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Diversidade e identidades nas escolas

Precisamos aprender a reconhecer e acolher nas salas de aula distintos modos de ser, variadas experiências de vida, particularmente daqueles que forjam sua existência em sociedade que os desqualifica, marginaliza, explora.

À medida que grupos marginalizados começaram a fazer exigências cada vez mais contundentes para fazer valer seus direitos de cidadãos, escolas e universidades deixaram de ser freqüentadas apenas por pessoas oriundas de grupos que se designam como elites da sociedade. Multiplicidade de pontos de vista, de objetivos, de formas de encarar a vida, passaram a se contrapor abertamente, inclusive nas salas de aula. Repetidos confrontos têm escancarado divergências entre os que usufruem de privilégios e lutam para mantê-los, mesmo em detrimento dos direitos de outros, e os que cobram por reconhecimento e reparações diante de séculos de opressões a que têm sido submetidos.
Sistemas de ensino, escolas e universidades, professores, pesquisadores da educação se vêem compelidos a, mais do que se ocupar, a se preocupar com relações entre oriundos de diferentes segmentos sociais, de distintas raízes étnico-raciais. As estratégias para desqualificar pessoas empobrecidas, deficientes, negros, indígenas já não surtem os efeitos que alguns desejariam. Preconceitos e discriminações tolerados nas relações pedagógicas escolares, não podem mais ser aceitos.
Já não é possível fazer vistas grossas a discriminações que sofrem estudantes por serem negros, indígenas, ciganos, albinos, gordos, cadeirantes, usarem óculos, ou manifestarem sexualidade reprovada pela maioria. Sempre que ouvidas, crianças manifestam indignação com a indiferença dos adultos, sobretudo professores e pais, ao deixarem-nos enfrentar sozinhos as conseqüências de discriminações. Reclamam desorientados, sem saber como enfrentar o escárnio dos que os fazem sofrer.
Indignados, sinalizam que estes se vêem apoiados pela omissão dos adultos. Diante disso, somos desafiados a conceber processos pedagógicos que deixem de transformar diferenças em desigualdades, expressas na qualidade da atenção dedicada a cada estudante, nas oportunidades oferecidas para aprendizagens, no aproveitamento escolar. As relações entre diferentes pertencimentos sociais, étnico-raciais têm de ser meio de enriquecimento mútuo, de formação para cidadania.
O diálogo, ensina Paulo Freire, é o processo pedagógico que leva a compreensão de distintas maneiras de ser pessoa, de agir, de atuar diante dos problemas, de construir a vida. É oportunidade de identidades enraizadas em diferentes culturas se expressarem sem constrangimentos. É meio para se compreenderem pessoas, grupos nas suas peculiaridades, sem enquadrá-los no modelo de humano pretensamente universal, concebido em perspectiva de sociedade monocultural.
Para compreender distintas formas de existência é preciso admitir que cada pessoa somente pode fazê-lo por intermédio e pelo reconhecimento de seu corpo de mulher, de homem de determinada raça/cor, deficiente, idoso, sadio, doente, em busca de trabalho, privado de morada, em privação de liberdade, jovem, rico – entre outras tantas qualificações que atribuem a nossos corpos. Crenças relativas a inferioridade dos que são diferentes de nós mesmos repousam sobre desconhecimento, desrespeito a seus modos de viver, pensar, se relacionar com pessoas, com o ambiente. Muitas vezes se desqualificam, sem pejo, seus corpos, costumes, crenças. Mais ainda, se fomentam desigualdades em direitos como educação, saúde, moradia, trabalho.
Desta forma, muitos, imbuídos de preconceitos, se tornam incapazes de conhecer e compreender quem não compartilha do seu universo. Em conseqüência, incitam racismo, ódio, desejo de eliminar material ou simbolicamente quem vêem como diferente. É por meio do corpo inteiro e íntegro, formado pela constituição física, inteligência, emoções, sentimentos, espiritualidade, conhecimentos, preconceitos, que cada pessoa formula compreensões da vida e do mundo. Tais compreensões resultam necessariamente de confronto, seja amistoso, acolhedor, cooperativo, seja rancoroso, invejoso, dominador, com outros corpos enraizados em distintas culturas, herdeiros e construtores de história própria, mas também de história compartilhada com os que os desqualificam.
Assim sendo, escolas, universidades, professores, precisamos aprender a reconhecer e acolher nas salas de aula distintos modos de ser, variadas experiências de vida, particularmente daqueles que forjam sua existência em sociedade que os desqualifica, marginaliza, explora. Precisamos buscar efetiva comunicação com eles, se quisermos educar mulheres e homens, cidadãos capazes de produzir conhecimentos, com compromisso social e excelência de formação.

Petronilha Gonçalves e Silva


  
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