Fará sentido aproveitar para partilhar o que tem sido a experiência quotidiana de cada um com os media: como os vê e o que faz com eles; que horizontes lhes abrem ou fecham; como municiam ou minam o exercício da cidadania; que competências e conhecimentos temos ou nos faltam para um papel mais activo na sociedade; que oportunidades e riscos comportam os novos media e as redes sociais...
Está em preparação uma jornada de sensibilização dos cidadãos portugueses para o papel e o lugar que os media, novos e velhos, têm no seu dia-a-dia. A ideia, a ser trabalhada por um grupo informal de instituições públicas [ver caixa], propõe que nos interroguemos sobre o papel dos media nas nossas vidas, sobre uma realidade que, por tão familiar, quase passa despercebida. Se quisermos, que construamos vias que façam dos media factores de iluminação nos tempos sombrios e duros que são os nossos, em lugar de serem factor de diversão e de adormecimento. Para isso, vai ser proposta a data de 3 de Maio, que a UNESCO [Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura] instituiu como Dia da Liberdade de Imprensa. Tal “operação” de âmbito nacional terá como mote “Um dia com os media”. Será uma jornada de reflexão e debate, de encontro e de criatividade, em que se procurará contar com a adesão dos próprios media. Não haverá muito mais do que este mote, que cada um glosará como entender, de acordo com os seus meios, as suas necessidades, os seus objectivos. E este ‘cada um’ pode ser um grupo de amigos, uma associação, uma turma ou grupo de turmas, uma biblioteca, um meio de comunicação, uma escola e até mesmo uma pessoa individualmente. Propõe-se apenas que quer o anúncio do que for feito, quer o que resultar desse dia, venha a ser registado e disponibilizado num sítio na Internet. Haverá grupos de investigadores que se ocuparão de estudar esses documentos e de partilhar publicamente os resultados. Quando dizemos “media”, referimo-nos aos meios de comunicação tradicionais, mas também aos novos media, incluindo os jogos vídeo, as redes sociais, (os usos d)o telemóvel, o multimédia... E pensamos em jornalismo, mas também em cinema, publicidade, literatura, música... Uma sessão (ou um ciclo) de cinema; um concurso de cartazes ou de cartoons; um debate com um profissional dos media; a análise de um jornal ou de um telejornal, ou de uma telenovela; a organização de um fórum ou simplesmente a leitura e escrita de um texto – tudo pode ter o seu lugar se for julgado relevante, envolvendo crianças, jovens ou adultos, ou eventos transgeracionais. A que perguntas se procurará responder? Não há resposta certa, cada ‘activista’ aderente definirá. Mas faria sentido aproveitar este dia para partilhar o que tem sido a experiência quotidiana de cada um com os media: como os vê e o que faz com eles; que horizontes lhe abrem ou fecham; como municiam ou minam o exercício da cidadania; que responsabilidades e direitos assistem aos cidadãos comuns; que imagens do mundo e da vida nos veiculam os media; que competências e conhecimentos temos ou nos faltam para um papel mais activo na sociedade; que oportunidades e riscos comportam os novos media e as redes sociais... Enfim, perguntas sem limites. Há iniciativas deste tipo em vários países que são feitas num registo anti-media: “um dia sem TV”, “uma semana de jejum dos grandes meios de comunicação”, etc. Sem questionar o valor ou limites de tais iniciativas, esta assume-se não contra ou a favor dos media, antes os toma como realidade que existe e com a qual temos de lidar enquanto cidadãos, com os seus contributos positivos e negativos, atravessados pelas suas contradições e potencialidades, num tempo em que as redes sociais e as novíssimas plataformas digitais vêm abrir horizontes novos e interessantes de interacção e intervenção. Daí ser preocupação dos promotores envolver activamente os próprios meios de comunicação. Dentro da sua esfera de acção, no âmbito dos seus programas e rotinas, o desafio, para eles, consiste em aceitarem, nesse dia, ser eles próprios matéria da notícia e do debate; aceitarem, por um dia, desvendar o universo que está por detrás do ecrã, do receptor, do site, das páginas do jornal ou da revista. Que abram as portas e acolham as pessoas e as suas perguntas. Quem estiver a ler estas linhas e tiver chegado até aqui é porque este assunto lhe diz alguma coisa. Quero dizer-lhe que não tem de ficar à espera para, desde já, pensar e planear alguma iniciativa para esse dia. Melhor do que ninguém saberá o que é adequado e viável fazer e com quem. É provável que esta “operação” venha a ter desenvolvimentos e comece a falar-se dela. Não é improvável que, lançado o mote, haja quem o aproveite para objectivos mais de marketing do que de cidadania. Mas esse é um risco calculado. Em tudo isso nos revelaremos como somos. A abordagem crítica e criativa a um desafio deste tipo também está nas nossas mãos.
Manuel Pinto
CAIXA
Instituições promotoras: Comissão Nacional da UNESCO; Conselho Nacional de Educação; Entidade Reguladora para a Comunicação Social; Gabinete para os Meios de Comunicação Social; UMIC – Agência para a Sociedade do Conhecimento; Universidade do Minho/Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade.
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