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What a lady!

Pele seca, Email, Notas sobre mulheres no cinema... Estas eram coisas que a grande, e inacreditável, Nora Ephron incluía na sua lista de «Things I won't miss», a sua última coleção de ensaios. Uma lista que ficará como lembrança de quanto Ephron nos fará falta.

A carreira de Ephron prolongou-se por 50 anos, em ocupações tão díspares como jornalista, argumentista, ensaísta e realizadora. Poucas pessoas escreveram sobre as suas inseguranças com o seu corpo de forma tão perspicaz e hilariante como Ephron, desde a pequenez dos seus seios, no livro «Crazy Salad» (“as minhas amigas, as de grandes e bonitos seios, dirão sempre como as suas vidas são muito piores do que a minha... Pensei nisso, tentei pôr-me no seu lugar e, considerando o seu ponto de vista, I think they are full of shit”), até todo o esforço que uma mulher tem de fazer para parecer minimamente decente, em On Maintenance, da sua coletânea de 2006, «I Feel Bad About My Neck».
Email, claro, foi o conto que veio dar origem a «You ´ve Got Mail», uma das várias comédias que escreveu para Meg Ryan. A colaboração entre estas duas mulheres ressuscitou a screwball comedy, que a indústria americana não produzia desde o tempo de Rosalind Russel e Katherine Hepburn.
Ephron deu uma contribuição importante ao cinema, mas nas suas «Notas sobre as mulheres no cinema» tal não transparece. Ela era, acima de tudo, uma feminista que satirizava os aspetos mais solenes do feminismo. No ensaio «Vaginal Politics» dizia: “Vivemos numa época em que a felicidade era uma boneca quente e um dry Martini. Hoje estamos numa era em que a felicidade é sabermos como é o nosso útero.”
Nem todos os seus filmes eram ótimos, mas se apenas tivesse escrito «When Harry met Sally», a sua reputação estaria assegurada. Poderíamos até esquecer «Silkwood», «Heartburn», «Julie and Julia» e «Sleepless in Seattle» – aqui para nós, a única coisa mais engraçada do que «When Harry met Sally» foi o argumentista de «Dead Poet Society» ter vencido o Oscar nesse ano.

A melhor amiga
Nora Ephron foi sempre honesta sobre o quanto teve de trabalhar, assim como as outras mulheres, para chegar onde chegou. Sim, ela tinha nascido num mundo privilegiado, com pais argumentistas que eram considerados da nata de Hollywood, mas fez-se a si própria, através do seu talento e de muito trabalho.
“A minha mãe ensinou-me muitas coisas enquanto eu crescia, mas a mais importante era que tudo era uma cópia. Dizia-mo constantemente. Resultado: quando o meu casamento acabou, soube que isso um dia ia dar um livro – se eu conseguisse parar de chorar”.
E assim surgiu «Heartburn». Escreveu-o em 2004, baseado no final do seu casamento com Carl Bernstein, repórter do Washington Post. No ensaio de 1972, «Reunion», escreveu furiosamente sobre o director do seu colégio, que a aconselhava a “dedicar-se ao marido e ao casamento”.
Como desafio, Ephron parecia fazer tudo: era jornalista, argumentista, dramaturga, realizadora, gastrónoma, esposa, mãe... O exemplo da nova-iorquina realizada. Como dizia Hadley Freeman, no Guardian de 6 de junho passado, era “a mulher que todas as mulheres gostariam de ter como melhor amiga, e tudo isto com uma grande dose de bom e inteligente humor”.

Paulo Teixeira de Sousa


  
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