e de, nesse sentido, conceber e desenvolver programas de educação de adultos. Concretamente, visa caracterizar, de modo necessariamente breve, os traços essenciais de uma unidade de formação não formal (Universidade Intergeracional Olisipo), apresentando princípios estruturantes, bem como dados relativos aos seus participantes, à conceção de programas e às metodologias utilizadas.
A UniOlisipo está integrada, com outras vertentes de ação, na associação Olisipo Forum, criada em 2015. Procura responder a motivações de aprendizagem, de partilha e de convívio, de um grupo de 20 a 25 adultos seniores de meio urbano, a maioria com formações superiores diversas. Um elemento determinante de partilha entre todos é o seu interesse em aprofundar conhecimentos sobre Lisboa, enquanto unidade histórica, social e cultural ampla, complexa e integrada.
No intuito de caracterizar, brevemente, a ação da UniOlisipo e a conceção e desenvolvimento dos seus programas, sublinhamos, a seguir, alguns dos seus traços.

Programas e participantes. Lisboa constitui o espaço de estudo e centro gerador dos programas, semestrais e organizados em temáticas integradas, enraizadas na identidade cultural local, respondendo aos interesses de aprendizagem e fruição dos formandos, numa lógica de educação permanente. Lisboa, no espaço e no tempo, é assim entendida como realidade social total, integrada, constituindo o quadro de fundo do qual emergem os temas e as questões que alimentam a construção dos programas.
Os programas são baseados numa estrutura triangular articulada. Não obedecem a uma estrutura curricular no sentido estrito da teoria do currículo escolar. São organizados e desenvolvidos, ao longo dos semestres, pela conjugação de três grandes domínios: história e arqueologia; população, cultura e diversidade; arquitetura e artes. Cada domínio inclui, em cada semestre, dois a três ciclos temáticos, com quatro a seis sessões por cada ciclo. Estas sessões podem revestir o formato de conferências, comunicações, mesas redondas, partilha de experiências, ou visitas guiadas, procurando-se, no entanto, que sejam utilizados diferentes formatos na abordagem de cada ciclo temático (consultar https://olisipo-forum.pt/).
Os participantes são elementos dinâmicos na conceção e realização dos programas. Os programas integram olhares renovados sobre o contributo dos adultos seniores na sociedade atual e, em particular, dos participantes na UniOlisipo, através da identificação contínua das suas motivações e experiências de vida, de sugestões de conteúdos e da preparação e dinamização de sessões livres com temas por eles escolhidos.
As sessões decorrem em diferentes instituições prestigiadas de Lisboa (literárias, históricas, arqueológicas, artísticas, sociológicas, académicas), em função das afinidades dessas instituições com os conteúdos das sessões.

Intergeracionalidade. A UniOlisipo dispõe de um núcleo de três especialistas residentes, com funções de planeamento programático e formação nas suas áreas. Mas a maioria dos formadores é constituída por professores universitários, investigadores, jornalistas e outros especialistas convidados. Através desta rede de formadores de referência, a UniOlisipo assegura uma sólida e atualizada fundamentação científica dos temas tratados.
Embora com referência em seniores ativos, o projeto fundador da UniOlisipo privilegia a abertura à diversidade etária de destinatários e prevê a realização de ações junto de estudantes do Ensino Superior. Os programas são concebidos com abrangência para este tipo de público, correspondendo assim às expectativas de algumas instituições, nomeadamente académicas, onde são realizadas sessões de formação.
Em conclusão, a UniOlisipo propõe programas semestrais flexíveis, que se constituam como um bom desafio cultural, ancorados no aprofundamento de temas significativos para o conhecimento local e em que os participantes possam interligar diferentes domínios do conhecimento e terem eles próprios um papel ativo no desenvolvimento dos programas.

Carlos Cardoso e Isaura Pedro


  
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