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Contradições

A Finlândia está na moda. Quando um político fala de qualidade na educação, inevitavelmente refere esse país como exemplo, por ser aquele que ocupa a primeira posição no PISA [Programme for International Student Assessment]. Aquilo que os políticos não dizem é que a Finlândia esteve à beira do colapso económico e se salvou porque instituiu uma escola realmente pública. Nesse país, a educação foi tornada, realmente, uma prioridade e não mero enfeite de discurso político. Por aqui, as escolas sobrevivem dependentes de uma gestão hierárquica e burocratizada, sujeitas aos caprichos de mangas-de-alpaca e ministros. Na Finlândia, apenas existe um exame no final dos estudos. Aqui, aumenta o número de exames, como se a preocupação com o termómetro fizesse baixar a temperatura...
Os alunos finlandeses têm liberdade de escolher aquilo que querem aprender. Ouçamo-los: “Quando estudamos aquilo de que gostamos, os resultados são melhores. Os alunos, aqui, são sujeitos, não são objetos. Cada qual estabelece o seu plano individual de estudos”. Por aqui, aumenta-se a carga lectiva das disciplinas consideradas nobres e alimenta-se a mesmice. Na Finlândia, os professores têm como habilitação mínima o mestrado e foi criada a figura do tutor. Por cá, a formação de professores continua precária, o estatuto social da profissão está depreciado, o professor mantém-se solitariamente exposto a humilhações, à espera do dia da aposentação.
Temos muitas finlândias cá dentro. Algumas escolas vêm tentando introduzir mudanças que, se concretizadas, colocariam o país a par da Finlândia, no PISA e em outros rankismos. Dispomos de excelentes teóricos e de excelentes professores. Porém, o acompanhamento e o apoio prestados a esses projetos são escassos. Quase sempre, acabam destruídos por intervenção de um qualquer burocrata da educação.
O contraste poderá ser estabelecido de modo maniqueísta. Portugal está mergulhado na obscuridade da crença num modelo epistemológico falido. Sucessivas gerações de vidas são desperdiçadas. As escolas são fábricas de desperdício. Como diria o poeta, o sistema “engole gente e vomita bagaço”. O conservadorismo político mantém a Educação num rumo suicida. O grau zero de literacia mantém-se, o analfabetismo funcional prospera.
Os responsáveis pelo drama têm rosto. São diretores de escola, cuja ação contradiz os projetos educativos das suas escolas. São gestores, que dirigem instituições ao sabor de caprichos, de tecnocracias e cosmética pedagógica. São políticos ignorantes do que seja pedagogia, que vão parindo decisões de política educativa tão inúteis quanto nefastas. São ‘professores’ coniventes com essas atitudes.
Continuo esperançoso. Quero acreditar que o bom senso e a competência venham a prevalecer. E quero crer que essa gente aja por ingenuidade. Não quero acreditar que tenham consciência dos crimes que praticam.

José Pacheco


  
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