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Por que faltam professores de Matemática em Portugal?

Ninguém pode ser considerado professor pelo facto de se ter candidatado a um concurso, mesmo que esporadicamente tenha dado aulas em  substituição de um professor. Actualmente, não se formam mais de 50 novos professores de Matemática do 3º Ciclo e do Secundário, quando as aposentações atingem 200 professores por ano.

Não, não leu mal o título. Faltam efectivamente professores de Matemática dos ensinos Básico e Secundário. Ao contrário do que tem sido dito pela última meia dúzia de ministros da Educação, não há professores a mais e foi um erro terem dito, do alto da sua autoridade, que os jovens candidatos ao Ensino Superior deviam evitar candidatar-se a cursos de formação de professores. Tais declarações oficiais tiveram uma consequência concreta, visível nas estatísticas do Ministério da Ciência: nos últimos anos o número de candidatos a cursos da área da Educação diminuiu efectivamente.
Mas agora verifica-se – e tenho provas concretas que remontam a Março – que não há, em várias zonas do país, professores de Matemática quando as escolas pretendem contratar docentes para substituições. Este é o primeiro indicador das dificuldades maiores que hão-de vir. Não quer dizer que não haja professores de Matemática desempregados; há alguns, mas apenas porque se candidatam, legitimamente, apenas a uma parte do território nacional. E precisamos de professores para suprir todas as necessidades transitórias; os alunos não podem ficar sem professor, um, dois ou três meses.
Mas por que terão declarado e reafirmado, ministros, sindicatos, líderes de opinião, que há professores a mais em Portugal? Eu sei que há a variante de alguns dizerem que não há professores a mais porque o Ministério da Educação deveria recrutar mais professores para diminuir o número de alunos por turma e acompanhar melhor os alunos com mais dificuldades. Mas isso é na mesma uma falácia, pois não havendo professores de Matemática a mais, não irão certamente colocar os professores de História a leccionar Matemática – ou então só diminui o número de alunos por turma a História, e não a Matemática.
Quando aparecem títulos como 40 mil professores desempregados está a cometer-se um grave erro. Por um lado, ninguém pode ser considerado professor pelo facto de se ter candidatado a um concurso de professores, mesmo que tenha esporadicamente dado aulas durante um curto período em substituição de outro professor. Por outro lado, os professores concorrem na realidade a uma vintena de concursos diferentes: os professores de Língua Portuguesa concorrem aos concursos de Língua Portuguesa, os professores de Matemática concorrem aos concursos de Matemática, etc.
De nada serve ter professores de Língua Portuguesa a mais e de Matemática a menos. Os primeiros não podem (nem devem) concorrer aos concursos dos segundos, e vice-versa. Nunca vi em nenhum discurso, em nenhum documento, em nenhum escrito, a diferenciação entre os números de candidatos aos concursos de professores de Língua Portuguesa, de Matemática e aos restantes.
Por duas vezes, nos últimos anos, foram anunciadas reestruturações do Ensino Básico que incluíam o aumento da carga horária das disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática. Fiz os cálculos para a disciplina de Matemática e concluí que não haveria professores de Matemática suficientes para tal. Terá sido essa a razão pela qual as reestruturações publicamente anunciadas não foram avante? Acresce a isto a legislação actual sobre a
formação inicial que dilui a formação científica dos professores dos 5º e 6º anos de escolaridade e os obriga a dar simultaneamente Língua Portuguesa, Matemática, História e Ciências da Natureza. Isto só contribuirá para afastar ainda mais os jovens candidatos a novos professores do 2º Ciclo do Ensino Básico.
Actualmente não se formam mais de 50 novos professores de Matemática do 3º Ciclo e do Ensino Secundário, quando as aposentações atingem um mínimo de 200 professores por ano. Só há uma solução: planear correctamente as necessidades de docentes nas diferentes áreas e formar atempadamente os professores necessários. Planeamento das necessidades de professores por área científica – será exigir demasiado?

Jaime Carvalho e Silva


  
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