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Sven Nykvist: a mão por trás de Bergman

Para a Ana Filipa pela esperança?

Alguém uma vez disse que no processo de construção de um  filme ?se o filme é o bebé,  o realizador é a mãe, o argumentista o pai, então o director de fotografia é a parteira?. O director de fotografia sueco Sven Nykvist, que morreu com 83 anos, ajudou a nascer  inúmeras obras primas, a maioria delas com Ingmar Bergman, de quem foi o mais íntimo colaborador.
Esta relação empática cresceu do facto de os dois serem ambos filhos de pastores protestantes disciplinadores, que proibiam os filhos de irem ao cinema, ambos com infâncias infelizes, e partilharem o fascínio pela luz. Nykvist raramente viu os pais até fazer 13 anos. Eram missionários cristãos em África que o deixaram na Suécia para ser criado por parentes. Pode-se dizer que a sua visão cinematográfica veio da experiência dos Invernos escuros e dos Verões luminosos da Suécia. Nykvist e Bergman partilhavam a preferência por rodagens fora dos estúdios e com luz natural. Como dizia Bergman, ?Sven e eu vemos as coisas da mesma maneira, vemos a luz da mesma maneira.? Contudo só se conheceram em 1960, depois de Bergman se ter tornado um dos realizadores mais conhecido em todo o mundo. A era Bergman- Nykvist tornou-se a mais madura e frutífera das suas  carreiras.
Nykvist estudou fotografia durante um ano na Cinecittà em Roma, antes de se juntar à companhia sueca de produção Sandrews em 1941, como assistente de director de fotografia. A parceria com Bergman começou com  ?A Fonte da Virgem?(1960), que precedeu a trilogia ?Through a Glass Darkly?(1961), ?Luz de Inverno? e ? O Silêncio? ambos de 1963, que revelaram a mestria de  Nykvist com luz natural, iluminação  ténue e composições geometricamente precisas. Por vários anos Nykvist e Bergman resistiram à utilização da cor, considerando-a uma fonte de beleza superficial.
Em 1964 Bergman respondeu à reacção crítica aos seus filmes ?mórbidos? fazendo uma farsa, ?All These Women?, a cores para fazer sobressair os cenários e o guarda roupa brilhante dos anos 20 do século passado.
Mas nenhum deles ficou satisfeito com o resultado. Vendo-o, ninguém acredita que Nykvist se tornou um dos grandes mestres da fotografia a cor. ?Lágrimas e Suspiros?(1972), com o qual Nykvist ganhou o Óscar, foi realmente uma surpresa. É um filme de vermelhos, pontuado de vermelhos esbatidos ao contrário dos normais escuros, tornando-os psicologicamente significativos de uma maneira visual. Nykvist iluminava e  trabalhava ele próprio com a câmara. ?Cenas da Vida Conjugal?(1974), rodado apenas com uma câmara, inclui 10 minutos de ?takes? com 20 zooms por ?take?, mais movimentos de câmara muito complexos. ?Quando estou a trabalhar com a câmara, esqueço completamente as pessoas que estão à minha volta. Só vejo a cena, vivo nela e sinto-a.  Para mim, trabalhar com a câmara é um desporto?.
Em meados dos anos 80, Nykvist estava a filmar mais em Hollywood do que em qualquer outro lado. Trabalhou em quatro filmes de Woody Allen- um fã confesso de Bergman - o melhor dos quais, talvez, ?Crimes and Misdemeanors? (1989). Outros filmes americanos foram ?Pretty Baby?, de Louis Malle (1978), ?O Carteiro Toca Sempre Duas Vezes?, de Bob Rafelson (1981) e o do seu compatriota Lasse Hallstrom ?Gilbert Grape? (1993).
Contudo, foi na Europa, onde não foi forçado a ter um operador de câmara, que o seu trabalho atingiu o auge, por exemplo no último filme de Andrei Tarkovsky, ?O Sacrifício?, e, claro, com Bergman no esplendoroso ?Fanny e Alexander?(1982), pelo qual ganhou um segundo Óscar.


  
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Edição:

N.º 161
Ano 15, Novembro 2006

Autoria:

Paulo Teixeira de Sousa
Escola Secundária Especializada de Ensino Artístico de Soares dos Reis, Porto
Paulo Teixeira de Sousa
Escola Secundária Especializada de Ensino Artístico de Soares dos Reis, Porto

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