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A metamorfose de um líder (II)

João nasceu numa família da classe média, teve uma educação esmerada, “muito acima da média para a altura”. O desafogo económico da família marcam a infância de João, e dos pais recebeu incentivos para o estudo e “determinados valores”, que não esquece. Descobriu desde muito cedo que os outros lhe reconheciam qualidades para liderar e a afirmação do seu sentido de liderança foi-se desenvolvendo com o tempo, “foi crescendo”.
A vocação esteve sempre presente, nunca quis ser outra coisa que não professor. E com a naturalidade com que tudo lhe foi acontecendo, João ingressa na profissão sem qualquer sobressalto. A oportunidade para ir mais longe não tarda. Apesar de muito jovem é convidado para delegado de grupo e depois para orientador de estágio. Mais tarde, o convite para integrar o órgão de gestão foi o corolário de toda a sua actividade anterior.
Assumiu o cargo de secretário, por imposição sua. “A minha vontade era ser presidente”, confessa, mas achou prudente aprender um pouco mais. Finalmente, tomou a decisão, “vou ser presidente”, constituiu uma equipa e apresentou um projecto. Apareceram várias listas, mas foram desistindo. No dia das eleições foi como candidato único que foi eleito e nunca mais o deixou de ser. Hoje é director.
A história de vida de João é uma sucessão de passos todos num mesmo sentido, todos conjugando-se para um mesmo objectivo. Há como que um roteiro invisível a definir o caminho.
Da educação esmerada, da vocação prematuramente revelada, do envolvimento em actividades com familiares e amigos, com organizações religiosas e recreativas ou desportivas, da forma como superou todas as provas do percurso escolar, da entrada de rompante na profissão e da sua ascensão quase meteórica, resulta clara a imagem de alguém nascido para liderar.
A história contada pelo próprio é pródiga em exemplos que atestam isso mesmo, João foi, em várias circunstâncias, aquele que indicou o caminho, que organizou, dinamizou, coordenou, que estabeleceu pontes e removeu obstáculos.
Cabe aqui de pleno direito a interrogação clássica sobre se um líder nasce ou faz-se? Alguns consideram que a liderança é mais importante como função do que o líder como indivíduo, e parece não restarem dúvidas de que, para além das qualidades pessoais deste, são as circunstâncias contextuais que determinam a sua afirmação. A vida de muitos líderes prova que, com frequência, foram certas situações imprevistas que deram origem a que as suas capacidades de liderança se afirmassem.
No caso de João, a sua liderança ter-se-á afirmado plenamente ao assumir a presidência do Conselho Directivo, mas parece evidente haver, desde muito cedo, características manifestadas em diversas circunstâncias e situações que permitiam antecipar a sua capacidade de liderança e justificam a forma como os outros o aceitavam e se deixavam envolver pelas suas propostas e acções.
Como uma semente se desenvolve apenas quando encontra condições propícias, também os contextos favoráveis são indispensáveis para que alguém se afirme como líder. Mas se esse alguém não possuir algumas aptidões pessoais essenciais, jamais a metamorfose ocorrerá.
Entre os dois líderes, João e Carlos (vide nº 186, Outono/2009), um mundo de diferenças e um traço comum – a capacidade de liderança. Os percursos de vida não foram determinantes; as aptidões pessoais e os contextos profissionais, sim.

José Manuel Silva


  
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Edição:

Edição N.º 187, série II
Inverno 2009

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