Quando o movimento de “estudantes internacionais” esbarra com a “segurança das fronteiras”, encontra-se com o “mercado”: em Londres, na London Met, com os professores preocupados com o futuro dos seus alunos, do seu local de trabalho e da sua instituição.
Há mais de uma década, quando os estudos sobre a globalização ganharam ímpeto – impulsionados por textos seminais de conhecidos teóricos políticos, como David Held e os seus colegas –, era comum argumentar que o que fazia as nossas vidas globais era que os acontecimentos que ocorriam numa parte do mundo estavam crescentemente ligados a (de facto, influenciados por) eventos que ocorriam noutras partes distantes. A metáfora das asas da borboleta era um lugar comum nos trabalhos sobre o tema. Partindo da perspetiva da “teoria do caos”, dizia-se que uma atividade aparentemente inócua num dado lugar – como o bater das asas de uma borboleta – tinha como consequência acontecimentos de grande relevância noutros lugares. Agora, a questão para os estudos da globalização é que se instalou uma conceção do global como atividade (de instituições, de redes, ou de relações entre pessoas) que se estendeu através do espaço. Isto conduziu rapidamente à ideia do global como amplitude, extensão e velocidade; um grande arco estratosférico e atmosférico de movimento, conectividade e efeitos, e não do global como presença em todos os lugares e aspetos das nossas vidas quotidianas.
Veja-se o exemplo de uma instituição de Ensino Superior, a London Metropolitan University (LMU). Rapidamente se verifica que é uma instituição profundamente local, numa das mais importantes cidades globais do mundo, Londres. O que a torna global é a diversidade de alunos de todo o mundo que para lá vão estudar. De facto, até recentemente, a London Met, como é carinhosamente conhecida, tinha cerca de 2600 estudantes internacionais, que pagavam a totalidade das suas propinas e que representavam cerca de 10% da sua população estudantil. Londres é uma colorida cidade multicultural, uma mistura de imigrantes de todos os tipos, desde famílias de segunda ou terceira geração, cujas sortes e futuros foram intimamente moldados pela política do império, até aos recém-chegados trabalhadores, aos requerentes de asilo e aos refugiados. O recrutamento de estudantes da London Met, o seu caráter e os seus compromissos, dimanam dessa diversidade. Porém, isso foi tanto a sua força como, veremos, constitui a sua potencial vulnerabilidade. Londres é também a cidade escolhida por um crescente número de empreendimentos de Ensino Superior com fins lucrativos; empresas como a Pearson Education, gigante global de consultoria em educação e formação, estão à espera de entrar no setor universitário como fornecedores de graus académicos. E então, o que é que estas coisas – Londres, LMU, estudantes internacionais, multiculturalismo, Pearson – têm a ver umas com as outras? Uma resposta é, certamente, o lugar ou a localização. Isto é, todas descrevem processos globais que estão aqui, na cidade, e são vividos quotidianamente por pessoas reais e instituições reais. Uma segunda resposta pode ser: isto é a globalização, estúpido! Mas, como disse antes, tendemos a pensar no global como “ali” e não “aqui”, e isto, por sua vez, limita as formas complexas como vemos o global a funcionar em setores como o Ensino Superior.
Em setembro de 2012, a LMU envolveu-se num grande conflito com os Serviços de Fronteiras do Reino Unido (UK Border Agency), por causa do que diziam ser uma grave falha da universidade na participação do estatuto de emigrante dos seus 2.600 estudantes internacionais. Resultado: os Serviços de Fronteiras retiraram à London Met o direito de inscrever estudantes internacionais, proibição que resultou na perda de uma valiosa fonte de rendimento, rondando 30 milhões de libras. Porquê? Na perspetiva dos Serviços, “uma percentagem significativa” dos estudantes internacionais não tinham um Inglês satisfatório. E em mais de metade dos casos, os Serviços diziam que a universidade não sabia se os estudantes frequentavam as aulas ou não. A insinuação era que os estudantes internacionais eram possíveis ameaças de segurança e que a LMU estava a fazer muito pouco para monitorizar adequadamente a situação. Vemos aqui como os estudantes internacionais se cruzam com outras preocupações globais, como a segurança política e o terrorismo. E enquanto a LMU luta nos tribunais em torno de questões de equidade, vários meses passados com apenas 300 estudantes internacionais inscritos tornaram ainda mais vulnerável financeiramente uma instituição cujo forte compromisso com o serviço à população multicultural londrina a tem obrigado muitas vezes à gestão de dificuldades em torno do desempenho e fidelização dos estudantes. Em agosto de 2012, a LMU anunciou que estava a considerar o outsourcing de muitas das suas atividades administrativas, como forma de poupar dinheiro. Em Inglaterra, a recente subida das propinas – de 3.000 para 9.000 libras por ano – causou abalos significativos no setor. A marca, a reputação e o valor do retorno do investimento são agora mais intensamente sentidos entre a população estudantil. Mas muitos de nós vemos em desenvolvimentos como este as formas como as universidades financeiramente vulneráveis são “colhidas” por empresas lucrativas como meio de obterem reconhecimento rapidamente. Sim, isto é a globalização, estúpido! Quando o movimento de estudantes internacionais esbarra com a segurança das fronteiras, encontra-se com o mercado! Aqui, em Londres. Aqui, na London Met. Aqui mesmo, nas salas de aula dos meus colegas, preocupados com o que isto pode significar para o futuro dos seus estudantes, do seu local de trabalho e da sua instituição.
Susan L. Robertson
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