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Professores?

A continuação de problemas no sistema de ensino em Portugal deverá fazer pensar que não somos talhados para as questões do intelecto. Quem ler obras simples mas de referência como a "História do Ensino em Portugal, da fundação da nacionalidade ao fim do regime de Salazar-Caetano", de Rómulo de Carvalho (mais conhecido pelo pseudónimo "António Gedeão"), fica a pensar que as razões de não termos "ido mais longe" como Nação se devem à nossa incapacidade permanente no campo educativo. Como foi possível que um povo que chegou em 1498 a Calecute, em 1500 ao Brasil, um povo que teve astrónomos (da Companhia de Jesus) em Pequim, o primeiro povo europeu a chegar ao Japão, quem produziu gente como Fernão de Magalhães, homem que baptizou o maior Oceano do Planeta, descobriu o estreito que leva o seu nome, classificou a "nebulosa de Magalhães", gente que deixou marcas na escrita do Vietname, que as deixou também na língua japonesa, tenha passado ao lado das revoluções industriais, tornando-se indigente, sem horizontes e resignada à obediência dos pobres de espírito? No tempo do Professor Salazar, a escritora Virgínia Castro Almeida (sua apoiante) escreveu que "a parte mais bela e mais sã da Pátria é constituída pelos 75% de analfabetos." O próprio Professor não considerava importante ensinar a leitura, chegando a perguntar "o que quereria o povo ler?". Assim, neste País de raríssimos estadistas com alguma réstia de entendimento, divididos por 850 anos de existência, seria difícil estar melhor. Nos fins do séc. XIX, países como a Suécia, Noruega ou Dinamarca já tinham cerca de 0% (!) de analfabetos. Ainda hoje Portugal se debate com este problema, pelos vistos crónico. Se se considerarem competentes João II, Pombal e Fontes Pereira de Melo, descobrimos a "Estranha História de Portugal". País em que António Sérgio foi ministro 2 meses está classificado. Havia melhor? O seu sucessor chamava-se Hélder Ribeiro. Lembram-se dele?

Carlos Alberto Mota,
docente da Utad.


  
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Edição:

N.º 92
Ano 9, Junho 2000

Autoria:

Carlos Alberto Mota
Univ. de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Vila Real
Carlos Alberto Mota
Univ. de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Vila Real

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