Esta participação acabou fazendo com que os estudantes vivessem experiências que talvez não fizessem parte dos cotidianos da maioria das escolas e mostra que as juventudes estão mobilizadas para reivindicar direitos sociais básicos e de desenvolvimento social.
Os movimentos de ocupação chegaram às escolas públicas do ensino médio do Rio de Janeiro. As recentes mobilizações de estudantes se deram em apoio à greve de professores do Estado do Rio de Janeiro, que passa por uma crise financeira em que servidores de diversas categorias estão com salários atrasados e com o 13º salário de 2015 parcelado. Os estudantes têm suas próprias reivindicações e fazem denúncias, como: a falta de docentes em diversas disciplinas; a redução das verbas enviadas às escolas; a carência de recursos básicos, como água e material de higiene; a estrutura precária das escolas; a falta de merenda; a carência de funcionários; a inutilidade dos aparelhos de ar condicionado existentes nas salas, etc. Reivindicam que o currículo seja voltado para o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), representação estudantil nas escolas através de eleições para o grêmio, eleição direta para cargo de diretor(a) das escolas e aumento da carga horária das disciplinas de Filosofia, Sociologia, Artes e Língua Estrangeira, entre outras coisas. Em 2013, após muitas cenas de violência na repressão policial ao movimento grevista dos profissionais da educação, passaram a ser comuns as palavras de ordem O professor é meu amigo. Mexeu com ele, mexeu comigo. O incômodo causado por estas repressões violentas, agravadas quando da proximidade da Copa do Mundo de Futebol no Brasil, ganhou as redes sociais e parte da mídia. Estudantes e responsáveis acompanhavam as assembleias, prestavam solidariedade à luta dos profissionais da educação, davam informes, etc. Esta participação acabou fazendo com que os estudantes vivessem experiências que talvez não fizessem parte dos cotidianos da maioria das escolas, como a organização das assembleias, as discussões em torno da luta de classes, o acompanhamento das negociações com o governo, a atenção aos informes jurídicos, realização de atos de protesto nas ruas, etc.
EXERCÍCIO DE CIDADANIA. Em conversa com um estudante da primeira escola ocupada no Rio de Janeiro, percebemos os “agenciamentos” (Deleuze & Guattari) que esses jovens tecem com as tantas redes de conhecimentos-significações com as quais tiveram contato nos movimentos mais recentes no mundo. Tais ocupações se assemelham aos movimentos de ocupação de escolas de São Paulo (Brasil) e Chile, e também de outros movimentos, como Occupy Wall Street (EUA) e 15-M (Espanha). Nas pesquisas que desenvolvemos percebemos que as redes sociais da internet evidenciam aquilo que há muito tempo os praticantes-pensantes fazem: compartilhar saberes-fazeres, que, por sua vez, tomam direções diversas. O processo de ocupação ainda está acontecendo [em junho, quando o texto foi recebido] e não sabemos que rumos e conquistas teremos ao fim desse processo. Nessas ocupações, os estudantes passam a fazer grande limpeza nas escolas; pinturas de paredes; cozinhar para alimentar os que estão dormindo nas escolas; buscar contatos para continuarem estudando, promovendo currículos diferenciados, etc. As marcas que ficam hoje são de um levante popular, estudantil, jovem que dialoga com rappers, funkeiros, professores, atores, líderes sindicais, líderes partidários, etc. Suas referências são muitas, mas não se deixam cooptar, pois tomam para si o protagonismo de suas reivindicações. Esse processo, por si só, já é potente: mostra que as juventudes estão mobilizadas para reivindicar direitos sociais básicos e de desenvolvimento social e, assim, estão a nos ensinar muito.
Joana Ribeiro e Rebeca Brandão
O Colégio Estadual Prefeito Mendes Moraes, o primeiro a ser ocupado por alunos, em 21 de março, foi desocupado no dia 16 de maio, após algumas reivindicações terem sido garantidas. Foram 56 dias de resistência, que ‘valeram’ a exoneração do diretor, o fim do sistema de avaliação do Estado do Rio de Janeiro, uma reunião da Secretaria de Estado com os outros colégios ocupados e um projeto de lei que prevê a eleição de diretores das escolas. Entretanto, no fim de maio, dezenas de colégios estavam ainda ocupados pelos estudantes.
|