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Que Educação de Infância?

Se temos como profissão a Educação não seremos compensados em moldes tradicionais. Em termos financeiros toda a gente sabe que os docentes não vão ficar ricos; poderão aspirar a outra riqueza, a do contacto humano com os mais novos. No caso dos educadores de infância, esse contacto é compensador porque se lida com crianças "o que de mais belo há no mundo".
Desde os esforços de Rousseau a Pestalozzi passando por Herbart e Froebel, chegamos ao Séc. XX com Maria Montessori (falecida em 1952) encontrando nas obras destas pessoas um enorme esforço pela valorização da criança. De Jean-Jacques Rousseau já tanto se falou que pode parecer excessivo voltar a mencioná-lo. Mas nunca será. Isto porque Rousseau, apesar de limitado pelos horizontes da sua época, viu longe e afirmou com força imensa a especificidade da criança. Hoje pode parecer pouco, mas foi muito importante.
Pestalozzi e o seu conceito de "educação do homem do povo" deu novo contributo a uma educação baseada no respeito pelo educando. Herbart e Froebel foram decisivos para a concretização daquilo que hoje designamos por "Jardins de Infância". O Jardim encerra toda uma visão nova da infância. É importantíssimo distinguir o papel da Escola Primária (hoje designada em Portugal por 1º Ciclo do Ensino Básico) do que está reservado ao Jardim de Infância. Enquanto no 1º Ciclo (por volta dos 6/7 anos) se recebe uma primeira visão científica do mundo, necessariamente adequada à idade mental, não é isso o que se pretende no Jardim. Aí o educador deseja começar a contribuir para uma vida da criança fora do seu meio familiar, constituindo uma primeira etapa no relacionamento com os outros, sem a presença de elementos das suas famílias.
Esta fase da vida é fundamental. Montessori, na sua "Casa dei Bambini" já se apercebeu da importância de tratar a criança de modo carinhoso, estimulando a sua curiosidade por formas e cores, pela manipulação de objectos, num ambiente calmo. Que crianças se criam nas ruas de muitos países? Que adultos serão? O Brasil vai na 3ª geração consecutiva de crianças de rua; a Africa usa crianças na guerra. O mundo inteiro esquece estes factos. Sendo "o que de mais belo há no mundo", em 100 anos de Prémios Nobel da Paz, só uma vez, em 1965, não uma pessoa, mas uma secção da ONU, a UNICEF, foi galardoada com o Prémio Nobel da Paz, "pela protecção e ajuda dadas às crianças de todo o Mundo".
É assim o mundo em que estamos. Perto disto, só a norte-americana Jody Williams, coordenadora da campanha internacional contra as minas antipessoais, que foi premiada, a título pessoal, em 1997. Foi um prémio merecido e importante. É até uma "pedrada no charco"; não porque Jody Williams não mereça o prémio, mas por todas as crianças mutiladas, em todas as zonas de guerra, pelos milhões de minas que se continuam a utilizar.
Com todo o seu mérito, Jody não é educadora, não há educadores que mereçam Prémios Nobel da Paz. Resta-lhes o que fizeram pelas crianças.

Maria Gabriel Cruz,
UTAD, Vila Real.


  
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Edição:

N.º 88
Ano 8, Fevereiro 2000

Autoria:

Maria Gabriel Cruz
Univ. de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Vila Real
Maria Gabriel Cruz
Univ. de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Vila Real

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