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Trier, Kubrick e Não Só...

A cólera de Lars Von Trier: As regras do Dogma não foram respeitadas. Foi a descoberta que fez Lars Von Trier no fim do mês de Agosto, ao examinar cuidadosamente, depois de algumas indicações, a versão de "Os Idiotas" que, depois da sua estreia em Cannes em 1998, foi distribuído em todo o mundo. A traição veio de Peter Aalbaek, seu sócio na produtora Zentrope que, sem avisar o realizador de "Breaking The Waves" tomou a decisão de aumentar artificialmente o nível de iluminação, coisa que é formalmente proibida pelo Dogma. No "Libération" de 26 de Agosto, Aalbaek explica-se: "quando vi o filme, era simplesmente impossível ver fosse o que fosse, com aquela luz tão fraca. A qualidade era horrível, o filme estava impossível de ser distribuído, apesar de já estar vendido para o mundo inteiro. (...) Tenho um princípio: quando se faz um filme de cinema, é para ele ser visto. Lars não está de acordo". No início Lars Von Trier anunciou a sua intenção de retirar todas as cópias do filme em circulação para as substituir pela versão do filme controlada por si, mas acabou por se render aos argumentos de Aalbaek devido à impossibilidade prática da operação. Os dois homens devem continuar a trabalhar em conjunto. O próximo filme de Lars Von Trier, "Dancer In The Dark" com Bjork e Catherine Deneuve nada terá a ver com o Dogma.

Kubrick de novo: Kubrick estava descontente com a imagem que a imprensa dava dele. Foi o que declarou a sua viúva Christiane Kubrick, a "The Times". Depois durante muito tempo de se ter divertido com os boatos a seu respeito, especialmente devido à sua recusa em dar entrevistas. Kubrick nos dois últimos anos da sua vida, suportava cada vez menos ler que tinha ficado louco, que disparava sobre os turistas que se arriscavam a aproximar-se da sua propriedade ou que conduzia um carro com carroçaria integral (sic). Segundo a viúva, ele não falava com os jornalistas, porque, simplesmente, considerava que os seus filmes eram mais interessantes que ele próprio. "Isso feria-o profundamente" assegura Christiane Kubrick. "Tinha uma mistura de cólera e incredulidade, mas não conseguia encontrar com quem falar para resolver o problema". Entretanto um dos projectos de Kubrick, que o cineasta tinha posto de lado para realizar "Eyes Wide Shut" pode-se tornar filme proximamente. Provisoriamente intitulado "Inteligência Artificial" e adoptado de um romance do escritor de ficção científica Brian Aldiss - que trabalhou com Kubrick no argumento de "2001" - o filme conta a história de um pequeno andróide que ignora que é um robot. Com o acordo da família de Kubrick, é Steven Spielberg que se encarregará do projecto.

O combate pela excepção cultural regressa: Em Janeiro de 2000 vai recomeçar um novo ciclo de negociações no quadro da OMC (Organização Mundial do Comércio) que decorrerá a seguir à reunião ministerial de Seattle deste mês. Nova batalha para os defensores da excepção cultural que esperam uma nova ofensiva americana acolitada desta vez pela Austrália e Nova Zelândia.
Principal receio: o regresso, sob uma forma encapuçada, do AMI (Acordo Multilateral do Investimento) que, antes de ser abandonado há um ano, previa a possibilidade das empresas procederem judicialmente os Estados cujas medidas as "penalizassem" em favor dos seus concorrentes. O que, entre outros malefícios, punha em causa as ajudas europeias de apoio ao Cinema. Enquanto as manifestações dos agricultores aumentam a confusão - pode-se apoiar as suas reivindicações sem obrigatoriamente julgar pertinente a comparação entre agricultura e cultura, entre a defesa de um sector económico nacional e a afirmação duma especificidade das obras artísticas - as vozes elevam-se para recusar o fim da excepção cultural. Catherine Trautmann (Ministra francesa da Cultura) na comunicação de Hourtin, insistiu na sua determinação em lutar por "uma exclusão do sector audiovisual da negociação". Viviane Reding, nova Comissária Europeia encarregada da Cultura e dos Medias, disse exactamente a mesma coisa na sua audição no Parlamento Europeu: "a Europa deve conservar toda a sua liberdade de acção em matéria de política audiovisual". Ao mesmo tempo, convidado pelo Festival de Deuville, Jack Valenti, Presidente da Motion Picture Association of America (MPAA), tinha evidentemente outro discurso: "tudo deve ser debatido sem excepção qualquer que seja o sector económico". Valenti também crê (ou quer) que no seio da União Europeia, que o conceito de excepção cultural é considerado ultrapassado.

Cahiers du Cinéma: O número de Novembro tem um valiosíssimo dossier sobre David Lynch e o seu último filme "The Straight Story". Para os admiradores e não só.

Paulo Teixeira de Sousa
Escola Secundária Especializada de Ensino Artístico de Soares dos Reis


  
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Edição:

N.º 86
Ano 8, Dezembro 1999

Autoria:

Paulo Teixeira de Sousa
Escola Secundária Especializada de Ensino Artístico de Soares dos Reis, Porto
Paulo Teixeira de Sousa
Escola Secundária Especializada de Ensino Artístico de Soares dos Reis, Porto

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