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Para os professores e não só

[Testemunho no âmbito do artigo ‘A PÁGINA nasceu há dezoito anos’]

Foi-me lançado o desafio de escrever um pequeno depoimento que possa contribuir para uma possível história incisiva da PÁGINA. A pertinência do assunto é o 18º aniversário do jornal, o que me parece uma boa justificação. Fico obrigado a uma incursão, sempre difícil, nas minhas memórias deste projecto, que me marcou durante 17 anos de actividade criativa como editor gráfico. Espero não ser atraiçoado pela nostalgia do passado. Na qualidade de investigador, continuo a preferir analisar o presente, para o preparar para leituras no futuro, segundo uma estratégia que me é querida – a memória cultural futura. Obviamente que a PÁGINA deixou marcas relevantes no meu percurso de 33 anos de actividade docente e de designer gráfico, que sempre desenvolvi privilegiando a componente social.

Há 18 anos, o Sindicato dos Professores do Norte (SPN) estabeleceu comigo, e com a minha equipa, um protocolo de colaboração no sentido de regenerar e/ou lançar um conjunto de dispositivos de informação e comunicação para o universo dos seus sócios, das escolas e da sociedade em geral. Tínhamos como incumbência, também, a reabilitação de alguns quadros técnicos para a execução das tarefas que emergissem dessa estratégia.

Tratava-se, no fundo, de projectar para o exterior uma imagem sólida do SPN. Neste contexto, reabilitámos graficamente o órgão oficial do sindicato («SPN-Informação») e, paralelamente, lançámos a proposta de um órgão de comunicação para a área da educação e do ensino, da qual resultou aquilo que viria a ser «a Página da Educação». O nome resultou de uma sugestão minha, pelo facto de, nos finais dos anos 70, ter trabalhado num outro jornal com uma designação similar.

Nas reuniões de preparação desse projecto colaboraram sempre o Henrique Borges, meu velho amigo, e o Zé Paulo Serralheiro, que havia sido meu colega na Escola Secundária Soares dos Reis, onde fiz a famigerada profissionalização em exercício. O projecto deveria ser dotado de uma infra-estrutura profissional de edição, consubstanciada num editor principal, para o qual foi por mim indicado o Júlio Roldão, recomendado por um amigo que com ele trabalhou no «Jornal de Notícias».

Escrevo agora na qualidade de professor e de editor gráfico, função que exerci desde o número zero até à edição de Dezembro do ano passado, que fechou a história da PÁGINA como mensário da educação. O José Paulo Serralheiro foi indicado pela direcção do SPN como director, função que manteve até ao momento em que nos deixou com a mágoa do seu desaparecimento. Presto-lhe, mais uma vez, sentida homenagem.

Associo a história da PÁGINA a uma experiência ímpar de amizade e cumplicidade entre mim, o saudoso Zé Paulo e, durante uma grande parte deste itinerário, com o Júlio Roldão – deste, registo a grande capacidade criativa e de realização redactorial que nos ocupou muitas e longas noites (por vezes, fins-de-semana), num trabalho de informação apaixonante que sempre dedicámos aos educadores, aos professores e aos alunos. De forma implícita, a nossa acção privilegiou sempre a imagem e os interesses do SPN.

No campo mais estrito do design gráfico, a PÁGINA foi um modelo revolucionário na Imprensa portuguesa, desde o período do preto-e-branco até à expressão mais moderna da cor. Foi reconhecida como referência em algumas escolas e em congressos internacionais de design. A nível nacional, foi distinguida com uma menção honrosa e, posteriormente, com um grande prémio na área gráfica.

A partir de uma observação mais profunda, a PÁGINA representou um savoir faire original, na construção de uma pequena “escola” colectiva e participativa entre os editores e o director, que souberam honrar durante todos estes anos o investimento material e moral feito pelo SPN. Mas, naturalmente, este projecto não teria sido possível sem o contributo competente de todos os autores e colaboradores: redacção, fotografia, paginação, impressão...

Através do último «SPN-Informação» soube que o sindicato ia continuar com este projecto, facto que saúdo, desejando a toda a equipa e à nova Direcção os maiores sucessos. Permitam-me desejar, também, que saibam preservar e continuar o património de decisão colectiva que durante alguns anos fortaleceu a PÁGINA, recusando práticas unipessoais, e lembrar que, sobretudo, este projecto anima uma imagem actuante e contemporânea do SPN junto das comunidades educativas, complementando a pertinente acção que desenvolve junto das escolas e dos educadores/professores.

Adriano Rangel


  
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