O poeta Aimé Césaire, considerado um dos pais do "movimento negritude", faleceu recentemente aos 94 anos em Fort de France, nas Antilhas Francesas, onde se encontrava hospitalizado desde 9 de Abril. Desde que havia sido internado por problemas de natureza cardíaca, porém, já circulavam rumores sobre o seu estado de saúde preocupante. O funeral teve lugar na ilha natal do poeta, no arquipélago de Martinica, após três dias de homenagens. Nascido em 1913 em Basse-Pointe (Martinica) e originário de uma família modesta, Césaire cresceu rodeado pela miséria da população rural numa ilha profundamente marcada por dois séculos de escravidão. Aimé Césaire foi, juntamente com o senegalês Leopold Sedar Senghor e o guianês Leon-Gontran Damas, um dos impulsores da corrente conhecida como "negritude". Defensor do mundo negro e da sua revolta contra o colonizador, definia-se fundamentalmente poeta, mas um "poeta comprometido" e "negro, negro, desde o fundo do céu imemorial". Césaire é autor de uma obra veemente e reivindicativa, por vezes muito próxima do surrealismo, e associada sobretudo aos movimentos de luta contra a colonização. Aimé Césaire teve influência maior sobre várias gerações de escritores e intelectuais no mundo. Em 1950, com a publicação do seu "Discours sur le colonialisme", ("Discurso sobre o colonialismo"), texto virulento contra o ocidente ? empoleirado no "alto da morte de cadáveres da humanidade" ?, amplia a sua visibilidade e confere à sua obra um aspecto universal. O autor de "Cahier d'un retour au pays natal" consagrou a sua vida à literatura e à política, nas quais cristalizou todos os seus combates contra o colonialismo e o racismo. Lançou-se na política e criou o Partido Progressista Martinicano (PPM) para promover a autonomia da sua ilha e a "igualdade social". As autoridades locais e os dirigentes partidários promoveram três dias de homenagem e o cortejo fúnebre passou por vários bairros da cidade onde foi presidente de câmara durante 56 anos (1945-2001). O presidente francês Nicolas Sarkozy esteve também presente na cerimónia de enterro do escritor, poeta, autor teatral, ensaísta e homem político de esquerda. Sarkozy saudou em Aimé Césaire um "símbolo de esperança para os povos oprimidos". A Assembleia Nacional francesa observou também um minuto de silêncio em memória daquele que foi, também, o deputado que bateu todos os recordes de longevidade parlamentar, actuando de 1945 a 1993.
AFP
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