Esta Escola descura o prazer de aprender, o prazer da procura e da descoberta, limitando-se a seguir um caminho já traçado, sem pedir opinião aos interessados.
Esta reflexão resulta da interpretação do documentário “A Educação Proibida”, que questiona a escolarização moderna e propõe um novo modelo educativo, e do diálogo realizado com estudantes do mestrado em Mediação Intercultural e Intervenção Social do Instituto Politécnico de Leiria. Produzido por Verónica Guzzo e realizado por Germán Doin, o documentário (2012) começa por referir a alegoria da caverna, mostrando como o ser humano vive aprisionado em ideias e crenças que lhe são transmitidas sem questionamento e que acabam por ser interiorizadas como verdades absolutas, condicionando todo o seu pensar futuro. Na caverna, os prisioneiros representam as ideias pré-concebidas, interiorizadas sem serem questionadas, tornando-os imóveis e passivos porque consideram incontestáveis as crenças dominantes. É por isso que se acomodam ao lugar e cultura originais. Para transformar este pensamento, há que questionar de onde vêm as “sombras”, o desconhecido, para se disponibilizar para a partida para novos mundos e novas formas de pensar, sem dependência nem aprisionamentos. É feita uma crítica à Escola e à forma como está estruturada e programada para o ensino. O título remete para uma educação onde o professor é o ator principal, que num monólogo despeja informação para os alunos vistos como um público que recebe conhecimento pré-fabricado, ordenado, condicionado de forma passiva e monótona, o que provoca desinteresse e obriga a decorar sem entendimento, compreensão e motivação. Esta Escola descura o prazer de aprender, o prazer da procura, da descoberta, limitando-se a seguir um caminho já traçado, sem pedir opinião aos interessados. Portanto, educação proibida, na medida em que, como crianças, adultos, pais, educadores e sociedade, não ousamos questionar esse caminho que foi escolhido; permitimos que façam escolhas por nós e nos mantenham dependentes de opções que não fizemos, de modelos que não desejámos, mas que, por medo ou falta de reflexividade, vamos seguindo como uma pauta musical inquestionável e sem espaço para a improvisação e criatividade.
Trajetos em vez de metas. Apesar de haver muitos exemplos de que a escola formal pode ser reinventada, a verdade é que, na prática, a educação acaba por ser proibida por todos e para todos. A Escola não ensina a enfrentar as dificuldades. Fala de educação, progresso, democracia, liberdade e de um mundo melhor, mas muito pouco disso acontece na Escola. As metodologias da Escola moderna conduzem a um afastamento das pessoas e não à convivência e cooperação. Conduzem à competição, tantas vezes realizada por razões de escasso valor. Os alunos continuam com reduzida voz e escassa opinião sobre a Escola e a sociedade em geral. Algumas experiências alternativas têm rompido com este tipo de escola, uniforme e debilitadora, e têm arriscado novas pedagogias, atrevendo-se a transformar as estruturas mais escolásticas, ainda que assumindo, mesmo assim, uma lógica de escola formal. Procura-se, nesta via, a reinvenção da Escola para uma educação mais ativa, popular, libertadora, cooperativa, livre, democrática e holística, adequada às culturas e etnias do mundo contemporâneo. Essas alternativas – conhecidas, pelo menos, desde a proposta de Ivan Illich, de uma sociedade sem escolas – procuram pensar a aprendizagem como um crescimento e desenvolvimento contínuo, onde a troca entre os indivíduos e os seus pares, o meio e as comunidades, são uma constante que tornam a educação mais viva. É por isso que afirmamos que não há um único modelo educativo, muito menos um único modelo escolar. A verdadeira diversidade pedagógica, social e cultural existe quando se respeita e experimenta a diversidade em todas as suas dimensões. É com trabalho conjunto e diverso que se pode augurar uma nova visão e um novo paradigma, construídos colaborativamente e não impostos de cima para baixo, ao ritmo e gosto dos políticos que nos governam. De contrário, a educação está proibida por todos e para todos. É preciso apostar em processos, e não apenas em produtos, em trajetos, e não apenas em metas, para podermos encontrar outras formas de organizar e viver a Escola, o ensino e a aprendizagem.
Ana Vieira e Ricardo Vieira
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