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In Memoriam José Paulo Serralheiro

Conheci o José Paulo Serralheiro nos idos anos de 1980, quando construíamos, ao mesmo tempo, a Federação Nacional dos Professores (FENPROF) e o Sindicato dos Professores do Norte (SPN). Desde o primeiro contacto, percebi que o José Paulo se distinguia entre os dirigentes sindicais. E essa distinção advinha de, pelo menos, duas suas características sempre presentes: a primeira, uma enorme independência e capacidade reflexiva; a segunda, uma visão de ação sindical que não se limitava à defesa corporativa dos interesses profissionais dos professores, mas antes entendia essa defesa como parte de uma luta por uma escola inclusiva, democrática e emancipadora.
Foi, por isso, que se bateu pela criação de A Página. Não é fácil a um sindicato, em qualquer parte do mundo, criar e manter um jornal como A Página. O José Paulo soube criar uma teia de cumplicidades, primeiro internamente, depois envolvendo uma imensa rede de amigos e correspondentes, que lhe permitiu concretizar o seu sonho.
Como secretário-geral da FENPROF honra-me ter dado todo o apoio para que A Página pudesse ver a luz do dia, até como expressão de um sindicalismo que sempre defendera e que partilhava inteiramente com o José Paulo: interventivo e forte na defesa dos direitos profissionais, mas sempre, também, um espaço de de solidariedades humanas, de aprendizagem, de contributo para a construção de uma escola onde todos tivessem lugar e aprendessem. E isso está bem espelhado na entrevista que dei então ao nº 1 de A Página.
Mais tarde, como professor universitário, aceitei com todo o prazer o lugar de colaborador permanente do jornal, embora não fosse tão assíduo na escrita como o jornal merecia; mas o tempo, infelizmente, não é elástico! A distância física (e este tipo de vida que não nos deixa tempo para curtir uma boa conversa!) não nos permitia encontros regulares. Mas, no último ano, tivemos duas longas conversas: uma, descendo a Avenida da Liberdade, numa das manifestações dos professores; outra, na véspera das eleições para o SPN. Em ambas, a preocupação em renovar e manter o projecto de A Página, como parte de uma intervenção esclarecida no debate dos problemas da educação, que faça frente à hegemonia ideológica construída desde os anos 1980 do discurso neoliberal e neoconservador.
Afirmei já que a melhor homenagem que podemos fazer ao José Paulo Serralheiro é continuar e melhorar A Página da Educação. Daqui o apelo ao SPN, aos responsáveis do jornal, a todos os (muitos) colaboradores e amigos de A Página, para que este projecto continue para além do desaparecimento físico do seu fundador. Da minha parte aqui fica o compromisso. Bem haja, José Paulo.

Lisboa, 19 Setembro 2009

António Teodoro


  
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