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Educação: valores e contravalores

Toda a gente fala em Educação, esquecendo que há muitas pessoas que a estudam. Que até existem as Ciências da Educação... Se o são no sentido mais exigente, é algo sem grande interesse. Importante é avançar, fazer estudos rigorosos e educar melhor.

É comum, a propósito de inúmeras questões, perguntar de que falamos, quando falamos de...?
É verdade: de que falamos no ano 2017, século XXI, em Portugal, quando falamos de Educação? Falamos de um processo que começa com o nascimento, tem como primeiro meio a família, depois a escola, o grupo de colegas, de amigos, mas também outros ‘meios educativos’ como a televisão, a cinematografia e agora, cada vez mais, a internet. Todos esses meios transmitem valores ou contravalores. São, por isso, meios educativos.
Podemos definir valor como algo a que aderimos. Valor é assim diferente de bem, algo palpável, material. Valor é a solidariedade, a bondade, a justiça. A cada valor (positivo) opõe-se um contravalor (ou valor negativo): a maldade, a injustiça, o egoísmo... Os valores não são coisas nem são quantificáveis, mas todos compreendemos o que são, independentemente disso. Não se pode dizer que alguém que se lança ao mar e salva duas pessoas é duas vezes mais solidário do que quem o faz e salva uma pessoa.
Pensará o leitor que estou a escrever muito bem, mas o que digo baseia-se nos estudos do grande pensador espanhol Manuel García Morente, ligado à Institución Libre de Enseñanza, catedrático de Ética na Universidade de Madrid.
A questão da Educação é “complicada”, como muitas vezes ouvi dizer a um pensador anónimo. Toda a gente fala em Educação, não distinguindo sistema educativo de instrução, baralhando educação formal com ‘boa educação’, esquecendo (ou não sabendo) que há muitas pessoas que estudam a Educação com rigor. Que até existem as Ciências da Educação. Se são ciências no sentido mais exigente do termo, tal como outras disciplinas que se ocupam da humanidade, é algo sem grande interesse. Importante é avançar, fazer estudos rigorosos sobre a Educação e... educar melhor.

Dois temas para reflexão. Haverá Educação sem ‘boa educação’? Deverão todos os docentes saber um mínimo de Ciências da Educação?
As praxes mostram o contrário de qualquer ‘educação’: são a afirmação de superioridade de um grupo que lidera, copiando modelos hierárquicos velhos e dogmáticos. As praxes, quantas vezes entre docentes, não são ‘boa educação’: os docentes devem ser ‘bem educados’.
Saber algo sobre Organização Curricular e Administração Educativa, Psicologia ou História da Educação, é necessário ao docente? Penso que é. Quem esquece aquele professor que um dia o animou, o acolheu e aconselhou, quem esquece aquele que, cansado, lhe deu o seu tempo, fora de horas, fora das aulas, aquele que, assim fazendo, foi professor?
O único bem que podemos efetivamente dar é o tempo, o nosso tempo de vida, que não volta. O docente que deu o seu tempo de vida deu também o mais importante bem que possui. E esse tempo dado aos outros é também o maior valor que temos, porque se vai escoando como água entre os dedos. Aí se distinguem também os professores dos ‘educadores’, que na televisão ou noutros meios tantas vezes transmitem contravalores, que não dão nada, além de alienação, mas têm uma audiência gigantesca.

Carlos Mota


  
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