Página  >  Opinião  >  Os problemas éticos da clonagem humana

Os problemas éticos da clonagem humana

A dignidade de qualquer ser humano depende apenas da forma como olhamos para ele, não se trata de uma coisa definida pelo DNA; não existe nenhum gene da dignidade.

A palavra “clonagem” surgiu pela primeira vez em 1903 para designar a propagação de plantas através de cortes e não de sementes, tendo mesmo inspirado o livro de ficção científica «Master Tales Of Myster by The World ´s Most Famous Of To-Day», de Francis Joseph Reynolds (1915). Contudo, há muito tempo que a técnica é utilizada em plantas, mais recentemente em animais e, agora, a fronteira abre-se ao ser humano.
A clonagem humana tornou-se um assunto na ordem do dia sobre o qual paira uma grande polémica, tanto por parte da comunidade científica como, especialmente, por parte da sociedade em geral. Quando se fala em clonagem humana, a maior parte da população associa-a à criação de seres humanos idênticos a outro; contudo, a clonagem é hoje, em termos científicos, uma realidade bem diferente dessa fantasia de “exércitos de humanos iguais”.
A clonagem humana pode ser reprodutiva ou terapêutica: a reprodutiva tem por objetivo a criação de um ser geneticamente idêntico a outro, ou seja, um gémeo; no caso da terapêutica (o tipo de clonagem mais aceite pela comunidade científica), o objetivo é a criação de órgãos e tecidos para fins clínicos. apoio ao desenvolvimento da clonagem humana, uma vez que considera que irá proporcionar a existência de órgãos para transplantes ou tecidos para substituição de tecidos lesados ou que apresentem degenerescência.
Estes “apoiantes” consideram que existiriam também vantagens ao nível do rejuvenescimento, da cirurgia plástica, do implante de órgãos ou na reversão de leucemias ou de outros tipos de cancro.
Relativamente à clonagem reprodutiva, a comunidade científica não é unânime no apoio. Em Portugal, o Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, no seu parecer 21/CNECV/97 sobre as implicações éticas da clonagem, considera mesmo (ponto 2) que “a clonagem de seres humanos, pela gravidade dos problemas que põe à dignidade da pessoa humana, ao equilíbrio da espécie humana e à vida em sociedade, é eticamente inaceitável e deve ser proibida”.
A comunidade científica, especialmente a que está envolvida em estudos de clonagem animal, tem manifestado, ao longo dos últimos anos, o seu Uma das principais barreiras à clonagem humana é colocada por questões religiosas. A Santa Sé considera que, uma vez que a vida humana se inicia no momento da conceção, não é aceitável a utilização de embriões humanos, qualquer que seja o seu fim, dado que essa utilização constitui um atentado à dignidade da vida humana. Em alternativa, o Vaticano propõe a utilização de células totipotentes de indivíduos adultos ou de células estaminais.
Contudo, são várias as sociedades e comissões de Bioética que, apesar de não utilizarem o argumento da “dignidade Humana”, defendem também como alternativa à clonagem a utilização de outros tipos de células, nomeadamente as estaminais existentes no cordão umbilical, como forma de evitar a destruição de embriões humanos.
As questões morais ou éticas não desaparecerão rapidamente. Este é um “admirável mundo novo” que ainda mal saiu do sonho e da utopia de uma sociedade melhor e, neste caso, mais saudável. No que diz respeito ao principal argumento ético de que a clonagem constitui um atentado à dignidade humana, gostaríamos de terminar parafraseando o Professor Alexandre Quintanilha: a dignidade de qualquer ser humano depende apenas da forma como olhamos para ele, não se trata de uma coisa definida pelo DNA; não existe nenhum gene da dignidade.

Departamento de Conteúdos Científicos do Visionarium


  
Ficha do Artigo
Imprimir Abrir como PDF

Partilhar nas redes sociais:

|


Publicidade


Voltar ao Topo