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Observação interpares

Observação interpares não é avaliação de desempenho docente: é uma avaliação formativa que deverá contribuir para melhores práticas pedagógicas; pretende que os professores resolvam, em grupo e em trabalho colaborativo, situações de vária índole; centra-se sempre na aula, nunca no docente.

O Agrupamento de Escolas Gaia Nascente iniciou em 2015/2016 uma experiência pedagógica de supervisão, assente na observação interpares, que envolveu 45% dos professores, em voluntariado.
As experiências relatadas nesse ano letivo, revestiram-se já de aspetos positivos, como o desenvolvimento de aprendizagens pedagógicas e didáticas colaborativas como melhoria no agrupamento.
Via de acesso à formação verdadeiramente centrada nas atividades pedagógicas, à colmatação de dificuldades nos processos de ensino-aprendizagem e às vantagens do trabalho colaborativo, a observação interpares foi, assim, incluída no Projeto de Promoção de Sucesso Educativo do Agrupamento, no biénio letivo de 2016/2018.
A observação de aulas permite a compreensão do contexto em que se desenvolvem os processos de ensino-aprendizagem, suas vicissitudes e êxitos. Observam-se métodos adotados e relações entre todos os intervenientes da aula, permitindo que os observadores se enriqueçam e contribuam também para a melhoria dos observados.
Para que a observação interpares seja possível, os professores deixam o seu isolamento tradicional, posicionam-se em situação de abertura aos seus pares e a ideias inovadoras e desejam contribuir para o sucesso educativo. Sobretudo, têm de reconhecer a sua profissão como criativa, reflexiva, intelectual.
A observação interpares centra-se sempre na aula, nunca na pessoa do educador. Não é um processo individual de avaliação de desempenho docente. É uma avaliação formativa que deverá contribuir para melhores práticas pedagógicas. Esta forma de supervisão pretende que os professores resolvam situações de índole variada, em grupos e em trabalho colaborativo.

Organização. Na fase inicial, desde que houvesse trabalho colaborativo de observação e reflexão conjunta, trabalhou-se, em último caso, até com grupos de duas pessoas. Porém, a situação ideal pretendida aponta para grupos de quatro professores, multidisciplinares, de diferentes ciclos, se possível em anos seguidos: pré-escolar/1º ano; 4º/5º; 6º/7º e 9º/10º. Podem também formar-se grupos dentro de um conselho de turma, quando os objetivos principais são de intervenção na mesma.
As diferentes formações das equipas pedagógicas conduzirão a diferentes objetivos (combinados a priori pela equipa) e a observações focalizadas, eventualmente solicitadas pelo observado.
A observação deve ser feita por dois observadores, para melhorar a discussão pedagógica; a mais-valia reside na interiorização de diferentes estratégias didáticas utilizadas em diferentes disciplinas e ciclos de ensino, de forma a que cada docente se torne mais competente e mais eficaz. Tomando como exemplo uma equipa de quatro elementos (A, B, C, D): aula do elemento A (observadores B e D); aula de B (A e C); aula de C (A e D); aula de D (B e C). Assim: todos os observados são observadores, os observadores apresentam os seus pontos de vista ao observado e esta reflexão conjunta tem a colaboração do quarto elemento (espécie de ‘crítico exterior’) – não estarem três como observadores alivia também o tempo dos docentes, já tão ocupado; a equipa reúne quando necessário.
A equipa regista as suas observações e reflexões de forma completamente anónima, numa ficha adaptada, com auscultação dos docentes do agrupamento, a partir do guião utilizado no projeto OPTMUSA [ver nota]. A equipa pode preencher só alguns dos descritores do guião, de acordo com a focalização das observações realizadas.

Observações. Foram apreciadas situações como: “aulas práticas, organização de aulas teórico-práticas, clima de turma, atitude do professor, estrutura da aula, domínio da linguagem, números e operações, iniciação à escrita, Língua portuguesa, aulas ao ar livre, realce dos objetivos da aula”.
De acordo com os professores, foram encontradas situações que acharam importante valorizar e discutir: “maior apoio a alunos com dificuldades; atividades de avaliação formativa; existência de uma linha orientadora comum a muitos docentes; disciplina na sala de aula com jogos didáticos; aula muito bem estruturada, com áudio, poema, gramática e conhecimentos gerais, tudo integrado; ambiente de trabalho responsável e disciplinado, com participação ativa; relacionamento de conteúdos com a História de Portugal; exemplos de apreensão imediata; comunicação verbal e não verbal excecional; modelo construtivista; estratégias individualizadas para NEE; avaliação contínua; boa disposição e cooperação; sistematização da aula com trabalho individualizado; material diferenciado e apelativo; ouvir sempre o aluno; estimulação sensorial – musicoterapia, plástica, culinária; estratégias de individualização pedagógica; estratégia de valorização dos conteúdos e promoção da generalização dos conhecimentos; participação espontânea e controlada dos alunos; exemplos claros facilmente apreendidos pelos alunos; meios e recursos que estimulam as tarefas; ruído próprio de aula prática.”
A experiência continua.

José Rafael Tormenta

Nota: O processo teve a colaboração da doutora Ana Mouraz, responsável pelo projeto OPTMUSA (Observação de Pares Multidisciplinar em Sala de Aula) do Centro de Investigação e Intervenção Educativas, da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP-CIIE); contou, também, com uma sessão de formação com a professora doutora Amélia Lopes, mentora do projeto a nível da Universidade do Porto.


  
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