Precisamos de investir tempo em refletir. Os projetos e programas de saúde têm de obrigar a momentos de pausa e discussão para reflexão e devem ser continuados no tempo.
O instantâneo comanda as nossas vidas. Carregamos em botões e temos o que queremos, no momento. Não é, assim, de espantar que, trabalhando em Saúde Escolar, encontremos professores e profissionais de saúde a quererem resultados imediatos. Mas a saúde das pessoas depende de um organismo altamente especializado, complexo, desenhado para sobreviver. Mesmo quando maltratado durante anos, consegue encontrar alternativas de funcionamento que permitem a sobrevivência. Não admira, por isso, que, por comerem alimentos ricos em gordura, sal e açúcar, não haja alunos “a cair como tordos”. Leva tempo a adoecer e morrer! E todos os alunos percebem esta realidade. Como podemos admirar-nos que os projetos de Saúde Escolar que sublinham a morte e as doenças como argumento para mudar hábitos não resultem com os alunos? Mas os profissionais de saúde e os professores gostam e aderem a projetos instantâneos, que aparecem num ano e desaparecem no seguinte, ao sabor de uma sociedade científica ou de um aluno de mestrado ou doutoramento que aparece, com muito boas intenções, a testar hipóteses. De outro lado, como a saúde está na moda e rende, há empresas a investir em projetos nas escolas. Mesmo que não vendam diretamente produtos, estão com o seu nome a fazer publicidade, que rende... Que resultados têm estes projetos na mudança de hábitos alimentares, de atividade física, de higiene oral, de saúde mental dos alunos? A velocidade com que entram e saem da escola não permite medir resultados, pelo que, de facto, não se sabe... Reparemos no que nos ensina a natureza: para nascer, é preciso esperar nove longos meses. Como é possível o corpo humano precisar de tanto tempo?! Será que é impossível, para alguém habituado a ter tudo ao carregar em botões, teclas ou ecrãs, aprender a esperar? Como conseguir lidar com o que não consigo, de forma a não me fazer mal? O que posso aproveitar da oportunidade de não ter o que quero? Pensar sobre o que acontece e como nos sentimos ajuda-nos. Precisamos de investir tempo em refletir. Os projetos e programas de saúde têm de obrigar a momentos de pausa e discussão para reflexão. Devem ser continuados no tempo (diferença entre projeto e programa). É pela exposição contínua ao determinante da saúde que a dúvida surge, que a discussão acontece e que a escolha se torna consciente. As respostas instantâneas satisfazem instantaneamente. O fast help provoca instant reactions... Os “pacotes de saúde” prontos a consumir pelas escolas têm de passar pelo aferidor “tempo” para mostrar que resultam e que não se perde o foco de querer pessoas saudáveis. O objetivo final é esse; e não que este projeto que dá este produto e que poupa trabalho ao professor seja melhor do que aquele que obriga o professor a planear a intervenção com os alunos. Não podemos fugir do instantâneo nem do avançar das tecnologias. Temos que aprender a viver bem com elas e tirar o melhor partido dos programas de saúde que obrigam a pensar e a conseguir desligar o botão com frequência!
Débora Cláudio
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