A acção das elites [Moçambicanas] procura estar sintonizada com as mudanças em curso causadas pela globalização presente, umas vezes copiando o que vem dos países centrais do capitalismo, outras, assumindo uma postura de assimilação crítica.
A crise económica que Moçambique vem atravessando, em resultado dos erros na concepção e direcção da estratégia económica, da guerra de desestabilização e da conjuntura económica internacional desfavorável, tem aprofundado a dependência. O país depende hoje de donativos e empréstimos estrangeiros para financiar as importações essenciais e até o próprio orçamento e funcionamento do Estado. Nesta situação, não é fácil salvaguardar-se a soberania nacional, tão necessária à tomada de decisão sobre as mudanças ou reajustamentos económicos e políticos em curso, correndo-se, assim, um grande risco de se perder com a adopção de novas políticas económicas e financeiras, o que tantas vidas custou na luta pela independência nacional. Com a paz alcançada pelos Acordos de Roma, em 1992, o país passou a trilhar o caminho de um sistema sócio-económico e político com base no multipartidarismo e no mercado. Após o término da guerra surge uma enorme vontade de desenvolver uma maior capacitação dos dirigentes empresariais e melhorar de forma relevante seu desempenho na administração de empresas, para a consecução destes objectivos, entre os vários aspectos que poderão merecer um estudo mais aprofundado está o de conhecer o perfil dos dirigentes empresariais moçambicanos. Um estudo sobre lideranças e a cultura cimentada em valores e crenças específicos vão dando o sustentáculo e a singularidade necessária aos dirigentes empresariais moçambicanas, decorrendo disto a necessidade de delinear, compreender e sistematizar o seu papel na gestão das empresas estatais, através da descoberta de regularidades no seu desempenho, das rupturas e dos ajustamentos ocorridos nas últimas décadas no tecido social do país. Pode-se a grosso modo elaborar uma ?tipologia? das elites existentes no país: elites políticas que fazem a acumulação graças às facilidades criadas pelos seus cargos enquanto dirigentes do aparelho de estado; elites empresariais, uma grande parte transitando da categoria anterior e desenvolvendo suas actividades em diferentes sectores da economia, muitas dessas actividades centradas no mercado informal (chapas, dumbanengues, pequenas empresas de prestação de serviços; elites comerciais, tradicionalmente a actividade comercial tem sido exercida pelos grupos indianos, paquistanêses e outros comerciantes asiáticos que foram chegando a Moçambique nos últimos 25 anos. Contudo, os dumbanengues (mercados informais) estão sendo geridos maioritariamente por grupos bantu destes uma parte é constituída por emigrantes doutros países grupos nacionais com poder financeiro restrito e por vezes fazendo negócios com apoio e em regime de consignação com os grupos asiáticos; elites intelectuais, constituídas pelos intelectuais que se foram formando internamente e no estrangeiro e que estão desenvolvendo suas actividades na educação, instituições de pesquisa, informação e em cargos governamentais que estão produzindo seus trabalhos com uma regularidade incerta dada a dificuldade financeira enfrentada para publicação de trabalhos no mercado interno; elites estrangeiras, em grande parte constituída por técnicos especializados de diferentes ONG(s), administradores do capital estrangeiro presentes no país, bem como empresários em grande parte dedicados à prestação de serviços. A acção das elites procura estar sintonizada com as mudanças em curso causadas pela globalização presente, umas vezes copiando o que vem dos países centrais do capitalismo, outras, assumindo uma postura de assimilação crítica. No entanto, grandes contrastes sociais estão presentes no âmbito da distribuição da riqueza nacional. A exclusão social é um dos desafios mais prementes que as elites têm de enfrentar e conseguir soluções dentro dos programas de ajuda externa já existente, mas mais do que isso, importa encontrar soluções que passam pela criação de emprego em projectos de desenvolvimento de mão-de-obra intensiva e procurar desenhar um projecto nacional mais conectado aos recursos e capacidades humanas existentes no país real . Contudo uma reflexão sobre o tema necessita de maior aprofundamento em trabalhos posteriores. Importa pois assinalar a mudança provocada pela a acção das elites, suas redes de actividades, suas imbricações no tecido social e económico, o que, merece um estudo, bem mais rigoroso do que a simples constatação da sua existência, no afloramento breve realizado neste texto.
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