A combinação das exigências do capitalismo cognitivo com o imperativo de educação continuada torna-se um meio garantido de lucratividade. Ao olhar para sites institucionais, é possível enxergar ofertas tentadoras de aprendizagens revolucionárias que prometem fazer a diferença e destacar cada um em algum nicho do mercado de trabalho.
A transição do liberalismo para o neoliberalismo trouxe muitas mudanças. Entre elas, acentuou a ênfase na competição, no melhor desempenho, na quantidade e na inovação. O mercado de trabalho redireciona seu foco e, em consequência, o perfil dos profissionais também sofre alterações. Nos dias de hoje há uma entonação mais constante que evoca a atualização como tábua salvadora do mercado competitivo; voltar a estudar tornou-se requisito básico para manter-se vivo no mercado de trabalho. Contudo, educar-se ao longo da vida vai além da atualização; agora está atrelada ao investimento pessoal, à criatividade renovada, à intensidade de flexibilidade. Os locais de trabalho também se tornaram adeptos de transformações constantes, voltando-se em primeiro lugar à inovação, e depois à produção. Segundo Richard Sennett, “a própria instabilidade das organizações flexíveis impõe aos trabalhadores a necessidade de ‘trocar de vasos’, isto é, correr riscos, com seu trabalho” (A corrosão do caráter). Não se pode mais ficar parado, é necessário inovar e se recriar o tempo todo. Assim, com a chegada do capitalismo cognitivo temos mais um motivo/imperativo para investir em educação continuada. O que chama a atenção, hoje, é a proximidade entre as características da educação continuada e as do capitalismo cognitivo. Ao mesmo tempo que o capitalismo cognitivo exige flexibilidade e criatividade, a educação continuada propõe ensinar como ser flexível e criativo. O capitalismo cognitivo aborda a gestão como gerenciadora da instabilidade. A educação continuada, além de ofertar cursos para ensinar a ser gestor, vai até a empresa para capacitar aqueles que já o são e necessitam atualizar-se, adaptando-se permanente e incansavelmente a exigências emergentes. Essa ligação entre capitalismo cognitivo e educação continuada é a evidência de que a mercantilização da educação para toda a vida está tomando cada vez mais força. Para Maurizio Lazzarato, “todo bem se transforma em mercadoria, e toda atividade é submetida, cada vez mais, ao domínio da moeda” (Trabalho e capital na produção dos conhecimentos). Logo, a combinação das exigências do capitalismo cognitivo com o imperativo de educação continuada torna-se um meio garantido de lucratividade para instituições e organizações de todo tipo. Se você não apresenta competências e habilidades compatíveis com novas demandas do mercado de trabalho, é necessário buscar atualização para se tornar sujeito do tipo que o mercado deseja. A educação continuada é praticamente uma ‘garantia estendida’ da vida. Ao olhar para sites institucionais, é possível enxergar ofertas tentadoras de aprendizagens revolucionárias que prometem fazer a diferença e destacar cada um em algum nicho do mercado de trabalho. Todos devem se atualizar. Ser especialista em constante mutação é fundamental, para isso basta escolher o melhor curso, com a metodologia mais eficiente, entre a infinidade de ofertas a disputar clientes consumidores. Todavia ao pagar por esta mercadoria, devemos estar conscientes do alerta de Sennett: “quando adquirimos uma capacitação, não significa que dispomos de um bem durável” (A cultura do novo capitalismo), pois esta aprendizagem certamente em pouco tempo estará obsoleta e terá de ser substituída. O importante é ter um currículo sempre vendável para poder circular e gerenciar a própria carreira. O tamanho do investimento para que isso aconteça vai depender do perfil empreendedor de cada indivíduo e das ofertas do mercado. A educação continuada inscrita na lógica do capitalismo cognitivo não tem limites. Ela está inserida na sociedade do conhecimento com o objetivo de produzir constantemente novos sujeitos, empresários de si mesmos, capazes de corresponder ao mercado de trabalho competitivo. Assim, em troca de quantias significativas, a educação continuada vem se mercantilizando e movimentando cada vez mais a economia do conhecimento.
Daiana Garibaldi Rocha
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